Longa uruguaio vence a CineBH
Rodado em Montevidéu, ‘Quemadura china’, de Verónica Perrotta, conta a história de siameses que se submetem a cirurgia de separação feita pelo irmão mais velho
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Siga noCom 101 filmes de 13 países e 17 estados brasileiros exibidos em seis dias de programação, a 19ª edição da CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte chegou ao fim no último domingo (28/9). O evento ocupou nove espaços da capital mineira e teve como foco reflexões sobre os caminhos do cinema latino-americano. Ao todo, mais de 15 mil pessoas participaram da programação, segundo dados dos organizadores.
A cerimônia de premiação dos vencedores ocorreu no Cine Theatro Brasil, que também sediou a abertura do festival, marcada pela exibição de “O agente secreto”, de Kleber Mendonça Filho. O longa premiado, “Quemadura china”, da uruguaia Verónica Perrotta, havia aberto a Mostra Território, no último dia 24.
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O longa nasceu como uma peça de teatro escrita e dirigida por Verónica em 2006. Anos depois, a história foi adaptada para o cinema. Filmado em apenas 11 dias em um clube abandonado em Montevidéu, o longa acompanha Annie (Verónica Perrotta) e Dani (Néstor Guzzini), irmãos siameses, e Willy (César Troncoso), irmão mais velho que realiza a separação cirúrgica dos dois quando eles já são adultos.
“É um filme que fala de amor”, afirma a diretora. Após o processo, Willy revela seu sentimento de exclusão em relação aos irmãos e um desejo de permanecer conectado a um deles.
“DRAMATURGIAS OUSADAS”
Verónica conta que, antes de desembarcar em Belo Horizonte, não conhecia o festival, mas aprovou a curadoria assinada pela Universo Produção e seus parceiros. “Eles escolheram filmes muito diversos e com texturas diferentes. Para mim, foi uma surpresa. Assisti a filmes maravilhosos e achei que qualquer um poderia ganhar este prêmio. São dramaturgias ousadas. Para mim, foi um grande reconhecimento”, afirma.
A Mostra Território contou com outros sete filmes em competição. “Bienvenidos conquistadores interplanetários y del espacio sideral”, de Andrés Jurado; “Chicharras”, de Luna Marán, que recebeu o prêmio de Melhor Presença; “Movimento perpétuo”, de Leandro Alves; “Punku”, de J. D. Fernández Molero, vencedor do Prêmio Abraccine; “Uma casa com dois cachorros”, de Matías Ferreyra; e “Huaquero”, de Juan Carlos Donoso Gómez, que conquistou o Destaque do Júri na categoria Montagem.
Paralelamente à Mostra, ocorreu a 16ª edição do Brasil CineMundi, evento de mercado do cinema brasileiro que apresentou 37 projetos de longa-metragem em diferentes fases de desenvolvimento, selecionados entre 245 inscritos.
O vencedor do júri oficial foi o alagoano “Filhas do mangue”, dirigido por Stella Carneiro e produzido por Rafhael Barbosa. O filme será realizado com os recursos garantidos pela premiação e deve ter coprodução com a França, tendo participado também do Marché du Film de Cannes, centro de negócios do festival francês.
GRANDE CONQUISTA
A inspiração para o longa são as vivências da diretora. Stella Carneiro precisou deixar Alagoas para estudar cinema, já que o estado não oferece curso na área. A história acompanha uma jovem que recebe uma bolsa para estudar economia, mas enfrenta um dilema, já que a família tem um restaurante à beira de uma lagoa e atravessa um momento de dificuldades financeiras.
“Saímos de BH com possibilidades de acordo muito interessantes, estamos muito mais próximos da realização do projeto”, comemora Rafhael Barbosa. “O prêmio do júri é uma conquista muito grande para nossa produtora. É a primeira vez que o cinema de Alagoas conquista este prêmio, e isso é muito importante para o audiovisual, pois abre caminhos para que outros projetos possam trilhar trajetórias semelhantes. É uma vitrine fantástica”, comenta.