Filme 'Os enforcados', com Leandra Leal e Irandhir Santos, estreia em BH
Casal vive espiral de violência em novo longa de Fernando Coimbra, diretor do elogiado 'O lobo atrás da porta'
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Siga noO mote é shakespeariano, mas o clima tem pegada rodriguiana. Lady MacBeth na Rio de Janeiro do jogo do bicho? Não há como não pensar em Nelson Rodrigues diante da trama de “Os enforcados”. Estrelado por Leandra Leal e Irandhir Santos, o filme escrito e dirigido por Fernando Coimbra chega nesta quinta (14/8) aos cinemas.
É o primeiro longa nacional do diretor desde o bem-sucedido “O lobo atrás da porta” (2013), também protagonizado por Leandra. Ela é Regina, mulher de Valério (Irandhir), que está em meio à interminável reforma de sua cinematográfica casa. Um dia, é avisada pelo marido de que o dinheiro acabou.
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Os negócios vão mal, Valério explica, e há muitas dívidas. Negócio é eufemismo, pois Valério é o segundo homem no comando de um império do jogo do bicho. Quem manda em tudo é seu tio (Stepan Nercessian). Valério não coloca as mãos em armas – faz o trabalho “limpo”, ou seja, lava o dinheiro.
Com muito rancor do tio, que ele acredita ter matado seu pai, Valério resolve se vingar. Quem arma a arapuca é a própria Regina. O marido, claramente, é o elo mais fraco da relação. Ela, apesar de parecer, não é mera esposa troféu. Manipuladora, Regina arma a jogada que os dois acreditam que vai lhes livrar das dívidas e da presença do tio. Isso é só o início de uma história cheia de reviravoltas.
Em comum, além da atriz, “O lobo atrás da porta” e “Os enforcados” trazem histórias de casais que vivem relacionamentos para lá de tóxicos. “Acho que as duas (Rosa, personagem do filme anterior, e Regina) são muito diferentes. Mas ambas cruzam linhas sem retorno”, diz Leandra.
Coimbra, que na última década dirigiu vários projetos nos EUA, teve a ideia de “Os enforcados” quando filmava “O lobo”. “Eu passava pela Barra da Tijuca, na Zona Oeste, a caminho de algumas locações. Olhava para aquilo e pensava: é um universo que a gente não mostra muito no cinema. Aí veio a ideia de uma Lady MacBeth (mulher manipuladora e de ambição desmedida) no Brasil. O jogo do bicho sintetiza a elite corrupta, criminosa, mas socialmente aceita. Comecei a trabalhar no roteiro e as coisas foram se encaixando.”
Boa parte da história se passa na mansão onde o casal reside. Na parte de baixo, uma reforma sem fim. A locação é uma casa em São Conrado, em morro bem alto, de onde se vê tanto a praia quanto a Favela da Rocinha. “Queria que a casa fosse personagem, palco dessa tragédia, e que ela pudesse ir se transformando conforme a relação deles também se transforma”, continua Coimbra.
Ele procurou bastante até encontrar a locação ideal. “Ela tem uma vista maravilhosa e um contraste enorme, pois a Rocinha é uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro. Isso mostra a diferença brutal que existe no país.”
Ainda que “Os enforcados” se apresente como tragédia a partir do próprio título, o filme tem vários tons. Ora é thriller, ora é tragicomédia, ora um grande drama.
“Encontrar o tom foi o mais desafiador, porque o roteiro mistura muitas coisas. Tem a estrutura de um thriller clássico, pois você não sabe o que está acontecendo, mas ao mesmo tempo o humor inerente dos personagens e das situações, que são meio patéticas.”
Irene Ravache
Um bom exemplo vem da participação de Irene Ravache, brilhante como a mãe de Regina. É um alívio cômico diante dos absurdos das situações e falas da personagem.
“A parte mais delicada foi justamente achar o tom da atuação, uma coisa que não fosse caricatural, ainda que o personagem tenha um jeito um tanto afetado. (A atuação) É o cerne do que faço. Gosto de sentar à mesa, pegar o roteiro, ler (com os atores) e ver para onde a gente vai juntos. A gente vai moldando tudo junto, por isso o processo de ensaio longo. Quando chegamos no set, isso tudo já foi destrinchado”, afirma Coimbra.
Longe do Brasil
O hiato de quase 12 anos entre “Os enforcados” e “O lobo atrás da porta” se justifica porque neste período o diretor trabalhou ativamente no exterior. Após o thriller estrelado por Leandra Leal e Milhem Cortaz, Coimbra dirigiu episódios de várias séries, como “Narcos”, o terror “Outcast”, a noir “Perry Manson”.
Ainda fez um longa nos EUA, “Castelo de areia” (2017), estrelado por Nicholas Hoult e Henry Cavill. “'O lobo' me levou a fazer coisas fora, oportunidades que não dava para não pegar. Todas essas produções são de gêneros diferentes, trazendo bagagem para o roteiro do filme”, diz ele.
“OS ENFORCADOS”
(Brasil, 2024, 123min.) Direção de Fernando Coimbra, com Leandra Leal e Irandhir Santos. O filme estreia nos cines BH 10, às 17h30 e 20h30; Boulevard 4, às 14h10 e 18h30; Cidade 8, às 16h15 e 20h35; Estação, às 16h40, 19h10 e 21h45; Del Rey 4, às 14h, 18h20; Minas Shopping 6, às 14h10 e 18h30; Pátio 1, às 18h50 e 21h50.