
L�lia fundou, em 1998, com o marido, o fot�grafo Sebasti�o Salgado, o Instituto Terra, dedicado � recupera��o e � preserva��o da Mata Atl�ntica. Os outros dois premiados foram Bandi “Apai Janggut”, l�der da comunidade ind�gena Sungai Utik, na Indon�sia, e C�cile Bibiane Ndjebet, ativista e agr�noma, de Camar�es. Juntos, receber�o 1 milh�o de euros (R$ 5,5 milh�es).
Desde a sua cria��o, o Instituto Terra, que fica na regi�o do Rio Doce, em Aimor�s, Minas Gerais, foi respons�vel pelo plantio de quase 3 milh�es de �rvores numa �rea completamente devastada e que, at� ent�o, funcionava como uma fazenda. Em colabora��o com pequenos agricultores, foram reflorestados mais de 2 mil hectares e recuperadas 1,9 mil nascentes. O resultado foi a volta da biodiversidade, com a identifica��o de mais de 170 esp�cies de p�ssaros, algumas delas amea�adas de extin��o, e de pelo menos 33 esp�cies de animais, entre elas, a on�a parda e a jaguatirica.
Segundo Angela Merkel, os tr�s vencedores s�o reconhecidos pela lideran�a e pelo trabalho incans�vel, ao longo de anos, no restauro e na prote��o de ecossistemas vitais para a humanidade, sempre em conjunto com as comunidades locais, contribuindo para um funcionamento saud�vel do sistema Terra e para mitigar os impactos das altera��es clim�ticas. “Os ecossistemas suportam toda a vida na Terra. A sa�de do planeta e de seus habitantes depende deles, e s� os ecossistemas saud�veis nos permitir�o combater as altera��es clim�ticas”, afirmou.
Para a ex-chanceler, o j�ri escolheu as tr�s personalidades como forma de reconhecer um trabalho de grande transforma��o no Sul Global, levado a cabo por comunidades que, apesar de serem as mais afetadas pelas altera��es clim�ticas, foram as que menos contribu�ram para as causas. “Acreditamos que os vencedores do Pr�mio continuar�o a inspirar outros e a desencadear futuras iniciativas clim�ticas positivas em todo o mundo”, frisou. Em 2022, os Estados membros da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) adotaram a Conven��o Quadro para a Biodiversidade, enfatizando a urg�ncia de travar a perda de biodiversidade, restaurar os ecossistemas naturais e proteger os direitos das popula��es ind�genas a n�vel global.

Urg�ncia
Presidente do Conselho de Administra��o da Funda��o Calouste Gulbenkian, Ant�nio Feij� destacou que o objetivo do pr�mio � prestar uma homenagem ao trabalho e � dedica��o daqueles que se esfor�am para a recupera��o de ecossistemas que s�o cruciais para a mitiga��o das altera��es clim�ticas. “S�o um exemplo de lideran�a excepcional, com impacto significativo, em harmonia com a natureza e as comunidades locais”, assinalou. “� um privil�gio para a funda��o poder apoiar os esfor�os na prote��o do planeta e da humanidade. As hist�rias dos premiados v�o inspirar muitas outras pessoas”, acrescentou.
A quest�o clim�tica est� no centro das aten��es da Europa, que enfrenta o mais rigoroso ver�o da hist�ria, com temperaturas superiores a 46 graus. O continente � o mais afetado pelo aquecimento global, com inc�ndios e mortes pelo calor cada vez mais frequentes. Os especialistas dizem que a situa��o s� tende a se agravar, pois n�o h� perspectivas a curto prazo de redu��o da temperatura. Principal fonte de renda para v�rios pa�ses no meio do ano, o turismo j� come�a a ser afetado.
Dados recentes apontam que a temperatura m�dia do mundo bateu recorde por dias seguidos, ficando acima de 17 graus. Se nada for feito para reverter esse quadro, muitas esp�cies vegetais e animais tender�o a desaparecer, provocando um enorme desequil�brio ambiental, com secas devastando planta��es e ampliando a fome. Atualmente, segundo a ONU, parte importante das 735 milh�es de pessoas que n�o t�m o que comer s�o v�timas das mudan�as clim�ticas.
Autoridades comprometidas com as quest�es ambientais t�m alertado que nenhum dos acordos assinados nos �ltimos anos para reduzir a emiss�o de gazes de efeito estufa v�m sendo cumpridos. A promessa de limitar o aumento da temperatura m�dia em 1,5 grau at� 2100 est� longe de se realizar, uma vez que os term�metros j� est�o marcando 4 graus acima dos 13 graus de m�dia observados no ano passado. O caminho, dizem os analistas, � a educa��o ambiental, ainda longe de se tornar realidade na maioria dos pa�ses.
Esta � a quarta edi��o do Pr�mio Gulbenkian para a Humanidade. Em seu lan�amento, em 2020, foi concedido � jovem ativista sueca Greta Thunberg. No ano seguinte, o vencedor foi o Pacto das Cidades para o Clima e Energia, a maior alian�a global para a lideran�a clim�tica das cidades. Em 2022, foi dividido entre o Painel Intergovernamental sobre Mudan�as Clim�ticas (IPCC) e a Plataforma Intergovernamental de Ci�ncia e Pol�tica sobre Biodiversidade e Servi�os Ecossist�micos (IPBES), duas organiza��es que produzem conhecimento cient�fico, alertam a sociedade e contribuem para que os governos adotem medidas mais fundamentadas para o combate �s altera��es clim�ticas e � perda de biodiversidade.