Museu da Inconfidência reabre hoje em Ouro Preto após 6 meses fechado
Instituição passou por processo de limpeza e melhorias, como a conservação preventiva do acervo de 6 mil peças, e volta a receber visitantes neste sábado (30/8)
compartilhe
Siga no
Ouro Preto – Principal museu histórico de Minas Gerais, o Inconfidência estava vivendo uma situação paradoxal. Em 2024, foi o museu mais visitado entre os 27 que integram o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Recebeu 347 mil pessoas. Por outro lado, a instituição abrigada em edifício histórico do século 19 (construção iniciada em 1789 e concluída em 1855) estava em risco iminente.
Leia Mais
Fios desencapados, número incipiente de extintores de incêndio, saída de emergência fechada, projeto elétrico defasado. Só o visitante mais atento poderia perceber alguns desses problemas. Mas qualquer um que entrasse no prédio para conhecer os cerca de mil itens expostos veria que havia algo errado. Salas escuras chamavam logo a atenção do visitante – 60% da iluminação estava queimada.
“Ele estava sofrendo um desmonte”, afirma Alex Calheiros, há dois anos à frente do Museu da Inconfidência, que completou 81 anos no último dia 11 de agosto. Fechada desde fevereiro, a instituição passou por reforma estrutural que consumiu os seis últimos meses.
O Estado de Minas esteve no museu no dia 5 deste mês, quando estava tudo praticamente pronto para sua reabertura – que só acontece a partir deste sábado (30/8), após todas as melhorias feitas. Isso inclui corrimãos, internos e externos, saída de emergência, detectores de fumaça e extintores em número adequado.
Limpeza da fachada
É também visível a mudança da fachada. Pela primeira vez, a cantaria (pedra) sofreu limpeza. “Essa cantaria é de uma pedra de quartzito, bastante porosa. Não se pode usar produtos químicos. Então, a limpeza foi feita com escova de dentes e água”, conta Calheiros. A pintura a cal também traz especificidades. “Leva-se três, quatro meses para hidratar a cal e depois pintar.”
Limpeza e pintura foram realizadas na parte externa e no pátio interno. Com um novo projeto elétrico, a iluminação das salas foi trocada. “Também fizemos a limpeza e a conservação preventiva de todo o acervo em exposição. Algumas estavam sem conservação alguma, como a prataria.”
O orçamento da obra, de R$ 2,6 milhões, veio do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Alagoano, Alex Calheiros chegou há dois anos a Ouro Preto para dirigir o Museu da Inconfidência. Doutor em Filosofia pela USP, é professor da Universidade de Brasília (UnB).
Orçamento
Chegou à instituição para trabalhar com um orçamento anual de R$ 1,47 milhão e seis servidores. A título de comparação, o Museu Imperial, de Petrópolis, também integrante do Ibram, tem orçamento de R$ 13 milhões. Neste período no Inconfidência, Calheiros conseguiu aumentar o orçamento. Em 2025, é de R$ 5,5 milhões. Hoje, a instituição conta com 15 servidores e 18 funcionários terceirizados.
Toda a reforma estrutural pela qual o museu passou é o que se pode chamar de fase 1. Pois há muito mais o que fazer. Calheiros negocia com o MPMG novo aporte de recursos para a segunda fase, para a reforma do telhado, do forro e dos banheiros. Isto, no entanto, só deverá ocorrer em 2026. Segundo o diretor, não haverá necessidade de fechar o museu ao público para tais melhorias.
Tudo isso se refere ao prédio principal. Há ainda os dois anexos. O primeiro, que abriga o auditório, se tornou, em junho passado, a Sala Joaquim Pedro de Andrade, em homenagem ao cineasta que rodou, em Ouro Preto, “O padre e a moça” (1966) e “Os inconfidentes” (1972). A transformação em sala de cinema ocorreu durante a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto e foi realizada pela Universo Produção.
“Agora estamos entrando na Lei Estadual [de Incentivo à Cultura] para que se torne uma sala de cinema de verdade, como um novo aparelho cultural para a cidade”, diz Calheiros. Há patrocinadores em vista, ele adianta.
“Precisamos também requalificar a reserva técnica (que abriga 6 mil itens) e, sobretudo, nossa biblioteca e arquivo, que estão em uma casa de pau-a-pique com uma situação elétrica tão ruim ou pior quanto a que o museu estava.” A proposta é transferir a biblioteca e o arquivo para o espaço na Praça Tiradentes. “Dessa maneira, o museu ficaria mais cultural.”
Saber contar a história
Agora, além de um prédio em condições ideais para receber visitantes, um museu também tem que saber contar sua história. Aos poucos, o Inconfidência tem mexido na exposição. O objetivo maior, no entanto, é fazer nova expografia. Em setembro, a instituição vai submeter o projeto à Lei Rouanet.
Há pouco mais de um ano, o Projeto República, da UFMG, está produzindo uma pequena atualização historiográfica sobre a Inconfidência Mineira e temas correlatos. Para 2026, deverão ser lançados, pelo museu, produtos como vídeo-aulas e podcasts.
“Há uma reivindicação da sociedade, de parte do público que vem ao museu que percebe que os textos são antiquados, para dizer o mínimo. Eu poderia dizer racistas, inclusive, pois eles apaziguam o conflito, colocam nossa história da escravidão para baixo dos panos”, afirma Calheiros. Algumas mudanças já poderão ser notadas na reabertura do Inconfidência, como a abertura da Sala Afro-brasilidades: Arte e memória na encruzilhada.
MUSEU DA INCONFIDÊNCIA
Praça Tiradentes, 139, Ouro Preto. Visitação de terça a quinta e domingo, das 10h às 18h (acesso até as 17h); sexta e sábado, das 10h às 20h (acesso até as 19h). Entrada franca.