Em janeiro de 2024, destaquei nesta coluna os Princípios da Economia da Longevidade, apresentados no Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum – WEF), que buscam enfrentar os desafios do envelhecimento da população e promover a resiliência financeira para prolongar a vida útil.

Hoje, volto a esse debate a partir de uma nova perspectiva: um relatório inédito do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), publicado em setembro de 2025, revela que a lacuna entre viver mais anos e viver esses anos com saúde plena pode se tornar um dos maiores desafios do século.

Um dos princípios discutidos no Fórum Mundial é o de garantir resiliência financeira. O IESS confirma a urgência: entre 2020 e 2030, o gasto médio por beneficiário de planos de saúde deve subir 42% (de R$ 2.200 para R$ 3.100), enquanto o PIB per capita avançará apenas 7,7%. Essa disparidade ameaça a sustentabilidade financeira do sistema e coloca em risco a capacidade das famílias de arcar com despesas de saúde na velhice.

Outro princípio é o de enfrentar desigualdades de longevidade, considerando fatores como gênero, raça e classe. O estudo revela que a expectativa de vida saudável pode variar até dez anos entre diferentes grupos sociais no Brasil. Não se trata apenas de renda, mas também de acesso desigual à saúde preventiva, à informação e a ambientes mais favoráveis ao envelhecimento.

O relatório ainda reforça o princípio de priorizar o envelhecimento saudável. Se nada mudar, a distância entre expectativa de vida e vida saudável pode chegar a 16 anos até 2035. Viveremos mais, mas em condições de maior fragilidade, dependência e altos custos de cuidado.

O recado do IESS é direto: o tempo de agir é agora. A lacuna entre longevidade e vida saudável não é só médica — é social, econômica e cultural. Para reduzir esse abismo, será preciso investir em medicina preventiva, reorganizar cidades para incentivar hábitos mais saudáveis e repensar modelos de remuneração em saúde, valorizando resultados em vez da quantidade de procedimentos. Também significa estimular a participação ativa das pessoas em todas as idades.

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O Brasil já está envelhecendo rápido demais para deixar esse debate para depois. Quanto antes unirmos ciência, políticas públicas e escolhas pessoais em torno da prevenção, maior será a chance de transformar anos extras de vida em anos plenos de saúde, autonomia e propósito.

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