
Ser médico é ministério. Saudades do dr. Chiquito
Meu pai não quis vir para BH. Continuou em Santa Luzia, servindo a todos até morrer. Ganhou uma rua com seu nome: Francisco Vianna Santos
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Fui a única da família que não conheci meu pai. Quando ele morreu, eu devia ter uns 2, 3 anos. Era a décima filha, mas como o primogênito se foi, fiquei sendo a nona. Não tenho a menor recordação dele, só por fotos. Em uma delas, com caçadores, era o mais alto de todos – e o mais magro.
Tenho seu diploma de medicina, que alguma alma bondosa me mandou. Ele se formou no Rio antes de voltar para Santa Luzia, onde clinicou até morrer.
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Conhecido como doutor Chiquito, nome também usado por minha mãe, foi o único médico da cidade e acudia a todos, dos males mais sérios à picada de mosquito.
Levou o juramento profissional até o fim, apesar de sofrer de uma doença que na época era mortal, o estreitamento de uma veia que ia até o coração. Nos dias atuais, ela é alargada com um dedo.
Como era o único médico também da região, dr. Chiquito não media distâncias. Atendia a pé, de carro e até no lombo de cavalo. Não existia hora para atendimento.
Os chamados aconteciam de madrugada, e lá ia ele, carregando sua maleta de exames no lombo do cavalo. Era o único meio possível de chegar a vários pacientes, que muitas vezes não tinham nada sério e poderiam esperar até o dia seguinte.
Não escutei de minha família muitos feitos dele. Porém, quando era nova e costumava ir a Santa Luzia, fui paparicada por pessoas a quem o dr. Chiquito atendera. Fazia até cirurgia, pois médico do interior deveria fazer tudo.
Meu pai não quis vir para a capital. Continuou em Santa Luzia, servindo a todos até morrer. Ganhou uma rua com seu nome: Francisco Vianna Santos.
Uma coisa ele me deixou, herança que levo comigo: o acerto na previsão de doenças, em mim e nos próximos. Tenho verdadeira mania de achar que deveria ter estudado medicina. Penso que daria uma boa médica.
Outra coisa que acredito ter herdado dele é não ter medo de doença.
Já me tratei até na Itália, com o doutor que participava de um congresso em São Paulo, sugerido por meu primo, o médico Márcio de Castro Silva. Fui com a cara e a coragem. Ninguém sabia nada de nada, mas acreditei que daria certo. Pode acreditar: deu mesmo.
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Diagnostiquei meu próprio câncer de intestino, fui ao médico para ele confirmar que era aquilo mesmo. Estava apenas começando e me curei.
É por isso que hoje presto homenagem a meu pai, que não conheci, mas mora comigo, sempre.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.