No ano em que comemora os 40 anos de lançamento do primeiro disco e 65 de idade, Titane lança o single “Madeira”, gravado com o percussionista Paulo Santos (ex-Uakti) e o Bloco Pisa Ligeiro, formado por alunos da Escola de Artes João das Neves. A canção antecede o novo álbum da cantora mineira, previsto para este ano.
Leia Mais
A canção sai agora, mas faz parte da vida de Titane desde 2005, quando foi criada por Sérgio Pererê e apresentada no espetáculo “Exercício número 1”, que reuniu a cantora, o dramaturgo e diretor João das Neves (1934-2018), marido dela, a terapeuta corporal Irene Ziviani e Sérgio Pererê.
“Aquele espetáculo teve como desdobramento o show 'Titane e o Campo das Vertentes’. ‘Madeira’ estava no repertório, mas na hora de gravar, nós cortamos, porque já estava muito grande”, relembra a cantora, referindo-se a um dos shows mais importantes de sua carreira.
Sucesso nas aulas
Titane e João das Neves trabalharam com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), oferecendo oficinas e colaborando para a criação da escola de arte batizada com o nome dele. “Logo no primeiro curso, jogamos esta música na sala de aula e deu muito certo. Desde então, praticamos a canção nas aulas”, ela conta.
O Pisa Ligeiro nasceu na escola como bloco de carnaval do MST. “Me dei conta de que não fazia sentido gravá-la sem o pessoal do movimento, porque nos últimos anos eu ouvia esta música com eles e a cantava com eles no bloco”, diz Titane.
A forte ligação da artista com aquelas salas de aula a levou a convidar os alunos a gravar o single. “Falei: ‘Andamos juntos há vários anos, participei da fundação da escola. Estou junto de vocês, trabalhando nos territórios e acampamentos. Agora faço o convite inverso, quero que venham para o meu território, para minha carreira, o meu disco'”, relembra.
“Madeira” é canção "inspirada na força das árvores e das florestas", diz Titane. De acordo com ela, é uma forma de reafirmar a resiliência da cultura popular e dos sem terra.
“Quando escutamos esta música, sabemos que não é para ser cantada sozinha, mas por muitas vozes. É para ser cantada no chão, para ser cantada em marcha, para ser cantada por um bloco. Ela é muito contundente, muito arrebatadora. É feliz, música que celebra a vida”, comenta.
Titane destaca a potência das canções de Sérgio Pererê. “Ao mesmo tempo em que nos levam a ter introspecção grande, a pensar intimamente, as músicas dele nos levam a abraçar as pessoas e a cantar em coro.”
A neném e os tambores do rosário
A cultura afro-mineira tem forte influência no trabalho da cantora. “Fui um bebê e uma criança que dormiu ouvindo os tambores do rosário desde sempre. A minha casa ficava em frente ao Morro do Alto São Sebastião, em Oliveira, um dos lugares onde existe um grupo muito numeroso de ternos de congado. Oliveira é tomada pelos tambores do reinado, eles ocupam a vida, os sentimentos, os pensamentos e a história das pessoas.”
Os tambores também são uma forma de reagir ao racismo estrutural no Brasil e no mundo. De acordo com Titane, eles contam a história da forma como ela realmente é. E prosseguem como elemento de seu novo álbum, em fase de produção. O nome não está definido, mas o disco trará coletivos artísticos com os quais a cantora vem dialogando nos últimos anos.
“MADEIRA”
Canção de Sérgio Pererê. Single da cantora Titane, com Paulo Santos e Bloco Pisa Ligeiro, disponível nas redes @titaneoficial e @movimentosemterra, além das plataformas Spotify, Deezer, Apple Music, Amazon Music e Youtube Music. O clipe oficial está no YouTube.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria