Em 2020, Vera Fischer se viu fora da Globo. Uma das maiores estrelas do período áureo das telenovelas não teve seu contrato renovado depois de 45 anos. A decisão foi comunicada em março do fatídico ano, justamente o mês em que o mundo parou em decorrência da pandemia. Fechada em casa, sem trabalho em vista, comprou, por sugestão do filho, Gabriel, um celular – até então só se comunicava via telefone fixo.
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Vera ri muito ao contar essa história. “Uso bem a rede, eu que faço as fotos, posto. Mas dá trabalho”, diz ela, que também a partir da crise sanitária se descobriu com um novo público. Jovens de 20, 25 anos, que por conta de novelas antigas no streaming – em especial “Laços de família” (2000) –, passaram a acompanhá-la. Muitos criaram fã-clubes.
Hoje, sua plateia é de novos e velhos fãs, que há cinco meses riem de Vera, ou melhor, de Susan White, uma atriz que fez tremendo sucesso na década de 1990 e agora, na casa dos 70, está esquecida. É ela a estrela de “O casal mais sexy da América”, espetáculo que será apresentado nestas quinta (31/7) e sexta (1/8) em Belo Horizonte, no Sesc Palladium.
Reencontro
A atriz divide a cena com Leonardo Franco. O texto do roteirista e dramaturgo americano Ken Levine é inédito no Brasil – nos EUA, só teve uma montagem, em Miami. A versão brasileira e a direção são de Tadeu Aguiar. Na história, dois ex-companheiros de cena, Susan White e Robert McAllister, se reencontram depois de vários anos.
Muito tempo atrás, eles estrearam uma série que foi um sucesso tremendo da TV. Em dado momento, Susan abandonou o projeto, deixando Robert deveras magoado. Nos dias atuais, os dois se encontram em um hotel no interior, quando se preparam para ir ao enterro de um profissional que trabalhou na série. A partir das lembranças, a narrativa mistura doçura com os áureos tempos e amargura com a falta de perspectiva profissional.
Há ainda um relacionamento amoroso mal resolvido, bem como a participação do mensageiro do hotel (papel de Vitor Thiré), um jovem que só falta chamá-los de avós. “Logo que eu li a peça, vi como era perfeita para mim e para o Leonardo, pois é isso que está acontecendo. Assim como a gente, outros atores, depois da pandemia, têm sofrido com etarismo, sendo deixados de lado. Estamos fazendo uma campanha gigantesca para trazer os atores mais velhos para o teatro, o cinema e a TV de novo”, conta.
O texto trata também de igualdade de gênero, assédio, ética profissional. Ainda que tenha um sentido agridoce, leva o público a rir – “Tem uma cena de cama hilária” – e traz um sentido de esperança. “A gente mostra que pode existir felicidade para quem tem mais de 60.” Nada disso, vale dizer, é novidade para Vera, que está se reinventando nos últimos cinco anos.
Outros projetos
“Nunca parei de trabalhar. Como a TV Globo ficou só com atores mais jovens, fui fazer outros programas. Fiz uma websérie com a Cléo (“Reflexos”), um filme para a Netflix (“Um Natal cheio de graça”)”. Também alguns já rodados, mas ainda não lançados, como o projeto “Eternas”, de Carla Camurati, sobre grandes mulheres brasileiras, e o longa “Velhos bandidos”, de Cláudio Torres, estrelado por Fernanda Montenegro (mãe do diretor).
“É uma história de pessoas mais velhas que resolvem fazer um roubo. Faço uma cientista maluca que inventa uma máquina que transforma as coisas para que eles consigam roubar melhor. É um filme engraçado, maluco, mudei muito no meu tipo físico”, diz ela.
Vera está viajando desde o início do ano com “O casal mais sexy da América”. A montagem tem feito uma trajetória diferente do padrão. Rodou primeiro pelo Sul do país – Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, tanto nas capitais quanto em cidades do interior – e só neste semestre vai estrear em São Paulo.
É o segundo espetáculo consecutivo de Tadeu Aguiar que a atriz protagoniza. Depois da crise sanitária, Vera embarcou no teatro. Apresentou durante dois anos e meio a comédia “Quando eu for mãe quero amar desse jeito”, texto de Eduardo Bakr. “O palco é o lugar onde me sinto melhor na vida. Eu me jogo, mas não se pode brincar, pois, se errou, não pode parar”, diz ela, fazendo uma comparação com a vida na televisão.
Que, aliás, é um meio onde Vera quer voltar a atuar. “Eu gostaria mesmo é de fazer uma série no Globoplay. Mas se me chamarem para fazer novela, eu faço”, afirma.
“O CASAL MAIS SEXY DA AMÉRICA”
Texto: Ken Levine. Direção: Tadeu Aguiar. Com Vera Fischer e Leonardofranco.? O espetáculo será apresentado nesta quinta (31/7) e sexta (1/8), às 20h30, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Duração: 90min. Ingressos: Plateia 2 – R$ 140 e R$ 70 (meia); Plateia 3 – R$ 100 e R$ 50 (meia). Plateia 1 esgotada. À venda na bilheteria e no Sympla.