Espetáculo inclusivo ‘Da janela’ abre temporada no CCBB-BH
Montagem infantil que estreia neste sábado (6/9) permite que pessoas com e sem deficiência assistam juntas, compartilhando a experiência, sem recursos externos
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Criação da Trupe do Experimento, o espetáculo “Da janela” foi pensado para que pessoas cegas, surdas, mudas e também as que não têm deficiência possam assistir juntas. Cada espectador vive a experiência de um jeito diferente, mas, sem depender de recursos externos, todos compartilham o mesmo momento na cadeira do teatro.
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No palco, os atores não traduzem o texto em Libras de forma tradicional. Eles envolvem a plateia na cena e estimulam as crianças a experimentarem novas formas de comunicação. Com a participação de consultores de inclusão e de pessoas com deficiência, os recursos de acessibilidade também são incorporados à dramaturgia.
Depois de estrear no Rio de Janeiro, em julho do ano passado, a montagem passou por 22 cidades e alcançou cerca de 14 mil pessoas. Agora, cumpre temporada no CCBB-BH, deste sábado (6/9) a 15/9, com sessões aos sábados, domingos e segundas.
A produção é fruto da pesquisa do diretor Marco dos Anjos. Ele lembra que a ideia surgiu quando trabalhava em um teatro do Rio de Janeiro com programação voltada para infância e juventude, cuja premissa era oferecer uma agenda acessível.
“Efeito pingue-pongue”
Com o tempo, percebeu que, embora importantes, os recursos técnicos muitas vezes deixavam a poesia em segundo plano, sem integração com a cena. “No caso da Libras, por exemplo, o público precisava olhar para o canto do palco, criando aquele efeito de pingue-pongue”, explica.
Foi então que decidiu buscar uma solução diferente, capaz de unir todos os públicos na mesma vivência. “Isso ficou martelando na minha cabeça e daí nasceu a ideia. O que tornou tudo possível foi esse incômodo, essa vontade de criar um espetáculo em que todos pudessem assistir juntos”, diz.
Logo no início da peça, a personagem Malu (Elizandra Souza) surge com um binóculo. Da sua janela, ela descreve o que vê e se apresenta, faz sua autodescrição e mostra seu sinal em Libras. Nesse instante, todas as mãos se levantam e a plateia aprende junto o primeiro sinal – o nome de Malu.
Segundo o diretor, a comunicação dentro do espetáculo acontece de forma orgânica, sem necessidade de um intérprete paralelo. Assim, a atriz que havia sido escalada inicialmente para esse papel acabou incorporada à dramaturgia, assumindo a personagem da síndica da vizinhança, interpretada por Thamires Ferreira.
Malu, Nina (vivida pela atriz surda Mariana Siciliano) e Cadu (Alain Catein) se conhecem pelas janelas de suas casas e, aos poucos, descobrem formas de se comunicar à distância e de se expressar sem palavras.
Marco conta que essa construção foi sendo lapidada ao longo da pesquisa de linguagem do grupo. “A gente foi estudando esses recursos e entendendo como eles serviam à arte. Usamos todo o corpo, expressões, mímica e gestos para comunicar. Isso é chamado de visual vernacular”, explica.
Recursos
A experiência com a acessibilidade se estende também para fora do palco. Já na entrada do teatro, o público encontra um cenário tátil, textos em braile e audiodescrição. O programa está disponível em Libras e em versão acessível para pessoas com deficiência visual.
Além disso, a produção oferece fones abafadores para quem tem sensibilidade auditiva, monitores especializados e estrutura para pessoas com mobilidade reduzida ou que utilizam cadeira de rodas.
Em determinado momento, o público é convidado a fazer sua própria audiodescrição. “Fazer essa provocação nos pequenos é uma forma de ampliar essa língua e de criar novas formas de comunicação para as futuras gerações”, observa Marco.
Ele conta que seu objetivo com a montagem era fazer com que as pessoas saíssem do teatro sabendo se apresentar e dizer alguma coisa em Libras. “Essa era a única certeza que eu tinha quando estávamos criando.”
“DA JANELA”
Espetáculo da Trupe do Experimento. Deste sábado (6/9) a 15/9, aos sábados e domingos, às 15h e às 18h, e segundas, às 15h, no CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários). Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria e no site do centro cultural.
Outros espetáculos
>>> “A VELHA VENDA NOVA”
Nesta sexta-feira (5/9), às 19h, a 12ª edição do Festival Ponta a Pé Cultural será aberta com o espetáculo “A velha Venda Nova”, que resgata a história da região a partir de personagens locais e referências culturais, como a boate Sóvem, o córrego Vilarinho e os bailes da cultura black. A apresentação será no Centro de Vivência Agroecológica (Rua Sebastião Gomes Pereira, 140 - Bairro Serra Verde). Entrada franca, sem necessidade de retirada de ingressos.
>>> “ENCONTRO DE VILÕES”
A comédia musical “Encontro de vilões” terá apresentação gratuita neste sábado (6/9), às 16h, na Praça Floriano Peixoto, no bairro Santa Efigênia. A montagem inverte a lógica tradicional dos contos de fadas, colocando os vilões como protagonistas. Cansadas de serem sempre os antagonistas das histórias infantis, as personagens se reúnem com o objetivo de limpar sua imagem. No mesmo dia, o local será palco de oficinas e brincadeiras, no começo da tarde.
>>> “A ARCA DE VINICIUS”
No domingo (7/9), “A arca de Vinicius” terá sessão às 16h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). A adaptação de “A arca de Noé”, única obra de Vinicius de Moraes para crianças, conta a história de um menino que deseja um mundo melhor. Os ingressos estão à venda no Sympla, a R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia).