
A mercantilização da educação
Não é de hoje que a educação vem se tornando um negócio e essa mercantilização é justificada como se isso fosse melhorar a qualidade do ensino
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Outubro chegou e, se pensarmos bem, já estamos proóximos ao réveillon. As famílias já começam a se descabelar pensando na renovação de matrícula e nas mensalidades de 2026. Segundo levantamento realizado pela Explora Pesquisa, com 308 escolas particulares, as mensalidades vão subir, em média, 9,8% em 2026, o dobro da inflação prevista para 2025, que é de 4,81%, segundo o boletim Focus, do Banco Central.
O grande problema é que esse aumento acima da inflação vem acontecendo todo ano, ano após ano, e não acompanha a recomposição da maioria das famílias. Isso gera uma insegurança familiar e preocupação com os próximos anos. A mercantilização da educação não é recente, ela costuma ser justificada pelaqualidade do ensino, mas será que não estão priorizando os lucros em detrimento dos resultados educacionais, uma vez que esse aumento em torno de 10% vem sendo aplicado todo ano? Se a média de reajuste das categorias de trabalhadores da educação em Minas foi de 5,26%, e a inflação prevista é de 4,81% fica difícil entender um reajuste de 9,8% nas mensalidades escolares.
Não é de hoje que a educação vem se tornando um negócio e essa mercantilização é justificada como se isso fosse melhorar a qualidade do ensino, mas só para quem consegue pagar. Afinal, a renda familiar não cresce 10% ao ano. As mães que têm a pensão alimentícia dos filhos estabelecida, incluindo os custos com educação, não têm a pensão reajustada proporcionalmente ao aumento das mensalidades escolares.
O fato de o aumento anual não acompanhar a inflação, anualmente achata a capacidade de a classe média financiar os estudos de seus filhos. Provoca um achatamento e a dificuldade de financiamento da educação dos filhos na rede privada. Muitas famílias estão buscando escolas com mensalidades mais em conta, pedindo descontos. Outras, vendo o gasto com as mensalidades escolares não caber mais no orçamento; estão tirando os filhos de escolas particulares e matriculando na rede pública. A classe média também tem buscado escolas técnicas como alternativa, para manter a qualidade nos estudos. Porém, o acesso a elas vem se tornando quase um vestibular, e não há vagas para todos. Se a classe média tira seus filhos das escolas particulares e os leva para as escolas públicas, o investimento público em educação deveria aumentar.
Entre os 56 países participantes do exame PISA, o Brasil está na 44ª posição, atrás de países latino-americanos, como Uruguai, Colômbia e Peru, em questões que medem a criatividade de estudantes de 15 anos na resolução de problemas sociais e científicos. Alunos com maior status socioeconômico, de todos os países participantes, tiveram um desempenho melhor em pensamento criativo do que os menos favorecidos. A média de pontos do Brasil em matemática está abaixo da média da OCDE, mesmo se pegarmos só as escolas particulares. Nem os alunos mais ricos alcançaram a média da OCDE. Ou seja, não há uma melhora na qualidade, conforme o prometido pelas escolas como justificativa para o aumento das mensalidades.
A educação não deveria ser tratada como mercadoria que pode ser comprada e vendida, deveria ser um bem comum, com qualidade e acesso universal. Educação é uma ferramenta importante de diminuição da desigualdade social. Quando existe pressão por metas financeiras, todos saímos perdendo.
A lei determina que os colégios só podem alterar o valor das mensalidades uma vez por ano, e que devem apresentar planilhas de custos para justificar a correção, porém, não há limite legal para os reajustes. Mas talvez seja hora de pensar em uma regulamentação ou regulação de mercado e uma política para a valorização dos professores. É necessário estruturação de políticas públicas para garantir o acesso de todos à educação de qualidade, de preferência educação pública. Quem sabe uma lei que obrigue que pessoas que ocupem cargos políticos de terem filhos matriculados e estudando em escolas públicas? Já pensou em como seria o ensino se nossos congressistas tivessem obrigatoriamente seus filhos estudando em escolas públicas?
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.