'Alien: Earth' usa robôs para discutir as relações humanas
Primeira série da franquia "Alien", disponível no Disney+, tira o foco dos monstros para os dilemas humanos, revelando as fragilidades das relações familiares
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Siga noEm julho, “Superman” conquistou o público e a crítica ao enfatizar a humanidade do super-herói extraterrestre. Coincidentemente, “Alien: Earth”, a primeira série da franquia “Alien”, iniciada por Ridley Scott em 1979, também utiliza tramas sobre seres de outros mundos para discutir os princípios do ser humano.
“Pode ser bastante útil para nós termos uma definição maior do que é ser humano, porque, no momento, é possível que nossa compreensão seja bastante estreita”, diz Alex Lawther, o intérprete de Hermit na série. “Talvez seja isso que nos levou a ser tão separados da Terra e a abusar tanto do planeta da maneira que fazemos. Porque nos consideramos distintos e pensamos sempre em preservar nossa própria humanidade, mas não pensamos realmente na humanidade dos outros”, continua o ator.
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Hermit é irmão da híbrida Wendy (Sydney Chandler). Na série, criada por Noah Hawley e que se passa dois anos antes dos acontecimentos de “Alien, o oitavo passageiro” (1979), a Terra é dividida entre cinco grandes corporações.
A trama começa quando os passageiros de uma nave são atacados por alienígenas capturados e o veículo cai em uma das cidades da empresa Prodigy. O dono da corporação é o jovem trilionário Boy Kavalier (Samuel Blenklin), que, além do interesse nos seres recém-chegados, faz experimentos com robôs humanoides, os chamados sintéticos.
O principal projeto da Prodigy consiste em criar seres híbridos – sintéticos dotados de consciência humana – e lançar a fórmula da imortalidade ao mundo. Wendy e outras cinco crianças doentes, em estado terminal, se tornam cobaias do processo e têm suas consciências integralmente transferidas para corpos sintéticos. No entanto, quando isso acontece, elas deixam de ser consideradas humanas.
Com as informações fornecidas pela corporação, Hermit acredita que sua irmã está morta. Eles se reencontram após a queda da aeronave e ela já está no corpo robótico. “É ligeiramente um pesadelo para ele”, comenta Alex Lawther.
CITANDO SHAKESPEARE
O ator compara a história dos irmãos à peça “Conto do inverno”, escrita por Shakespeare, na qual Lawther já interpretou o Rei Leontes. Na trama, a esposa do monarca morre após ser acusada de traição e, anos depois, uma estátua feita em sua homenagem ganha vida. “É algo bonito, mas também meio horrível”, observa.
“É terrível porque eles são uma pessoa que você reconhece, mas completamente diferentes. Talvez seja o que um pai sente quando o filho cresce, porque se torna um agente livre. Há um luto que precisa acontecer quando você deixa o seu filho criança para encontrar a versão adulta dessa pessoa. Reconhecer a Wendy é uma ginástica mental para ele (Hermit) que continua ao longo da temporada”, completa.
Lawther, conhecido por interpretar James na série “The end of the f***ing world”, da Netflix, já participou de ficções científicas como “Black mirror” e “Andor”, da franquia “Star wars”. Para “Alien: Earth”, a preparação foi focada na relação entre os irmãos.
“Fiquei bastante obcecado com irmãos e a irmandade em todas as suas formas. Para um trabalho que você faz ao longo de seis meses, você quer coisas para te manter estimulado, porque é um processo longo. Gosto de procurar músicas que falem de irmãos ou assistir a filmes e ler livros que continuam me dando combustível”, explica.
Na vida real, Alex é irmão mais novo, enquanto Sydney Chandler, a atriz de Wendy, é irmã mais velha – relação inversa à dos personagens. Para fortalecer a ligação entre eles, os atores compartilharam fotos antigas de cada um, ao lado dos irmãos.
Na trama, os pais de Hermit e Wendy já estão mortos, e cabe a ele garantir a segurança da menina. Em meio a crianças que acreditam ser adultas, magnatas sedentos por poder e cientistas pensando no sucesso dos projetos, o personagem surge como uma das poucas vozes de razão diante dos perigos dos experimentos com alienígenas.
“Ele sente quase como se falasse uma língua diferente das pessoas ao seu redor, particularmente dos ‘adultos’, como Boy Kavalier ou os cientistas. Todos parecem motivados economicamente e não por cuidado. Mesmo que alguns, como a Dame Sylvia (terapeuta dos híbridos, vivida por Essie Davis), digam que estão lá para cuidar”, avalia o ator.
No sexto episódio, lançado em 9 de setembro, Hermit planeja fugir da ilha da Prodigy, onde são realizados os experimentos. Porém, Wendy estabeleceu uma forma de comunicação com os aliens e se recusa a abandonar o projeto. “Ele quer cuidar dela como se ainda fosse uma criança pequena, e ela não é, ela nunca mais será. Ele tem que aceitar isso, caso contrário, esse amor poderia ser bastante egoísta, como um pai ou uma mãe não permitindo que os filhos cresçam”, diz Alex.
Primeira produção da franquia ambientada na Terra, “Alien: Earth” desloca o foco dos monstros para os dilemas humanos, revelando as fragilidades das relações familiares. Nos episódios finais, promete intensificar os debates sobre poder, ambição e os limites éticos da ciência, sem perder de vista o horror corporal clássico que consagrou a saga.
“ALIEN: EARTH”
• Os dois últimos episódios da primeira temporada estreiam amanhã (16/9) e na próxima terça (23/9), respectivamente, às 21h, no Disney+, onde já estão disponíveis os seis primeiros capítulos.
* Estagiária sob supervisão do editor Enio Greco