Aproximação entre Lula e Trump tem uma pedra no caminho: Marco Rubio
Interlocutor de Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, que articularam o tarifaço de sobre as exportações brasileiras e as sanções às autoridades brasileiras, co
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A conversa telefônica entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump deu início a negociações que podem redefinir o eixo das relações entre Brasil e Estados Unidos. O telefonema, ocorrido após meses de tensão comercial e desconfiança política, foi “cordial, mas tenso”, segundo assessores brasileiros.
Há disposição para o diálogo, mas também uma consciência clara de que os dois líderes partem de posições ideológicas e estratégicas muito antagônicas. Será necessário um reposicionamento de ambos. De qualquer forma, foi passo decisivo para equacionar impasses acumulados desde o anúncio, por parte do governo norte-americano, de tarifas de até 50% sobre o aço e o alumínio brasileiros. Para Washington, a taxação foi uma resposta à política industrial brasileira, vista como protecionista. A Casa Branca, entretanto, sinalizou disposição para rever as medidas caso o Brasil ofereça contrapartidas em temas como regulação digital, biocombustíveis e investimentos em semicondutores.
A situação exige pragmatismo para administrar tensão política. No plano comercial, a retomada de acordos setoriais, a revisão das tarifas e a cooperação tecnológica em energia limpa são prioridades compartilhadas. No entanto, as divergências crescem em áreas como meio ambiente, governança global e direitos humanos. Trump, alinhado ao lobby petrolífero e às forças conservadoras, pressiona o Brasil por maior abertura ao investimento privado em exploração de gás e petróleo, enquanto Lula defende o fortalecimento da Petrobras e da transição energética verde.
Outro ponto sensível é geopolítico. Washington quer conter o avanço chinês e russo na América Latina e vê no Brasil uma peça-chave dessa contenção. Lula, por sua vez, insiste na autonomia diplomática e na manutenção do Brics como contrapeso às potências ocidentais. Essa diferença de perspectiva — entre a busca brasileira por multipolaridade e o unilateralismo trumpista — será um obstáculo constante nas tratativas. Tradicionalmente, a política externa brasileira é orientada pelos interesses prioritários do Brasil. Neste momento, a prioridade é normalizar a relação com a Casa Branca.
Um fator crítico dessas negociações é a escolha de Marco Rubio como principal interlocutor da Casa Branca. Não deixa de ser natural, por ser o secretário de Estado, cargo que equivale ao de chanceler no Brasil, mas acontece que Rubio é o principal interlocutor do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do influenciador Paulo Figueiredo, que articularam com ele o tarifaço de Trump sobre as exportações brasileiras e as sanções às autoridades brasileiras. Senador pela Flórida e atual secretário de Estado, Rubio é um dos republicanos mais experientes no campo da política externa e figura central no eixo anticomunista do Partido Republicano. De origem cubano-americana, construiu sua carreira com um discurso duro contra a esquerda na América Latina e uma retórica muito agressiva em relação a Cuba, Venezuela e Nicarágua. Rubio é pragmático no plano econômico, mas inflexível do ponto de vista ideológico.
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Defende o livre mercado, mas adota a doutrina da “pressão máxima” sobre governos que considera autoritários ou hostis aos Estados Unidos. Em seu novo papel, comandará a interlocução da Casa Branca com o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda). Rubio tentará impor ao Itamaraty condicionantes relativos à questão dos direitos humanos em Cuba e Venezuela, temas nos quais o governo Lula mantém uma posição crítica às sanções norte-americanas.
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Mediador global
A engenharia política dessa negociação é delicada. Lula busca preservar o espaço do Brasil como mediador global e ator autônomo; Trump quer reafirmar a supremacia americana e cooptar o Brasil para sua cruzada antiglobalista.
A presença de Rubio à frente das negociações sinaliza uma abertura para a negociação, porém, dentro de um marco ideológico claramente definido. Para o Brasil, o desafio será converter a reaproximação em ganhos concretos — na área comercial, energética e tecnológica — sem ceder soberania nem romper com o Sul Global.
A posição do Brasil na largada já está definida: pragmatismo econômico e coerência diplomática na política externa independente. A conversa entre Lula e Trump foi apenas o primeiro movimento de uma longa partida de xadrez.
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O próximo lance — talvez um encontro bilateral na Casa Branca — mostrará se prevalecerá a cooperação ou a imposição. Trump, afirmou, nesta segunda-feira (6/10), na rede própria, a Truth Social, que teve “muito boa” conversa telefônica com Lula.
Trump indicou que os dois devem se encontrar: “Esta manhã tive uma ótima ligação telefônica com o presidente Lula, do Brasil. Discutimos muitas coisas, mas o foco principal foi a economia e o comércio entre nossos dois países”, escreveu o norte-americano.
“Teremos novas discussões e nos encontraremos em um futuro não muito distante, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Gostei muito da conversa — nossos países farão grandes coisas juntos”, completou Trump.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.