Um encontro entre duas gerações da música marca o lançamento do álbum “Com o coração na boca” (Belic Music), de Cida Moreira e Rodrigo Vellozo, filho do cantor Benito Di Paula. Cantora, pianista e atriz, Cida explica que o projeto surgiu por meio de Murilo Alvesso, diretor musical do álbum.
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“Murilo é um grande artista, um grande diretor de imagem e já trabalhei com ele em um projeto de televisão, em 2018, chamado ‘Um copo de veneno’. Ele me procurou no ano passado e me disse: ‘Você tem que falar com o Rodrigo Vellozo. Quero juntar vocês dois, porque acho que tem uma coisa aí que a gente vai achar’”, conta ela.
Cida conta que “conhecia o trabalho de Rodrigo no teatro, mas não o conhecia pessoalmente”. Quando Murilo levou Rodrigo até a casa de Cida, os dois conversaram e tocaram piano. “Ele é um pianista maravilhoso, então, Murilo veio com essa ideia praticamente pronta já nesse primeiro encontro”, lembra a cantora.
“Inclusive, trouxe uma espécie de roteiro do que havia pensado, que seria um encontro musical e pianístico entre dois atores e dois cantores, fazendo um repertório que privilegiasse a palavra dramática, independentemente do gênero musical que estivéssemos cantando”, conta ela.
“Aí começamos um processo de descobrir o que iríamos fazer. Reuníamo-nos duas vezes por semana e cada um trazia uma coisa. E Murilo foi burilando aquilo, até chegarmos ao repertório do show, com 22 músicas”, recorda.
Estreia
Cida e Rodrigo estrearam o show no ano passado, em São Paulo. “Foi uma felicidade ter uma experiência nova, conviver com um artista mais novo. Rodrigo é uma surpresa maravilhosa, e a gente ensina um ao outro. Então é um repertório sem nenhum tipo de pudor, sem regras. Trabalhamos cerca de 40 músicas, até chegar nas 22 do repertório. Confesso que foi difícil tirar as oito músicas para o disco e até hoje a gente não se conforma. Ouvimos o álbum e falamos sempre: ‘Essa também poderia ter entrado’.”
A artista classica o repertório como “barra pesada, tanto quanto é poético, quanto é mais agressivo e mais dramático”. Ela cita que “a palavra ficou muito mais valorizada, quando retiramos aquelas coisas de muita instrumentação e muitas intenções. Então sobra a base da palavra, que é a base da nossa arte. O que tocamos no piano é o que a palavra nos sugere também”.
Rodrigo comenta que quando os dois pensaram em fazer um show juntos, desenvolveram “um espetáculo que é uma mistura de música, teatro e performances, algo meio híbrido em termos de linguagem”.
Pós-graduação
Em paralelo ao trabalho com Cida Moreira, Rodrigo estava concluindo uma pós-graduação em pedagogia vocal. Ou seja, estava envolvido, conforme cita, com as questões de “o que é um bom cantor, uma boa cantora, o que é cantar bem, como isso é desenvolvido e fazendo uma analogia entre o conhecimento que temos da parte fisiológica e acústica, com a tradição da nossa cultura popular. E a maneira como isso interage com aspectos de mercado, de colonialidade e tudo mais”.
Ele diz que o encontro com Cida nesse momento “foi importante porque ela, de alguma maneira, personifica tudo isso, essas compreensões.” O pianista cita o trabalho da cantora como pedagoga também.
Rodrigo chegou a pensar em convidar outros músicos para se juntar a eles. “Mas quando começamos a ouvir as gravações, pensamos: não precisa de mais nada. Aliás, não tem nem espaço para outra pessoa. Afinal, é um disco de dois pianos e duas vozes.”
O pianista enxerga ainda outras afinidades com Cida, como a tessitura vocal. “Acho também que é a maneira de pensar a expressividade da voz, de construir a interpretação e o desenho estético de cada música, a partir da voz. Acho que somos meio parecidos e temos muita coisa em comum. Agora é viajar com esse trabalho, levando o disco por aí. Espero que façamos BH em breve.”
“COM O CORAÇÃO NA BOCA”
Disco de Cida Moreira e Rodrigo Vellozo
Belic Music (8 faixas)
Disponível nas plataformas digitais
FAIXA A FAIXA
l “Meu cavalo tá pesado” (Zé Celso Martinez Corrêa)
l “Com o coração na boca” (Rodrigo Vellozo e Rômulo Fróes)
l “Ainda é tempo pra ser feliz” (Arlindo Cruz, Sombra e Sombrinha)
l “Desejo de amar” (Gabú e Marinheiro)
l “Velocidade da luz” (Tundy)
l “Clareza” (Rodrigo Campos)
l “Do jeito que a vida quer” (Benito Di Paula)
l “Babylon” (Zeca Baleiro)