Três veteranos voltam para os EUA depois de lutarem na Segunda Guerra Mundial. Embora o clima seja de euforia no Tio Sam – quem não se lembra do famoso beijo na Times Square, registrado pelo fotógrafo Alfred Eisenstaedt? –, os três estão desolados. Traumatizados.


Al Stephenson (papel do ator Fredric March) abusa do álcool por não conseguir se adaptar à rotina familiar; Fred Derry (Dana Andrews) vê a esposa menosprezá-lo, pois prefere o marido fardado em combate a vê-lo reduzido a garçom de bar; e Homer Parrish (Harold Russell) tenta se conformar com a perda de uma das mãos.


Os três protagonistas de “Os melhores anos de nossas vidas”, filme que William Wyler lançou em 1946, são o retrato fiel do mundo pós-guerra, independentemente do lado em que se esteve no conflito: desajustado, arruinado e perturbado. É a história desses três homens que abre a mostra “1945: 80 anos depois”, no Cine Humberto Mauro, nesta terça.


Ao todo, serão exibidos, gratuitamente, 17 filmes até 15 de outubro. Tratam-se de produções dos EUA, Alemanha, França, Itália, Japão, Líbano, Reino Unido e União Soviética que, juntas, fazem um panorama de como a guerra influenciou a linguagem cinematográfica ao redor do mundo.

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“Com o fim da guerra, tivemos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a criação da ONU e todos os paradigmas que foram postos ali”, afirma o curador da mostra e gerente de cinema da Fundação Clóvis Salgado, Vítor Miranda.


“Tudo isso acabou se refletindo no cinema também. O neorrealismo italiano – em que os cineastas pegaram as câmeras e foram para as ruas filmar as ruínas da guerra –, por exemplo, influenciou profundamente o cinema em várias partes do mundo no século 20”, acrescenta.


Alguns desses longas influenciados pelo movimento italiano (seja de maneira direta ou não) estão na programação da mostra. Caso de “Expresso para Berlim”, no qual o diretor norte-americano Jacques Tourneur usa as ruínas da Alemanha como cenário (será exibido amanhã, às 17h); “Alemanha, ano zero”, do italiano Roberto Rossellini, que também tem as ruínas alemãs como cenário (em 2/10, às 17h); e “Hiroshima, meu amor” (3/10, às 17h), que, ícone da nouvelle vague, que compartilha com o neorrealismo o olhar direto para a devastação.

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Há também produções com pouca ou nenhuma relação com o movimento italiano, mas que têm o contexto de guerra como pano de fundo: “Godzilla”, de Ishiro Honda, lançado em 1954 (5/10, às 18h); “Julgamento em Nuremberg” (nesta terça-feira, às 19h30), de Stanley Kramer; e o clássico “A escolha de Sofia”, de Alan J. Pakula (3/10, às 19h).


“É uma seleção de filmes de países que estiveram em lados opostos no conflito, mas que refletem sobre o trauma da Segunda Guerra”, afirma Vítor. “É claro que cada um vai contar a história a partir de sua experiência, mas a mensagem em comum que todos passam é de paz, de que a guerra não faz sentido”, observa.


“1945: 80 ANOS DEPOIS”
Mostra de filmes, a partir desta terça-feira (30/9) até 15/10, no Cine Humberto Mauro (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Sessão de abertura com “Os melhores anos de nossas vidas”, hoje, às 16h; na sequência, a partir das 19h30, exibição de “Julgamento em Nuremberg”. Entrada franca. Programação completa no site fcs.mg.gov.br.

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