LITERATURA E TELEVISÃO

‘Assisto TV para ser feliz’, diz Maria Adelaide Amaral

Escritora e novelista, que lança nova edição de ‘O bruxo’, conta que tem novela inédita e comenta o remake de ‘Vale tudo’: ‘Há coisas muito boas, outras menos’

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Olhar para trás fez bem à escritora e jornalista Maria Adelaide Amaral. Pelo menos no caso de “O bruxo”, seu terceiro romance. Foi publicado em 2000, após um tratamento contra o câncer de mama. A narrativa mistura fato e fabulação ao acompanhar Ana, uma escritora de meia-idade que, após o fim do casamento, reavalia sua vida. No meio do caminho, a personagem descobre a doença.


Para uma nova edição da obra, recém-lançada pela editora Instante, Maria Adelaide foi se reler. “Dos meus livros, era o que eu menos gostava. A grande vantagem na reedição é poder corrigir, melhorar literariamente. Independentemente disso, olhei para esse livro com um olhar muito mais compassivo, terno. Talvez por associá-lo a um momento muito crítico da vida, eu implicava com ele. Atualmente, é um dos meus favoritos”, afirma.


O que é muito, diante de sua vasta obra. O nome de Maria Adelaide Amaral é indelevelmente relacionado à teledramaturgia. Em 32 anos de TV Globo, deixou sua marca em minisséries como “A muralha” (2000), “Os Maias” (2001), “A casa das sete mulheres” (2003) e “JK” (2006).


Ela tem ampla produção teatral – “Bodas de papel” (1976), “De braços abertos” (1993) e “Querida mamãe” (1994) venceram o Molière – e experiência como tradutora. Antes disso, décadas no jornalismo.
Nos dias de hoje, está envolvida com cinema.

Finalizou a adaptação de “Em nome dos pais”, de Matheus Leitão, e está em meio ao roteiro de um longa sobre o romance da escultora mineira Maria Martins com o francês Marcel Duchamps. Ambos os projetos são para o cineasta Bruno Barreto. Diante de tanta coisa, aos 83 anos, Maria Adelaide só tem uma certeza: “Vou trabalhar até morrer”.


Como está sendo retornar a “O bruxo” 25 anos depois?
Em princípio, eu achava o romance extremamente feminino, “coisa de mulher”. Agora tive retorno do público masculino, inclusive do Leandro Karnal, que jamais imaginaria que fosse ler e gostar. Também a Rejane (Dias), da (editora) Autêntica, que me disse que gostou. Retornos como esses foram importantes.

É o romance mais curto que escrevi e que me deu alegrias inesperadas. (O câncer) Não foi apenas um evento nefasto, foi muito importante por tudo que vivi. Descobri o que realmente era essencial na vida.


Na apresentação, a escritora Andréa del Fuego faz um panorama da produção literária feminina do início dos anos 2000. Você tinha a percepção de que era uma das poucas mulheres no meio literário?
Não tinha a menor noção. Comecei no teatro, nos anos 1970. Antes de mim, houve a Consuelo de Castro, a Leilah Assumpção, a Isabel Câmara. No romance, Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz. Essa gente toda me precedeu, estava dando mais um testemunho daquilo que eu era à época. Vivi a abertura dos anos 1960, com a pílula e a liberação sexual.

O movimento feminista dos anos 1970, as grandes transformações políticas dos 1980. Ao mesmo temo, vivi o retrocesso que começa nos anos 1990, quando uma série de conquistas começa a ser questionada. Acho que tive muito menos obstáculos do que as mulheres têm hoje.

Apesar das conquistas e da liberação, há hoje um movimento conservador muito forte. Senti esse movimento chegando, mas não imaginei que fosse durar tanto. A internet fez triunfar um movimento de obscurantismo. É uma verdadeira regressão.


Você acompanha a nova geração de escritoras?
Sim, são pessoas extraordinárias com livros importantes que não são passageiros. Carla Madeira é maravilhosa, tem uma literatura de primeira categoria. A Morgana Kretzmann, Eliane Marques, Aline Bei, Eliana Alves Cruz, Andréa del Fuego, Giovana Madalosso. Leio essa nova geração com muito interesse, e vejo na ficção e na poesia livros de imensa qualidade.


Novelas, ainda assiste? Aliás, acredita que elas têm futuro?
Acredito na telenovela em longo prazo enquanto tiver gente vendo TV aberta. Esse formato sobrevive bem no streaming. Veja o sucesso de “Beleza fatal” (da HBO Max), do Raphael Montes. Até as novelas turcas fazem sucesso. Mas essas não me interessam, o texto é previsível. Quando vejo no streaming uma novela como “Guerreiros do Sol” (Globoplay), de George Moura, fico muito feliz porque é uma produção de primeira classe.

Parece que você está assistindo coisa da antiga Globo. As coisas da Globo decaíram muito. Veja a falta que faz uma boa direção de arte. Vejo coisas acontecendo que jamais aconteceriam na época em que diretor de arte era uma pessoa necessária, de enorme conhecimento.


O que está achando de “Vale tudo”?
Vejo uma vez ou outra. Há coisas muito boas, outras menos. Assisto pela interpretação da Debora (Bloch), gosto muito da Taís (Araújo). Mas não fico louca para ver o próximo capítulo, até porque já conheço a história. É complicado porque eu olho muito defeito, e não quero ver defeito, quero ver qualidade. Assisto TV para ser feliz.


Sente falta do ofício na TV?
Nem um pouco. Sinto falta da satisfação, do prazer e da alegria que tinha em fazer minisséries que foram propostas minhas. O Mário Lúcio (Vaz, que dirigiu a Central Globo de Produção e deixou a empresa em 2008) topava na hora. “A muralha” e “Os Maias” foram da época do Daniel Filho, mas “A casa das sete mulheres”, “Um só coração” e “JK” jamais teriam sido feitas, não fosse o Mário Lúcio.

A única coisa que lamento é que tinha outras coisas que não foram produzidas por falta de verba. Tinha uma minissérie sobre Carlos Gomes, que virou uma novela de época com 125 capítulos, que está pronta. Escrevi tudo, na pandemia, e está lá.


“O BRUXO”
De Maria Adelaide Amaral
Editora Instante

160 págs.
R$ 69,90

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