Cinema

Diretor de 'O agente secreto' compara Wagner Moura a astro americano

Kleber Mendonça Filho cita James Stewart para definir o tipo de carisma do ator brasileiro, premiado no Festival de Cannes pelo papel no longa

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"O agente secreto", de Kleber Mendonça Filho, terá sua primeira sessão em Belo Horizonte nesta terça-feira (23/9), na abertura da CineBH. 

No trecho a seguir da entrevista que o cineasta concedeu ao Estado de Minas, ele fala sobre o início do projeto do filme e a participação de Wagner Moura no elenco. 

O diretor e o ator foram premiados no Festival de Cannes pelo filme, escolhido pelo Brasil como seu representante no Oscar.  

Qual o ponto de partida de “O agente secreto”? Uma imagem, um conceito ou o próprio título?
O título veio de um outro filme que eu queria fazer e com um ponto de partida totalmente distinto. Escrevi, dei tudo de mim, mas não consegui desenvolver o roteiro desse filme que se chamaria “O agente secreto”. Aí eu simplesmente desbloqueei o título para o novo filme.

Acho também que “Retratos fantasmas” (longa-metragem documental sobre cinemas de rua lançado em 2023) me deu muita base para esse filme. Quanto mais você se sente amparado por um tema, mais consegue informações que lhe comovem e estimulam, se sente mais à vontade para desenvolver uma ideia. Fiquei com vontade de ter o exercício técnico, estético e emocional de retratar o passado.


Você, então, tinha o título e o conceito. E a primeira imagem?
A primeira imagem é exatamente o primeiro plano do filme: o do posto de gasolina. Vem depois de uma sequência de fotografias de arquivo, que inicialmente seriam apenas de novelas, depois descobri muita foto incrível e misturei com registros do cinema brasileiro e alguma coisa da nossa música.

Hoje a primeira imagem do filme é uma foto de Os Trapalhões. O primeiro plano do filme é um prólogo que eu queria muito fazer: contar a história do posto de gasolina (na beira de uma estrada pernambucana em área de canavial, onde há um cadáver coberto por jornais e o personagem de Wagner Moura estaciona para abastecer).

Acho interessante essa sequência por causa do lugar, do isolamento. Gosto muito do frentista que acha bom que aquele homem morreu, mas ao mesmo tempo protege o corpo dos cachorros, gosto da forma como o personagem de Wagner reage ou lida com aquela situação, da chegada da Polícia Rodoviária Federal...

Por muito tempo, por mais que eu gostasse dela, morria de medo de alguém ler o roteiro e dizer: “Mas você não precisa dessa sequência de abertura”. É estranho, nunca ninguém falou isso. Todo mundo sempre gostou.

E me faz lembrar muito um filme chamado “Wake in fright” (“Pelos caminhos do inferno”, de 1972), que eu gosto muito: tem alguma coisa do cinema australiano ali, talvez pela paisagem e pelo posto de gasolina.


Este, então, foi o seu ponto de partida?
Teve também o desejo de trabalhar com Wagner (Moura). Pensava em todos os papéis que ele já tinha feito e queria que ele fizesse algo um tanto diferente. Porque vejo nele essa qualidade da estrela, do ator carismático, quase um James Stewart (ator norte-americano de filmes como “Janela indiscreta”, de Alfred Hitchcock).

Um cara que desperta empatia e você percebe que está tentando lidar com uma situação maior do que ele e, ao mesmo tempo, sem parecer um pateta, um fraco. Queria que fosse um personagem muito clássico. E fui entendendo que as coisas que aconteceram no Brasil nos últimos dez anos me davam autoridade para falar.

Como receber um telefonema completamente cretino de alguém da imprensa que está sendo usado com informações inventadas em laboratório sobre questões burocráticas do cinema para lhe atingir e você tem total certeza de que isso é uma falcatrua gigante que estão fazendo e é colocado numa posição de defesa, vivendo na realidade uma situação fictícia.

Tem que agir como um tipo de agente secreto. É uma situação muito dramática que também aconteceu com Wagner na época do lançamento de “Marighella” (filme dirigido pelo ator em 2019). Queria essa sensação de perplexidade no personagem e no filme. Tudo isso gera uma base emotiva que eu consigo acessar e que faz parte do filme.


Como referências regionais são capazes de impactar espectadores na França, na Austrália ou nos EUA?
Pela imagem. Um urso muito estranho coberto de palha com a cabeça vermelha dançando na estrada e se aproximando da câmera no carro é uma imagem forte, não importa que o australiano não saiba que é a La Ursa (personagem tradicional do carnaval pernambucano).

Mas acho que ele coloca na conta do cinema e da informação que é (na época do) carnaval, então talvez isso seja carnaval. E não esqueça que nós, brasileiros, consumimos regionalismos do mundo inteiro.

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