O prêmio de melhor documentário pelo voto popular no Festival de Tribeca, em Nova York, em 2019, abriu as portas para “Gay Chorus Deep South”, longa de estreia de David Charles Rodrigues. Como santo de casa demora a fazer milagre, somente hoje, seis anos mais tarde, o filme será exibido em Belo Horizonte, cidade onde o realizador se formou.
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“É uma mistura de alegria, orgulho e nervosismo. Há muito tempo não sentia essa ansiedade. Quando vi o anúncio da mostra [no Cine Humberto Mauro], parecia que eu ia apresentar um projeto na PUC-Minas para meus colegas”, diz ele, que se formou em Comunicação Social em 2001. A mostra vai exibir também seu novo longa, “S/He is still her/e – O documentário oficial de Genesis P-Orridge” (2024), às 17h. Após as sessões, ele vai conversar com o público.
Há cerca de duas décadas, David deixou BH, onde viveu dos 8 aos 24 anos, para morar nos Estados Unidos, onde nasceu. Filho de pai brasileiro e mãe americana, é radicado em Los Angeles. Ele dirigiu projetos para o streaming, o mais popular deles a série “Neymar: O caos perfeito” (2022), da Netflix.
Em outubro de 2017, David acompanhou uma excursão de 300 pessoas, integrantes de dois corais gays de São Francisco. Seis ônibus deixaram a Califórnia rumo ao Sul profundo dos EUA: Mississippi, Alabama, Tennessee, Carolinas do Norte e do Sul, os estados com o maior número de leis discriminatórias contra a comunidade LGBTQIA+. “Gay Chorus Deep South” é o resultado desta incursão.
Também lançado no Tribeca, “S/He is still her/e – O documentário oficial de Genesis P-Orridge” apresenta uma história mais radical, pois acompanha a artista que “causou choques estéticos e atropelou tabus culturais com dedicação impressionante e em várias disciplinas”.
Testamento
Tais palavras vêm do obituário que o “Guardian” dedicou a Genesis P-Orridge. Morta em 14 de março de 2020, aos 70 anos, de leucemia, ela deixou expresso em seu testamento, que suas duas filhas, Genesse e Caresse, deveriam colaborar com o documentário que David havia iniciado um ano antes. “A maior parte do material do filme nunca foi vista, veio do próprio HD da Genesis. Então ficou um filme superíntimo”, conta David.
Cantora, compositora, poeta, artista performática e ocultista são algumas das referências da britânica Genesis P-Orridge. É conhecida também como uma das primeiras artistas a transgredir o próprio gênero sexual.
Fã do trabalho havia muito, David entra na história em 2018, depois de ler no “New York Times” que Genesis estava com câncer em estágio avançado. Por meio de um amigo comum, fez contato. Poucas semanas depois, ele foi ao encontro dela. “Seria uma reunião de uma hora que durou 12.” No final, decidiram que David faria um filme, não biográfico, mas sobre o conhecimento que Genesis adquiriu ao longo da vida para “passar para as novas gerações”.
Ao longo de um ano, até três semanas antes da morte dela, David e Genesis se encontram para seis longas entrevistas. “Foi uma pessoa que passou a vida inteira sem se comprometer. Viveu e morreu pela criatividade, para mim é como um Forrest Gump do mundo underground”, diz o diretor.
Ao radicar-se nos EUA, na década de 1990, Genesis casou-se com Lady Jaye e com ela iniciou o Projeto Pandroginia. O casal fez modificações corporais para se tornar mais parecido entre si, desfazendo as fronteiras entre masculino e feminino. “Na teoria deles, eles se tornariam uma terceira pessoa”, comenta David. O projeto seguiu até 2006, com a morte de Lady Jaye.
MOSTRA DAVID CHARLES RODRIGUES
Neste sábado (29/3), no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Às 15h, “Gay Chorus Deep South”; às 17h, “S/He is still her/e – O documentário oficial de Genesis P-Orridge”. O diretor conversa com o público a partir das 18h40. Entrada franca. Ingressos devem ser retirados meia hora antes de cada sessão.