O carioca Renato Pinheiro percorre o Brasil e países de língua portuguesa, há quase 10 anos, com a peça “Margem do rio: a de dentro”, adaptação de “A terceira margem do rio”, conto publicado por Guimarães Rosa em 1962. Nesta quinta-feira (4/9), o ator se apresenta pela primeira vez em Belo Horizonte, às 20h, no Teatro da Cidade.

A história do pai que abandona a família para viver isolado em uma canoa, no meio do rio, é conduzida pelo olhar do filho. Ele observa as reações da mãe e dos vizinhos, a tentativa frustrada de comunicação com o pai, revela sua própria luta para compreender e aceitar a ausência paterna.

Além de atuar, Renato Pinheiro assina direção e sonoplastia da peça. Revela que o conto o levou a refletir sobre as relações humanas, ressaltando a importância do cuidado, da transparência e do diálogo para aproximar as pessoas.

“O texto sempre me chamou a atenção pelo silêncio dentro daquela família. Às vezes, por falta de comunicação, de um abraço ou de um gesto de carinho, as pessoas se afastam”, observa.

“Margem do rio: a de dentro” estreou em 2016, durante festival literário carioca, em formato bem diferente do que se vê hoje. Na ocasião, Pinheiro apresentou apenas a leitura do texto original. Com o tempo, foi se aprofundando no conto, conheceu artistas e músicos que dialogam com o universo de Guimarães Rosa e incorporou novos elementos à encenação.

Nu!, uai: 'mineirês' no palco

As mudanças, no entanto, são sutis. Em Minas Gerais, por exemplo, o ator vai incluir no monólogo expressões regionais como “nu!” e “uai”.

“A adaptação é fiel de ponta a ponta. Quis preservar ao máximo. É uma obra muito perfeita para termos a audácia de mexer demais”, diz Pinheiro.

O cenário também se transforma a cada cidade. Há apenas alguns elementos fixos: duas garrafas, um lampião e o figurino. O restante vem do ambiente local, como galhos, folhas e árvores da região onde Renato se apresenta.

“São cenários vivos, e isso aproxima ainda mais a encenação da obra de Guimarães. Um dos personagens que se repete em todas as histórias é a natureza”, afirma.

Com o público posicionado no meio do rio, o ator estabelece troca direta com a plateia, fazendo perguntas e se dirigindo a ela.

Palhaços

Para 2026, quando “Grande sertão: veredas” completa 70 anos de lançamento, o ator prepara dois monólogos. Neles, personagens do romance ganharão vida como palhaços.

“Guimarães tem um jeito mágico de prender o espectador, de envolver, de fazer pensar e imaginar. Ele forma imagens na nossa cabeça, desperta curiosidade e surpreende sempre com desfechos inesperados”, conclui Renato Pinheiro.

“MARGEM DO RIO: A DE DENTRO”

Monólogo com Renato Pinheiro. Nesta quinta-feira (4/9), às 20h, no Teatro da Cidade (Rua da Bahia, 1.341, Centro). Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia), à venda na plataforma Sympla.

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