Emanuelle Araújo não atendeu o telefone no horário combinado naquele fim tarde de sexta-feira. Insisti mais uma vez, afinal aquele era um papo que me interessava muito. Nesta sexta-feira (18/7), a atriz faz sua estreia em Belo Horizonte no musical “Clara Nunes – A tal guerreira”, que cumpriu temporada de sucesso em São Paulo com Vanessa da Mata protagonizando a montagem dirigida por Jorge Farjalla.
Outra tentativa – e nada. Segundos depois, o celular toca. Uma voz simpática e animadíssima se desculpa, justificando o atraso por causa dos últimos acertos nos ensaios.
“Imagine a minha alegria de estrear onde Clara viveu!. Já tinha visto a beleza desse musical com a Vanessa (da Mata), montagem linda, musical absolutamente brasileiro, que reverencia uma das maiores artistas do nosso Brasil”, afirma a atriz e cantora baiana.
Emanuelle canta (foi vocalista da Banda Eva após a saída de Ivete Sangalo, em 1999), dança (fez bonito como Velma Kelly, personagem que no longa “Chicago”, de Rob Marshall, foi de Catherine Zeta-Jones) e representa. No cinema, fez “Meu sangue ferve por você” (2024), de Paulo Machline. Na TV, destacou-se em “Órfãos da terra” (2019), novela de Gustavo Fernandez.
Leia Mais
Legado
Não há como ser cantor ou cantora no Brasil sem passar por Clara Nunes, acredita. “Ela tem um legado, uma obra na nossa música brasileira eterna. Falo para além dos sambas, todos emblemáticos”, afirma a soteropolitana, fã da mineira desde criança.
“Imagina estrear em Belo Horizonte. Ela é de Caetanópolis (cidade a 100 quilômetros da capital mineira), começou a carreira nos bailes, nas rádios, ganhou concursos. Minas foi o grande trampolim até ela ampliar sua carreira no Rio de Janeiro. Clara foi muito feliz em Belo Horizonte”, afirma.
Por admirar tanto a mineira, que morreu aos 41 anos em decorrência de um choque anafilático, Emanuelle demorou a dizer sim ao convite do diretor Jorge Farjalla, que assina o roteiro em parceria com André Magalhães.
As atrizes Emanuelle Araújo e Carol Costa como Clara Nunes e Bibi Ferreira, que fizeram vários trabalhos juntas
O espetáculo estreou em agosto do ano passado, passou por São Paulo e Fortaleza. Por problemas com de agenda, Vanessa da Mata não pôde prosseguir.
“Fiquei tão emocionada com o convite que pedi um tempo para pensar. Precisava ver se conseguiria, emocionalmente. Logo depois, vi que de fato era para ser. O destino cria caminhos para as coisas que precisam acontecer”, afirma Emanuelle.
Foram dias intensos de ensaios, durante um mês e meio. Tempo curtíssimo para produções desse tipo. “Mas foi um mês de muita comunhão com o elenco, que conhece bastante a peça e está me recebendo deliciosamente.”
Ela define o musical como “uma grande celebração, uma grande festa” para Clara Nunes. “Estou me deixando ser levada por essa emoção, por essa alegria que o elenco já tem. Pela Clara, tudo para ela. Chegar aos berços da Clara, celebrar os locais onde ela nasceu, se criou e se projetou, encontrar com fãs e familiares, tudo isso será uma grande emoção.”
Com sua música, Clara Nunes defendeu a cultura afro-brasileira cantando os orixás, vestindo trajes brancos e abraçando a umbanda
Emanuelle não diz o que muda em relação à interpretação de Vanessa da Matta. “Eu não sei responder a essa pergunta não. Você vá assistir e me conte depois o que achou”, diz, bem-humorada, carregando no delicioso sotaque baiano.
“O que posso dizer é que estou trazendo todo o meu amor a Clara, todo meu amor ao teatro. Meu trabalho de atriz nasceu no teatro”, afirma.
Para ela, as cantoras brasileiras trazem um pouco da "tal guerreira".
“A força imagética e musical dela é tão grande que acabamos tendo muito de Clara na brasilidade de quem defende a música popular brasileira. Isso existe em mim como cantora”, comenta. “Estou buscando colocar toda a minha arte, todo o meu amor neste espetáculo.”
No meio de nosso bate-papo, Emanuelle comentou que a conquista do papel pode ter sido mesmo coisa do destino. Além de interpretar a artista que admira, ela volta a contracenar com Carol Costa, que interpreta Bibi Ferreira no musical e foi sua colega na montagem brasileira de “Chicago”.
“Éramos Velma e Roxy, agora somos Clara e Bibi”, diz, orgulhosa de Carol, que recebeu o Prêmio Destaque Imprensa Digital na categoria Atriz Coadjuvante.
“Reencontrar Carol é uma alegria. Tivemos sinergia muito forte no 'Chicago'. Estamos juntas novamente agora, em registro totalmente diferente. Em alguns espetáculos, a Bibi contribuiu muito para a presença cênica da Clara, e a Clara para a vida da Bibi, esta mulher cheia de energia, alegria e força espiritual. Elas trocaram muita na vida terrena. Carol e eu estamos buscando trazer isso para a peça”, revela.
“CLARA NUNES – A TAL GUERREIRA”
Direção de Jorge Farjalla, que assina o texto com André Magalhães. Com Emanuelle Araújo, Carol Costa e elenco. Nesta sexta-feira (18/7), às 21h; sábado (19/7), às 16h30 e 21h; domingo (20/7), às 20h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Inteira: R$ 300 (plateia 1) e R$ 260 (plateia 2), com meia-entrada na forma da lei. Vendas na plataforma Eventim.
OUTRAS ATRAÇÕES
“REITORTO 2”
A banda Reitorto, influenciada por Deftones, Nirvana e Radiohead, faz show nesta sexta-feira (18/7), às 20h, no Teatro de Bolso Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia), para lançar o álbum autoral “Reitorto 2”. Os singles “Um instante” e “Enquanto viver” são parte do novo repertório. Ingressos custam R$ 60 e R$ 30, à venda na plataforma Sympla.
QUARTA DE IMPROVISOS NO SÁBADO
O projeto Quarta de Improvisos (QI), idealizado por Matthias Koole e Henrique Iwao, da Seminal Records, foi criado para estimular a música experimental em BH. Em sua 18ª temporada, ele agora tem apresentações aos sábados, no Centro Cultural Padre Eustáquio (Rua Jacutinga 550, Padre Eustáquio), com entrada franca. Amanhã (19/7), às 16h, vão se apresentar Trio QI, Yuri Vellasco e Marta Neves.
CHULA E CAPOEIRA
O Projeto Chula e a Capoeira – Barreiro é atração de hoje a domingo (18 a 20/7) no espaço Quinta Arte, que fica na frente do campo do Comercial Esporte Clube (Av. Sinfrônio Brochado, 1.053, Barreiro). O evento promove vivências com foco na capoeira Angola e no samba chula. Hoje, a abertura vai das 18h às 22h. Sábado, as atividades começam mais cedo, às 8h, e prosseguem até o final da noite, com festa às 21h. Domingo, a agenda vai das 8h às 18h. Entrada franca.