Durante a pandemia, a pianista Luciana Noda estava atenta às lives que se multiplicavam pelo Brasil. Em uma delas, viu a Késia Decoté Rodrigues se apresentar com o toy piano, instrumento de brinquedo. Naquele momento, descobriu uma nova possibilidade para seus recitais.
Luciana lembra que o modelo dos concertos de piano foi estruturado no século 19 e pouco se alterou, mesmo depois de mais de 200 anos. Para ela, o toy piano abre caminho para a inovação.
“Estava muito preocupada em encontrar elementos que trouxessem alguma novidade e tirassem o pianista daquela posição fixa. Queria experimentar novos formatos e quando estou com o toy piano, troco de instrumento, converso com o público, exploro o palco. Além disso, tem a questão da perspectiva. De repente, saio do piano grande e me sento no chão para tocar”, explica.
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Luciana Noda comprou o primeiro piano de brinquedo em 2022. Atualmente, é a única toy pianista em atividade no Brasil e viaja pelo país com a turnê “Brasilidades”, que chega a Belo Horizonte nesta terça-feira (2/9), no Conservatório UFMG.
Antes de BH, ela passou por Recife e segue para Ituiutaba e Rio de Janeiro, depois de BH. O programa reúne canções brasileiras, com destaque para o bumba-meu-boi e danças de origem africana influenciadas pelo jazz e pelo blues.
A primeira composição para este brinquedo surgiu em 1948, a “Suite for toy piano”, do americano John Cage (1912-1992). A partir disso, o pequeno instrumento começou a ser difundido e encontrou reconhecimento na Europa.
No Brasil, ele ainda é pouco explorado. Luciana observa que grupos de rock metal costumam utilizá-lo em composições. O toy está presente no trabalho da banda Pato Fu, que em 2010 lançou o disco “Música de brinquedo” e, posteriormente, DVD e série.
O grupo mineiro tem feito vários shows nesse formato, inclusive com outros instrumentos “toys”. O próximo ocorrerá em 20 de setembro, às 17h, no Palácio das Artes.
Sonoridades
Segundo Luciana, o toy oferece outras sonoridades. “O piano de brinquedo tem só 25 teclas. Ele é pequeno, limitado e rudimentar. Não tem todos os recursos do piano tradicional Então, ele soa diferente. Traz muitas memórias de quem está ouvindo e sentimentos da infância”, explica.
No programa desta noite, há peças inéditas: “Suíte pra Lia” e “Sonata n.º1”, de Uaná Barreto; “Forgotten old and broken toys”, de Marcílio Onofre; “Passos 1”, “Passos 2” e “Miniaturas instantâneas”, de Carlos dos Santos, sendo as obras de Carlos e Marcílio compostas especialmente para toy piano.
Assim como Luciana, os três compositores têm trajetória acadêmica na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa, cidade onde ela mora.
O repertório terá também obras para piano tradicional criadas por três brasileiras, recorte que evidencia o interesse da pianista em valorizar a produção feminina na música clássica. São elas a paulista Lina Pires de Campos (1918-2003), autora de “Acalanto”; a paulista Clarisse Leite (1917-2003), compositora de “Ciclo de jazz”; e a carioca Monique Aragão, autora de “Tap dance”.
“BRASILIDADES”
Recital de piano com Luciana Noda. Nesta terça-feira (2/9), às 19h30, no Conservatório UFMG (Av. Afonso Pena, 1.534, Centro). Entrada franca.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria