Ocultar e revelar imagens é o fundamento central do cinema. Essa dinâmica atinge o ápice em filmes nos quais a descoberta faz parte da trama e o espectador é seduzido ao ser despistado. Esta é a tônica da mostra “Nos rastros da imagem: filmes de detetive”, em cartaz até o dia 24 de julho, no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes.
A programação traz clássicos do subgênero policial, como “Um corpo que cai” (1958), de Alfred Hitchcock, “O silêncio dos inocentes” (1991), de Jonathan Demme, e “Seven – Os sete crimes capitais” (1995), de David Fincher.
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Embora a maioria dos filmes seja norte-americana, títulos de outros países ganham destaque, como o japonês “A cura” (1997), de Kiyoshi Kurosawa, e o húngaro “O crepúsculo” (1990), de György Fehér.
O conjunto permite ao público perceber como diretores dos chamados filmes de detetive se apropriam da linguagem cinematográfica e a potencializam em favor da narrativa.
Hitchcock, por exemplo, manipula a informação revelada só para os personagens ou apenas ao público, criando um jogo de suspense.
Em 'Um tiro na noite', com John Travolta, o som registrado em uma fita é o protagonista
Por outro lado, em “Um tiro na noite” (1981), de Brian de Palma, o som ganha destaque. Na trama, Jack Terry (John Travolta) é um editor de som que se surpreende ao ouvir um disparo gravado em uma de suas fitas. Com a prova de que um acidente de carro, na verdade, foi assassinato, ele passa a correr risco de vida.
Vitor Miranda, curador da mostra, afirma que Brian de Palma “trabalha com a atmosfera sensorial da investigação” em “Um tiro na noite”. Ele destaca a peculiaridade deste subgênero do cinema. “Procuramos obras que, através da linguagem cinematográfica, conseguem potencializar o thriller e a investigação que acontece na narrativa. Cada cineasta usa a criatividade para escolher o que mostrar e o que não mostrar”, comenta Vitor.
A programação tem início nesta terça-feira (8/7), às 16h, com “A ceia dos acusados” (1934), de W.S Van Dyke. O filme acompanha um detetive aposentado que volta à ativa para investigar o desaparecimento de um inventor. Durante as apurações, ele decide marcar jantar com todos os suspeitos.
Às 18h, será a vez de “O falcão maltês – Relíquia macabra” (1941), dirigido por John Huston e protagonizado por Humphrey Bogart, presença recorrente nos filmes selecionados. Bogart interpreta Sam Spade, detetive contratado para encontrar uma estatueta do século 16. Ele é cínico em relação à importância da peça e ao perigo da missão, até começar a ser afetado pelo objeto.
Roger Rabbit e Pantera cor-de-rosa
A trama de investigação tem várias facetas, não se esgota no drama. Entre elas estão a biografia, como “A vida íntima de Sherlock Holmes” (1970), de Billy Wilder, e a comédia, representada pelos títulos “Uma cilada para Roger Rabbit” (1988), de Robert Zemeckis, e “A pantera cor-de-rosa” (1963), de Blake Edwards.
Até a ficção científica ganha espaço entre os filmes de detetive. É o caso de “Blade runner – O caçador de androides” (1982), de Ridley Scott, “Estranhos prazeres” (1995), de Kathryn Bigelow, e “Alphaville” (1965), de Jean-Luc Godard. Esse último, dirigido pelo representante da nouvelle vague, reformula filmes de detetive americanos, especialmente os do gênero noir, e será exibido na terça (15/7), às 19h30, em sessão comentada pelo pesquisador Pedro Rena.
Filme de detetive e ficção científica se encontraram em 'Blade runner: O caçador de androides'
A programação reúne títulos lançados entre as décadas de 1920 e 1990, acompanhando a evolução dos filmes de detetive por mais de 70 anos. É uma oportunidade para observar como o avanço das tecnologias impactou essas obras.
O título mais antigo da mostra, “Sherlock Jr.” (1924), de Buster Keaton, é filme mudo. A partir de 1970, com a nova Hollywood, tecnologias passaram a ser incorporadas ao roteiro.
PROGRAMAÇÃO
NESTA TERÇA (8/7)
16h: “A ceia dos acusados” (1934), de W.S. Van Dyke
18h: “O falcão maltês – Relíquia macabra” (1941), de John Huston
20h: “Até a vista, querida” (1944), de Edward Dmytryk
QUARTA (9/7)
15h: “A morte num beijo” (1955), de Robert Aldrich
17h30: “Um corpo que cai” (1958), de Alfred Hitchcock
20h: “Um tiro na noite” (1981), de Brian De Palma
QUINTA (10/7)
15h: “O perigoso adeus” (1973), de Robert Altman
17h15: “Chinatown” (1974), de Roman Polanski
20h: “Fuga ao passado” (1947), de Jacques Tourneur
SEXTA (11/7)
19h: “Estranhos prazeres” (1995), de Kathryn Bigelow
SÁBADO (12/7)
14h30: “Fargo: uma comédia de erros” (1996), de Joel Coen e Ethan Coen
16h30: “Um lance no escuro” (1975), de Arthur Penn
18h30: “Shaft” (1971), de Gordon Parks
20h30: “Blade runner – O caçador de androides” (1982), de Ridley Scott
DOMINGO (13/7)
18h: “O crepúsculo” (1990), de György Fehér
20h: “A cura” (1997), de Kiyoshi Kurosawa
“Nos rastros da imagem: filmes de detetive”
Em cartaz até 24 de julho, no Cine Humberto Mauro (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada franca, com ingressos na plataforma Eventim e na bilheteria. Programação completa no site da Fundação Clóvis Salgado.
*Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria