Autoestima feminina é tema de ‘Too much’, nova série da autora de ‘Girls’
Jessica, de 30 anos, recomeça a vida em Londres, buscando se redescobrir após viver decepções e amor tóxico em Nova York
compartilhe
Siga no“Too much”, a nova série de Lena Dunham em cartaz na Netflix, vem sendo criticada por não ser “suficiente” – trocadilho com o título (“Demais”, em português). Comentários negativos são pautados pela comparação com “Girls” (HBO), criada por Dunham em 2012.
O antigo seriado acompanha quatro amigas de 20 anos em Nova York: Hannah (Lena Dunham), Marnie (Allison Williams), Jessa (Jemima Kirke) e Shoshanna (Zosia Mamet). Com seis temporadas até 2017, foi aclamado por retratar de forma realista a juventude feminina.
Leia Mais
Agora, a narrativa é outra. Comparar séries com premissas diferentes coloca “Too much” em uma caixinha à qual não pertence. A trama se desenrola em Londres e acompanha a única protagonista: Jessica (Megan Stalter), de 30 anos, idade que a aproxima da autora Lena Dunham, de 39.
Jess teve um namoro nada saudável por sete anos, que acabou de repente. O ex Zev (Michael Zegen), desinteressado de compromissos, logo seguiu em frente e ficou noivo da modelo Wendy Jones (Emily Ratajkowski).
Abalada, Jess decide recomeçar em Londres. Lá, inicia um romance com o cantor indie britânico Felix (Will Sharpe). Porém, o passado ronda a moça, que mantém conta privada no Instagram e publica vídeos diários endereçados à noiva do ex.
A comédia romântica combina elementos ficcionais e autobiográficos de Lena Dunham. Enquanto gravava “Girls”, ela namorou o produtor Jack Antonoff, conhecido por trabalhos com Taylor Swift, Sabrina Carpenter e Lana Del Rey. Quando terminaram, ele se envolveu com a modelo alemã Carlotta Kohl. Dunham se mudou para Londres.
Apesar das coincidências, a autora afirmou à Variety que Zev é a mistura de ex-namorados dela e das amigas.
O cantor Felix, por outro lado, remete ao marido de Dunham, o coautor da série Luis Felber, que ela conheceu na Inglaterra. O momento em que Felix fala para Jess que ela é “demais”, como “o exato suficiente e um pouco mais”, repete as palavras de Felber à mulher que inspiraram o título da série.
No novo país, Jessica tem dificuldade de abandonar o passado e se adequar à nova cultura. Não consegue fazer amizades no trabalho e muito menos se entrosar com os conhecidos de Felix.
O figurino, assinado por Arielle Cooper-Lethem, representa com excelência a figura forasteira de Jess. No inverno cinzento de Londres, a maioria se veste com cores sóbrias, moletons e peças lisas. A protagonista investe em babados, laços, meias-calças coloridas e mistura de estampas.
Entre os 10 episódios, há três especiais. O terceiro retrata a única noite que Felix e Jess compartilham. Cenas das horas passando no relógio se misturam a momentos de intimidade do casal, entre briga, sexo, entretenimento e conversas sobre o passado.
O episódio cinco, o melhor da série, volta aos tempos de Jess com Zev. É possível entender como ele minava a personalidade dela, criticando-a do alto de sua medíocre “superioridade”. No sétimo, a série mergulha na infância de Felix e sua dificuldade de lidar com emoções.
Desperdício
Na segunda metade da série, o ritmo desacelera. O excesso de personagens secundários não contribui para a narrativa. Atores conhecidos, como Andrew Scott, Kit Harington, Naomi Watts e Rhea Perlman, são desperdiçados ali.
Ainda assim, “Too much” se sustenta. Pelo título, é possível esperar uma sucessão caótica de atitudes da protagonista – de fato, elas existem –, mas isso é fruto da autopercepção equivocada de Jess, causada pelas críticas de Zev.
A minissérie não tenta resolver todos os traumas da protagonista, mas procura guiá-la para compreender qual parte do rótulo de “exagerada” realmente lhe pertence.
“TOO MUCH”
A minissérie, com 10 episódios, está disponível na Netflix.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria