
À mesa no apocalipse digital
São bunkers com 'glamour', que podem custar até US$ 9,6 milhões, dependendo do tamanho e da decoração
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“Sinto muito, Dave, eu não posso fazer isto”, disse o computador Hal na nave do filme "2001 – Uma Odisséia no Espaço", negando a abertura da porta ao protagonista após assumir o controle da nave e assassinar os demais passageiros. A tomada do poder por Hal faz parte da distopia sobreo futuro como em "Planeta dos Macacos", "Matrix" e "Blade Runner".
Robôs tomando o poder e exterminando os humanos deixou de ser um clichê de filmes de ficção científica. Como a vida imita a arte, este é o medo real de bilionários do Vale do Silício como Elon Musk, que afirmou que a IA pode se tornar um Exterminador do Futuro, explicando a razão da sua metade colonizar Marte e se mudar para lá.
Entre colecionar carros e pilotar aviões, estes executivos parecem precisar de uma adrenalina a mais. O pavor do momento é o do apocalipse digital que aconteceria quando a inteligência artificial saísse do controle.
Musk não está sozinho: Larry Page – cofundador do Google – e Peter Thiel do Pay Pal compraram terras na Nova Zelândia para fugir do apocalipse. Só não entendi porque a IA não os localizaria lá. O ex-chefe do Google, Eric Schmidt, afirmou que a IA desgovernada poderia resultar em “muitas, muitas, muitas, muitas pessoas feridas ou mortas”.
Sam Altman, CEO da OpenAI, que lançou o ChatGPT, contou que um de seus “hobbies” é se organizar para sobreviver em caso de catástrofes, referindo-se ao surgimento de um vírus sintético letal – The Resto of Us? –ou uma IA “desonesta, que nos ataca”. Altman revelou ter armas, ouro, iodeto de potássio, baterias, água, máscaras de gás, mas ressaltou que “nada disso vai ajudar se a inteligência artificial der errado”.
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Um jovem pesquisador de IA que trabalha num laboratório de segurança no Vale do Silício revelou à The New Yorker que doa um terço de sua renda para ONGs de proteção de IA e que constrói abrigos biológicos caseiros para a sua família. Segundo ele, o custo seria de 10 mil dólares, que inclui uma tenda pressurizada, filtros HEPA para a entrada de ar e três anos de comida.
Segundo a matéria da The New Yorker e do Estado de São Paulo sobre o assunto, o mercado de bunkers está super aquecido: a projeção é que cresça de US$ 137 milhões em 2024 para US$ 175 milhões em 2030.
“Eu vendi bastante para o pessoal da tecnologia”, disse Gary Lynch, da ARising S ao New York Post.
O mais engraçado vem agora: não se trata dos bunkers com parede de cimento cinza da época da segunda guerra. São bunkers com “glamour”, que podem custar até US$ 9,6 milhões, dependendo do tamanho e da decoração. O mais luxuoso deles tem o nome de “The Aristocrat”.
Os bilionários do Vale do Silício preferem os bunkers com mais de 610metros quadrados e com opções de lazer, como pistas de boliche, piscinas, banheiras de hidromassagem, entradas biométricas e... pole dance.
A empresa Vivos – o nome em português é sugestivo – os vende como “resorts Club Med em miniatura”.
O que seria servido nesses bunkers? Qual seria o menu do apocalipse digital?
Dei a aula Alô, Alô, Marciano imaginando o que eu serviria numa estação turística espacial, uma realidade num futuro próximo. Bebida azul teria que marcar presença. Preparei um consomé com o BlueCalm. Pílulas sempre foram associadas a comida de astronauta. Mas acho que comida raiz, caseira seria a preferência quando lá fora os robôs dominassem tudo. Peixes, frango e carnes assadas, gratinados, sopas, chocolate.
Para mim só não poderia faltar o vinho do Porto. Seja numa estação espacial ou no bunker do apocalipse digital.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.