Peça "A baleia", que teve versão de sucesso no cinema, chega a BH
Montagem com José de Abreu no papel do professor obeso e isolado terá sessões neste sábado (23/8) e domingo, no Grande Teatro Unimed-BH do Cine Theatro Brasil
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Siga noTexto do dramaturgo norte-americano Samuel D. Hunter adaptado para o cinema no longa de Darren Aronofsky que rendeu o Oscar de melhor ator para Brendan Fraser em 2023, “A baleia” ganhou montagem brasileira protagonizada por José de Abreu. A peça estreou em junho passado, no Rio de Janeiro, e chega a Belo Horizonte para apresentações neste sábado e domingo (23 e 24/8), no Grande Teatro Unimed-BH do Cine Theatro Brasil.
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Ambientada em uma pequena cidade dos Estados Unidos, “A baleia” gira em torno do personagem Charlie, um professor casado e pai de uma menina, que se descobre gay ao se apaixonar pelo filho de um bispo evangélico. Esse relacionamento amoroso é marcado por perdas profundas, que o levam ao isolamento e influenciam seu estado de saúde.
Com direção de Luís Artur Nunes, a montagem aborda temas como intolerância religiosa, homofobia, culpa, reconexão e empatia, por meio de personagens complexos e cheios de contradições.
Para viver Charlie, um homem que pesa quase 300kg, José de Abreu teve que encarar uma caracterização complexa. Ele usa próteses faciais e um figurino com enchimento, climatizado, criado por Carlos Alberto Nunes
Adaptação gradual
O maior desafio, contudo, não diz respeito a essa caracterização, segundo o ator. Ele conta que o figurino foi projetado e ficou pronto logo no início do período de três meses de ensaios, o que permitiu uma adaptação gradual.
“O mais difícil é a parte psicológica, porque o Charlie sofre demais, pela culpa que carrega, então eu saio do teatro exausto”, diz. Ele revela que essa culpa é pela morte do namorado, que atende a um pedido do pai para que vá uma última vez à igreja.
“O texto diz que esse rapaz volta da igreja completamente vazio, ele para de comer, para de viver, e efetivamente morre. Tomado pelo remorso, se achando responsável, Charlie faz o caminho inverso, começa a comer pelos dois”, diz.
Abreu diz que o que mais o cativou na obra de Hunter é a abordagem da chamada “cura gay”. Ele observa que, no Brasil, a comunidade LGBTQIAPN+ é vítima desse preconceito e dessa ideia homofóbica há muito tempo. “É uma coisa que me toca. Obviamente que o tema da peça não é bem esse, ela tem muitas camadas, envolve a tentativa de reconexão do pai com a filha, envolve culpa cristã, isolamento e solidão”, diz.
De volta ao palco
“A baleia” marca o retorno do ator ao teatro, de onde estava afastado há mais de 10 anos. A última peça que fez foi “Bonifácio Bilhões”, de João Bethencourt, em 2013. A ausência dos palcos deveu-se, ele diz, aos trabalhos para a TV e às viagens que fez no período.
“Há 11 anos resolvi que queria morar em Paris e fui. Fiquei um ano, e a Globo me chamou para fazer 'A regra do jogo'. Depois, voltei para a França, enchi o saco, mudei de novo, e ficava nessa, voltava, fazia uma novela e ia embora”, comenta.
O retorno, agora, resulta de uma soma de fatores: a excelência do texto, o desafio de fazer um personagem tão complexo e a direção de Luís Artur Nunes, que conhece desde 1972 e com quem já trabalhou em outras montagens, como no monólogo “Fala, Zé!” (2006) e em “A mulher sem pecado” (2000), de Nelson Rodrigues.
“Ele é meio que meu mentor intelectual, um diretor extremamente criativo, que me conhece muito bem, sabe onde posso ir como ator. Isso facilita muito”, diz.
Abreu afirma que a peça oferece mais do que o filme de Aronofsky, na medida em que trabalha o texto com mais nuances.
“Cinema é indústria, feito para multidões, e teatro é arte. O objetivo de Hollywood é atingir o maior número possível de pessoas, então a tendência é tornar as coisas mais fáceis para o espectador. Na peça, o que temos é um quebra-cabeças que o público vai montando à medida que a história se desenrola. O filme, em comparação com a peça, é muito óbvio”, diz.
Ele ressalta que “A baleia” é uma montagem que toca o coração das pessoas, que as faz pensar na vida, porque a culpa é um sentimento que todo mundo compartilha em algum momento.
“Quem é que nunca sentiu? Já nascemos sob o estigma do pecado original, e as religiões aumentam essa culpa”, observa. Abreu afirma que a reação do público tem sido excepcional. “Acho que nunca fui tão ovacionado na vida. No final, todos aplaudem de pé, gritam 'bravo', e eu choro toda vez que começam a gritar.”
“A BALEIA”
Texto: Samuel D. Hunter. Direção: Luís Artur Nunes. Com José de Abreu, Luisa Thiré, Gabriela Freire, Eduardo Speroni e Alice Borges. Neste sábado (23/8), às 21h, e domingo (24/8), às 19h, no Grande Teatro Unimed-BH do Cine Theatro Brasil (Praça Sete, Centro). Ingressos para a plateia 1 a R$ 140 (inteira) e R$ 70 (meia); plateia 2 a R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia); e plateia superior a R$ R$ 25 (ingresso popular), à venda na bilheteria e pelo site Eventim. Classificação indicativa: 14 anos.