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Cinzas de Sebastião Salgado adubam peroba no Instituto Terra, em Aimorés

Cerimônia realizada neste sábado (16/8) em Aimorés, cidade natal do fotógrafo e ativista ambiental mineiro, emocionou familiares, amigos e autoridades

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Sebastião Salgado se integrou à natureza – desta vez, literalmente. Em cerimônia realizada neste sábado (16/8) no Instituto Terra, que fundou em 1998 com a esposa, Lélia Wanick Salgado, em Aimorés (MG), as cinzas do fotógrafo foram depositadas na cova que recebeu muda de peroba, ao som de “Cálice”.

A canção de Gilberto Gil e Chico Buarque foi composta durante a ditadura militar, que obrigou o casal Salgado a deixar o Brasil nos anos 1960. 

Centenas de pessoas acompanharam a despedida de um dos maiores fotógrafos do mundo, ativista ambiental que transformou a área degradada da fazenda da família na floresta que hoje tem mais de 3,5 milhões de árvores. Cerca de 2 mil ha foram recuperados pelo casal Salgado. O fotógrafo morreu em maio, em Paris, vítima de leucemia. Ele tinha 81 anos.


 
A viúva Lélia Salgado saudou os amigos que vieram de longe. “Sou testemunha, nesses 61 anos que vivemos juntos, de que Tião merece que se fale muito bem dele. Foi um homem que teve tantas boas ideias e correu atrás delas sem nenhum medo. Hoje é o dia da derradeira missão do Tião: ser o adubo desta planta maravilhosa, esta peroba que, tenho certeza, vai ser a mais bonita e a mais alta desta floresta.” 

Adriano Garcia, prefeito de Aimorés, destacou a importância do trabalho de Salgado na cidade natal. “O Instituto Terra se tornou um farol para todos que acreditam que a preservação é um gesto de amor pela humanidade. Homem simples, ele acreditou que plantar árvores era plantar o futuro”, disse.

Sebastião e Lélia Salgado, em 2023, diante de viveiros do Instituto Terra, que reflorestou áreas degradadas em Aimorés, Minas Gerais
Sebastião e Lélia Salgado, em 2023, no Instituto Terra, que ergueu floresta em área degradada de 600ha na cidade mineira de Aimorés, no Vale do Rio Doce Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press – 30/9/23

Herman Benjamim, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), leu texto escrito pelo próprio Salgado, enfatizando que a ideia de criação do Instituto Terra foi de Lélia, e que era ela quem dava vida à sua fotografia. 

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, contou ter compartilhado mais de três décadas de vida com Salgado. “Minha presença aqui se divide entre tristeza, pela partida de Tião, e alegria de ver um grupo tão grande e representativo de amigos, familiares e admiradores de seu trabalho”, afirmou.

Um dos filhos do fotógrafo, Juliano Ribeiro Salgado destacou o olhar do pai para “as pessoas esquecidas da história”, populações desassistidas ou em risco social.

Lembrou a aproximação de Sebastião com os povos indígenas, com o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e com os expatriados. 

“Depois que começou a registrar as grandes migrações, ele chegou no limite do que era possível retratar com sua máquina fotográfica, e nesse momento voltou seu olhar para as árvores, para a natureza, com grande empatia”, recordou.

"Gênesis" e "Amazônia"

Juliano citou “Gênesis” e “Amazônia”, dois dos mais celebrados trabalhos fotográficos de seu pai, que resultaram do compromisso de Salgado com o meio ambiente. Também falou do projeto “imenso e ambicioso” do Instituto Terra e das cinzas do pai adubando aquele solo. 

“Vamos ter aqui uma árvore que talvez viva mil anos, e vamos nos lembrar do Sebastião sempre que olharmos para ela”, disse. 

Amigo de longa data de Sebastião Salgado, Afonso Borges, idealizador do projeto Sempre um Papo e dos festivais literários Fliaraxá, Flitabira, Fliparacatu e Flipetrópolis, conversou com o Estado de Minas ao final da cerimônia. 

Rio e matas do Instituto Terra, em Aimorés, Minas Gerais
Instituto Terra, criado por Sebastião e Lélia Salgado, recuperou fontes de água, além de replantar floresta em área degradada na cidade mineira de Aimorés, no Vale do Rio Doce Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 30/9/23

Convidado pelo fotógrafo para integrar o conselho do Instituto Terra, Borges destacou a fala de Lélia Salgado, ao citar o escritor José Saramago. “Ele dizia que Sebastião não era das estrelas, como as pessoas se referem a grandes personalidades, mas da terra. É o que eu sinto.”

O produtor cultural destacou a simbologia “fortíssima” de as cinzas servirem de adubo para a peroba, desejo que o próprio Sebastião Salgado expressou em vida.

“Ele foi uma pessoa inspiradora, desbravadora de ideias, ideais e realizações. Pensava e realizava, fossem seus projetos fotográficos, fosse aqui onde estou, uma reserva natural de mata atlântica extensa, recuperada, com um projeto imenso de continuar em outras propriedades, transferindo tecnologia de recuperação de nascentes para o Brasil e para o mundo”, destacou.

Instituto Terra na Bacia do Rio Doce

Carolina Sampaio, responsável pelo desenvolvimento institucional do Instituto Terra, salientou que a cerimônia deste sábado representou marco muito importante. “É o retorno de Sebastião para a terra dele, para a natureza, onde vai permanecer conosco”, pontuou.

Ela ressaltou os três grandes eixos de atuação do Instituto Terra: restauração ecossistêmica, educação ambiental e desenvolvimento rural sustentável.

“Estamos ampliando nosso trabalho por toda a Bacia do Rio Doce, atuando em uma região que tem o tamanho de Portugal”, enfatizou Carolina.

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