Adolescentes dos anos 1980, 1990 bebiam, talvez por isso, os pais que foram adolescentes nessa época naturalizem o consumo de álcool pelos filhos, que são adolescentes hoje. Esses pais não entendem que, além de ilegal, o consumo de álcool por menores é um risco enorme para a saúde deles. O álcool prejudica o desenvolvimento cerebral na adolescência, afeta a memória e autocontrole, afeta a cognição, aumenta o risco de dependência e, a longo prazo, de problemas de saúde, como doenças mentais e hepáticas.


Uma pesquisa do Centro de Referência de Álcool e Drogas de Minas Gerais revelou que, entre adultos dependentes (24–39 anos), 60,8% teve o primeiro contato com substâncias ilícitas entre 11 e 17 anos, uma janela de vulnerabilidade para o cérebro, que ainda está em formação. “Quando há histórico familiar de transtornos mentais, bullying, baixa autoestima ou sensação de inadequação social, o risco de usar drogas aumenta significativamente”, explica Danielle Admoni, psiquiatra geral e psiquiatra da infância e adolescência, supervisora da residência de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).


O cérebro do adolescente ainda não está completamente formado. Nessa fase da vida, a região do córtex pré-frontal, responsável pelas funções de planejamento, tomada de decisões e regulação emocional ainda está em desenvolvimento. “Por isso, a chance de uma pessoa mais jovem fazer um uso abusivo de substâncias ou até criar uma dependência é muito maior do que na vida adulta”, diz Danielle. “O ideal é que até 18 anos ou mais o jovem não entre em contato com cigarro, álcool, maconha ou outras coisas que possam levar à dependência ou abuso. Não é uma questão moral, é física mesmo”, afirma a psiquiatra.

Quando o sofrimento psíquico ultrapassa os limites do esperado, com quadros de ansiedade, depressão, impulsividade ou traumas, ele pode se tornar terreno fértil para o uso precoce de substâncias como álcool ou maconha. Muitos jovens recorrem às substâncias como uma forma de automedicação emocional, tentando aliviar dores internas que muitas vezes não conseguem nomear e que podem passar despercebidas por pais, escolas e até serviços de saúde.


Pensando no contexto pós-pandemia, período em que a saúde mental de crianças e adolescentes tem se tornado cada vez mais relevante, com o aumento de casos de transtornos como ansiedade e depressão, o consumo de álcool tende a piorar uma situação que já não é boa. No Brasil, pesquisas recentes mostram que os registros de ansiedade nessa faixa etária já superam os de jovens e adultos, e que há maior probabilidade de adolescentes cometerem suicídio.


Um dos caminhos que os pais podem seguir quando se trata de prevenção entre adolescentes é construir uma relação de confiança com os filhos desde pequenos, com muito diálogo, respostas para as dúvidas das crianças e uma escuta respeitosa, sem julgamentos. Sem naturalizar, muito menos incentivar o consumo de bebidas alcoólicas. Nosso papel como pais e mães é colocar limites, mesmo se eles argumentarem que todo mundo está fazendo.


O consumo de álcool na juventude está associado a dificuldades escolares, problemas sociais, comportamentos de risco e um maior perigo de envolvimento em violência e acidentes. Portanto, é muito importante também que os pais fiquem atentos aos indicativos de alerta. Um deles é o adolescente nunca ter dinheiro. Se ele recebe mesada e está sempre pedindo mais, o que ele está fazendo com a quantia recebida?


Outro sinal vermelho é quando começam a sumir objetos de casa. “Os pais também precisam ficar de olho com quem os filhos andam, saber quem são os amigos deles”, diz Danielle.


E outro ponto é prestar atenção a alterações de comportamento, como, por exemplo, começar a dormir demais, perder prazos e horários, ir mal na escola ou passar por mudanças de relacionamento, como trocar de turma. Se esses sinais aparecerem, é hora de procurar um profissional de saúde mental.


A intervenção adequada para jovens que fazem uso problemático de substâncias deve ir além da abstinência. É preciso olhar para o que está por trás do comportamento e entender quais dores estão sendo anestesiadas. Geralmente, o tratamento envolve combinar acompanhamento psiquiátrico, terapia e acolhimento familiar, que é fundamental para interromper esse ciclo.

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