Musa de Humberto Mauro (1897-1983), a atriz e fotógrafa Eva Nil (1909-1990) simboliza de forma contundente o apagamento da presença feminina no cinema brasileiro. Natural do Cairo, no Egito, ela chegou ao Brasil ainda criança e se radicou em Cataguases, onde trabalhou ao lado do pai, Pietro Camello, e de Humberto Mauro em filmes amadores.

Eva protagonizou o curta “Valadião, o Cratera” (1926) e “Na primavera da vida” (1926), mas depois rompeu com o cineasta mineiro para fundar sua própria produtora em parceria com Pietro Camello. Mostrou-se à frente de seu tempo ao realizar “Senhorita agora mesmo”, um faroeste bangue-bangue com um diferencial marcante: a personagem central, dona de terras e sedenta por aventuras, que empunha armas e enfrenta bandidos é uma mulher.

Eva Nil é um caso excepcional de protagonismo feminino em uma indústria historicamente dominada por homens, e foi justamente essa presença marcante que despertou o interesse da cineasta Elza Cataldo, que exibe atualmente em festivais seu mais recente documentário, “O silêncio de Eva”.

O longa será o fio condutor do bate-papo “Dirigir, produzir cinema: As aventuras de duas mulheres intrépidas”, dentro do projeto Sábados Feministas, que será realizado excepcionalmente nesta quinta-feira (3/7), na Academia Mineira de Letras. A produtora Elisa Tolomelli também participa da conversa, que discutirá a presença feminina no cinema nacional.

“Eva Nil, depois de fazer alguns filmes com o pai e integrar o elenco de ‘Barro humano’ (dirigido pelo cineasta carioca Adhemar Gonzaga), acabou se afastando do cinema. Em carta ao Adhemar, revela algumas insatisfações que ainda hoje fazem parte da realidade de muitas mulheres no audiovisual brasileiro”, conta Elza.

 
 
 
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As frustrações de Eva estavam ligadas à distribuição dos filmes, à dificuldade de obter aprimoramento técnico e à formação de público.

“Hoje, a gente batalha muito para produzir o filme. Depois de pronto, começa uma nova luta para distribuir nas salas de cinema e, por fim, colocá-lo nas plataformas. Não acaba nunca”, relata a diretora.

Duas frentes

Elza ressalta que, ao mesmo tempo em que promove “O silêncio de Eva”, participa de reuniões para viabilizar o lançamento de “As órfãs da rainha” (2023) no streaming. O longa deve entrar no catálogo do Minasplay, plataforma da Empresa Mineira de Comunicação (EMC).

Em sua filmografia, Elza Cataldo vem realizando um resgsate histórico por meio de um olhar sensível e acolhedor. Em “As órfãs da rainha”, ela conta a história de meninas órfãs portuguesas do século 18, enviadas ao Brasil pela Coroa para casar com colonos e “povoar” o local.

Já em “O Levante da Bela Cruz”, a diretora resgata, em formato documentário, a revolta de pessoas escravizadas das fazendas Campo Alegre e Bela Cruz, na região de Carrancas, ocorrida em 1833.

Seu próximo filme, “Maria: A rainha louca”, pretende recontar a trajetória de D. Maria I a partir de uma perspectiva humanizada, baseada na historiografia feminina sobre a soberana portuguesa.

“É isso que acredito ser o olhar feminino. Um olhar mais sensível e acolhedor, que não se limita à mulher – homens também podem ter o olhar feminino ao contar suas histórias. E quando há essa perspectiva, o ambiente de trabalho muda, torna-se mais acolhedor, sem gritarias e sem assédios”, conclui Elza.

SÁBADOS FEMINISTAS

Bate-papo com Elza Cataldo e Elisa Tolomelli. Excepcionalmente nesta quinta-feira (3/7), às 19h, na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Lourdes). Entrada franca.

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