CINEMA

Filme de horror 'Faça ela voltar' acerta ao não subestimar o público

Dirigido pelos irmãos Philippou, do elogiado 'Fale comigo', longa evita explicar demais, deixando o espectador às voltas com boas doses de mistério

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A nova onda de horror nunca existiu do ponto de vista que importa, o da qualidade cinematográfica. Nem a propagada grande fase, ou coisa que o valha. O horror é um dos gêneros mais prolíficos desde os anos 1960. Não há significativa melhoria nos últimos 10 ou 15 anos para se falar em tendências, a não ser em variações tipo “body horror” ou “pós-horror”, mas nada que signifique aumento de qualidade.

O número de grandes filmes é bem pequeno, menor que nos anos 1960 ou 1970. É certo que há bons filmes de horror no cinema contemporâneo, mas a maior parte varia do medíocre ao razoável.


RackaRacka

Um dos que estão acima da média é “Fale comigo”, de 2022, que revelou os gêmeos australianos Danny Philippou e Michael Philippou. Eles são conhecidos como RackaRacka, considerados novas promessas do horror internacional.

Os irmãos Andy e Piper vivem com o pai, até que este morre misteriosamente durante o banho. Eles são adotados por Laura, personagem um tanto estranha, brilhantemente interpretada por Sally Hawkins.


Andy (Billy Barratt) está prestes a fazer 18 anos, garantir sua independência e com isso a possibilidade de cuidar de Piper (Sora Wong), pré-adolescente com deficiência visual.

Laura tem poucos meses para colocar em prática seu plano diabólico para ressuscitar Cathy, sua filha também deficiente visual, morta quando tinha mais ou menos a idade de Piper, na piscina de casa.

Oliver é o estranhíssimo filho adotivo de Laura. O que terá acontecido com ele? Logo mais descobriremos que era um menino desaparecido, vítima dos feitiços de Laura, e agora funciona como uma espécie de veículo para a ressurreição de Cathy.

Na trama, há uma espécie de transe causado por círculos de diversos tamanhos, a questão do mau comportamento que faz com que Andy seja sempre vítima de certa desconfiança, e o uso da água como líquido amniótico que protege os bebês dentro do útero, ou seja, a tentativa de reprodução de um útero numa piscina.

O detalhe é que a piscina precisa estar cheia de água da chuva, e a chuva rima com a água do chuveiro, motivo de trauma para o perturbado Andy. São símbolos que os diretores inserem como truques para ludibriar o espectador.

A questão da maternidade é o cerne do enredo, como também a ideia de substituição do corpo para manter o espírito vivo, o que leva o filme naturalmente para o campo do horror, que vai se insinuando até dominar a trama, mais do que a superação do luto.

Tão importante quanto a maternidade é uma ideia a ela subordinada, a de cuidar, aqui expandida para o cuidado com as pessoas amadas.

Os irmãos Philippou seguem uma linha semelhante à do recente “A hora do mal”: uma certa estética retrô, presente nas fitas de videocassete que convivem numa boa com os smartphones, além de um monte de pistas para embaralhar o espectador.

Bom exemplo disso está na fala de Laura de que teria matado o pai de Andy e Piper enquanto ele estava no chuveiro, fala que ela alterou na pronta repetição e não teve mais consequências na trama, mas sugere uma armação para que ela fique com Piper e coloque seu plano em operação.

Existem outras pistas: o canibalismo, o bullying, a gravidez infantil, os cabelos cortados. Nada disso é devidamente explicado para além de um entendimento bem básico da trama.

Ainda bem. Uma das coisas mais irritantes no horror contemporâneo é que as explicações costumam afundar os filmes, que por sua vez resistem bem enquanto tudo é mistério para o espectador.

Ao pedir para que o público preencha algumas lacunas, “Faça ela voltar”, mais que “A hora do mal”, confia na capacidade de cada um de nós nessa missão e ao mesmo tempo não nos atola com psicologia e sociologia simplórias. O mistério é sempre mais interessante que a interpretação. (Sérgio Alpendre)

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“FAÇA ELA VOLTAR”
Austrália, 2025, 109min. De Danny Philippou e Michael Philippou. Com Sally Hawkins, Billy Barratt e Sora Wong. Em cartaz nas salas das redes Cinemark, Cineart, Cinesercla e Cinépolis.

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