Uma silhueta humana, em queda livre, pairando exatamente sobre a imagem do Sol. A fotografia, batizada de “A queda de Ícaro” chamou atenção nas redes sociais por ser tão rara. Para conseguir o clique, o astrofotógrafo americano Andrew McCharty precisou de meses de cálculo, milímetros de precisão e uma janela de segundos entre o sucesso e o fracasso.

O registro foi feito no leito seco do lago Wilcox Playa, no Arizona, nos Estados Unidos. Para capturar um homem “caindo” no Sol, McCarthy precisou manter-se imóvel enquanto trens de carga sacudiam o deserto, ameaçando atrapalhar o projeto. Ao seu redor, curiosos assistiam em silêncio à tensão do set improvisado.

No alto, o amigo e paraquedista Gabriel C. Brown aguardava a contagem regressiva dentro de um pequeno avião. O plano era simples apenas na teoria: alinhar salto, altitude, posição do fotógrafo e trajetória do Sol num único ponto perfeito.

Depois de seis tentativas frustradas, restava apenas uma chance antes que o astro subisse demais. O fotógrafo não decepcionou e conseguiu encantar o mundo. 

A imagem que ecoa um mito

A fotografia mostra Brown como um ponto negro frágil — um Ícaro contemporâneo — recortado contra a superfície texturizada do Sol. O contraste entre a pequenez humana e a força avassaladora da estrela cria um impacto imediato, quase visceral.

Na mitologia grega, Ícaro era filho de Dédalo, um inventor brilhante que foi preso junto com o filho na ilha de Creta. Para fugirem, Dédalo construiu asas feitas de penas coladas com cera. Antes de partirem, ele pediu ao filho que não voasse baixo demais – para que a umidade do mar não pesasse as asas –, nem voasse alto demais –  para que o calor do Sol não derretesse a cera.

Mas, encantado com a sensação do voo, Ícaro ignorou o alerta e subiu cada vez mais. O Sol derreteu a cera, as asas se desfizeram e Ícaro caiu no mar, onde morreu.

Para McCarthy, o título da foto não remete ao desastre do personagem mitológico que voou alto demais, mas à eterna dança entre ambição e limite. É um lembrete visual de que a natureza não se curva: nós é que orbitamos ao redor dela.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

“É um testemunho da realização humana, mas também da arrogância humana”, narrou em entrevista à CNN.

compartilhe