Do interior do Centro de Referência das Juventudes, na Praça da Estação, o coreógrafo Filipe Bruschi via, através dos painéis de vidro da fachada, o vaivém apressado das pessoas na rua. Trabalhando com o Ballet Jovem Minas Gerais, ele precisava pensar numa coreografia inédita para o grupo, que usava o local para ensaiar.
“Toda aquela movimentação na rua forma a massa uniforme de gente. No entanto, cada pessoa desta massa tem sua individualidade, suas dores, alegrias e descobertas”, ressalta Filipe, ao explicar a origem de “Itinerário”, coreografia que o Ballet Jovem Minas Gerais apresenta sexta e sábado (18 e 19/7), no Centro Cultural Unimed-BH Minas.
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Além da obra inédita, o programa conta com as remontagens de “Predicativo do sujeito”, de Alex Soares, e “Ritos”, de Alessandro Pereira. A primeira questiona a ideia de macho alfa, enquanto a outra reflete sobre os gestos cotidianos de fé.
“Itinerário”, ao retratar a rotina acelerada da vida urbana, segue o compasso simbólico dos dias. Começa com movimentos lentos e arrastados, típicos das segundas-feiras, evolui em cadência e densidade, refletindo o vigor emocional que se acelera à medida que o final de semana se aproxima.
Todos os passos dos 20 bailarinos foram inspirados no que Filipe viu através dos vidros do Centro de Referência, na Praça da Estação. “Aquela região tem gente de tudo quanto é tipo, bastava observar para pegar as referências”, conta.
“Teve um dia em que vi dois moradores de rua: um estava seguindo e imitando o outro. Parecia mímico francês, era até engraçado. Obviamente, isso entrou na coreografia. Em um dos movimentos, os bailarinos seguem um ao outro”, acrescenta.
Modernidade líquida
Embora amparada na ideia de “modernidade líquida” do filósofo Zygmunt Bauman – na qual os vínculos humanos nas sociedades se tornam mais frágeis e os indivíduos são “um entre muitos” –, “Itinerário” não se limita a esse conceito. Ele está mais para pano de fundo, pois, em meio ao caos urbano retratado pelos corpos em cena, desenvolve-se uma história individual. Nela, dois bailarinos representam o passado e o futuro do mesmo indivíduo, que embarca numa jornada de autodescoberta.
“Há cenas pensadas para provocar identificação no público, porque, muitas vezes, as pessoas que vão ao teatro se interessam mais pela sensação que terão ao assistir ao espetáculo do que pelas questões abordadas”, ressalta o coreógrafo.
É nesse território sensível que a trilha se impõe. Composta a partir de linhas de cello, ela se insinua aos poucos, mas logo ganha densidade quando novos instrumentos se somam à paisagem sonora. A música não apenas acompanha a cena, mas a amplifica, conduzindo o espectador por dentro da experiência coreográfica.
BALLET JOVEM MINAS GERAIS
Coreografias “Itinerário”, “Predicativo do sujeito” e “Ritos”. Sexta e sábado (18 e 19/7), às 20h30, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia), à venda na bilheteria e na plataforma Sympla. Informações: (31) 3516-1360.