Anna Marina
Anna Marina
MEMÓRIAS

Ser médico é ministério. Saudades do dr. Chiquito

Meu pai não quis vir para BH. Continuou em Santa Luzia, servindo a todos até morrer. Ganhou uma rua com seu nome: Francisco Vianna Santos

Publicidade

Mais lidas

Fui a única da família que não conheci meu pai. Quando ele morreu, eu devia ter uns 2, 3 anos. Era a décima filha, mas como o primogênito se foi, fiquei sendo a nona. Não tenho a menor recordação dele, só por fotos. Em uma delas, com caçadores, era o mais alto de todos – e o mais magro.

Tenho seu diploma de medicina, que alguma alma bondosa me mandou. Ele se formou no Rio antes de voltar para Santa Luzia, onde clinicou até morrer.

Conhecido como doutor Chiquito, nome também usado por minha mãe, foi o único médico da cidade e acudia a todos, dos males mais sérios à picada de mosquito.

Levou o juramento profissional até o fim, apesar de sofrer de uma doença que na época era mortal, o estreitamento de uma veia que ia até o coração. Nos dias atuais, ela é alargada com um dedo.

Como era o único médico também da região, dr. Chiquito não media distâncias. Atendia a pé, de carro e até no lombo de cavalo. Não existia hora para atendimento.

Os chamados aconteciam de madrugada, e lá ia ele, carregando sua maleta de exames no lombo do cavalo. Era o único meio possível de chegar a vários pacientes, que muitas vezes não tinham nada sério e poderiam esperar até o dia seguinte.

Não escutei de minha família muitos feitos dele. Porém, quando era nova e costumava ir a Santa Luzia, fui paparicada por pessoas a quem o dr. Chiquito atendera. Fazia até cirurgia, pois médico do interior deveria fazer tudo.

Meu pai não quis vir para a capital. Continuou em Santa Luzia, servindo a todos até morrer. Ganhou uma rua com seu nome: Francisco Vianna Santos.

Uma coisa ele me deixou, herança que levo comigo: o acerto na previsão de doenças, em mim e nos próximos. Tenho verdadeira mania de achar que deveria ter estudado medicina. Penso que daria uma boa médica.

Outra coisa que acredito ter herdado dele é não ter medo de doença.

Já me tratei até na Itália, com o doutor que participava de um congresso em São Paulo, sugerido por meu primo, o médico Márcio de Castro Silva. Fui com a cara e a coragem. Ninguém sabia nada de nada, mas acreditei que daria certo. Pode acreditar: deu mesmo.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

Diagnostiquei meu próprio câncer de intestino, fui ao médico para ele confirmar que era aquilo mesmo. Estava apenas começando e me curei.

É por isso que hoje presto homenagem a meu pai, que não conheci, mas mora comigo, sempre.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

Tópicos relacionados:

dr-chiquito medicina pai santa-luzia saude

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay