Lar do Clube da Esquina, o bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, recebeu o Quarteto Travessia no Festival Sabores e Sons de Minas para homenagear o cantor Lô Borges neste domingo (9/11). O artista, que morreu no dia 2 de novembro, ganha um tributo com grandes nomes da música.
Repleto de emoção e história, a apresentação contou com Gabriel Guedes, Fred Borges e Marcelo Dante que relembraram a obra e o legado de Lô. Além deles, outros amigos do artista, como Wilson Lopes, Rai Medrado, Bárbara Barcellos, Mário Wanser, Leopoldina e Artur Araújo marcaram presença no evento e enalteceram seu trabalho musical.
O tributo faz parte do Festival Sabores e Sons de Minas, evento que celebra a cultura e a gastronomia mineira. Junto ao Quarteto Travessia, outros parceiros do Clube da Esquina marcaram presença na apresentação. O show, previsto para começar às 13h, teve início às 13h45, mas o atraso foi ignorado quando iniciaram a cantoria com “Toda essa água”, acompanhada pelo público.
Em meio a palmas, vivas e emoção, as pessoas presentes seguiram acompanhando as músicas tocadas com alegria. Mesmo com o espaço lotado, as pessoas não deixaram de dançar e cantar os versos de “Quem sabe isso quer dizer amor” na sequência.
Nem mesmo um problema técnico, que cortou o som por alguns segundos, impediu que as canções deixassem de ser entoadas no evento. Enquanto Tadeu Franco puxava a música "Nós dois", de sua autoria, as caixas de som foram interrompidas temporariamente, mas o público cantou ainda mais alto. A participação de Tadeu seria apenas em duas músicas, mas o público pediu "mais um", e o cantor finalizou a contribuição com "Um sonho na correnteza", de Lô, e "Travessia", de Milton Nascimento.
Quarteto Travessia no Festival Sabores e Sons de Minas homenageando Lô Borges neste domingo (9/11)
'Faz o L de Lô Borges'
O cantor e sobrinho de Lô, Fred Borges, adiantou que o repertório foi pensado na discografia do tio, mas que os músicos pensaram em intercalar o show com outras músicas do Clube da Esquina.
"Faz o L de Lô Borges. Pelo momento que estamos passando, pensamos em cantar, principalmente, as músicas dele. Hoje o dia é dele", disse Fred, animado.
O sobrinho relatou que, apesar de viver um luto, ficou emocionado com a repercussão da morte de Lô. De acordo com ele, foi bonito entender que a obra do tio ultrapassa barreiras e gerações e que, daqui pra frente, Lô deixa um legado.
“Perceber que estão tão consternados quanto nós, da família. Uma coisa que eu vi várias pessoas chorando copiosamente na esquina. Lá é um lugar de homenagem pra trajetória do Lô, que é um legado imaterial e histórico da humanidade que não tem preço”, contou.
"É um sentimento misto, de tristeza e dor, visto que a partida dele foi muito recente, repentina, inesperada, mas também um sentimento de gratidão, de alegria divina, de perceber o quanto o Lô era amado e querido. Continua sendo amado e querido, porque a arte vive, permanece no meio de nós e o que cabe a nós, as novas gerações, é perpetuar, expandir e preservar todo esse legado, toda essa memória, toda essa influência do Lô", continuou.
De acordo com o sobrinho, Lô é a essência do rock e "o dono da Esquina". Com isso, deixou uma legião de músicos e admiradores de fãs que torcem em todo o Brasil. Para ele, nada melhor que a música para aplacar o luto, além de toda o carinho e solidariedade que tem recebido dos fãs. "As emoções vão continuar fluindo aí no nosso peito, no nosso coração e vamos tentar manter essa chama acesa e viva da música de Lô Borges", concluiu.
Leia Mais
Outras homenagens
Nesse sábado (8/11), a missa de sétimo dia de Lô Borges, realizada na Paróquia Santa Teresa e Santa Teresinha, em BH, também foi palco de homenagens. Amigos, familiares e corais entraram os conhecidos versos de “O Trem Azul” e “Quem sabe isso quer dizer amor”, composições do cantor que transcenderam gerações na cena musical brasileira.
Os corais Ensaio Aberto, Coral do Hospital Felício Rocho e Madrigal Scala realizaram as homenagens na igreja lotada ao final da missa. A primeira música tocada pelos corais foi “O Trem Azul”. A princípio, apenas os familiares e amigos próximos de Lô cantaram o sucesso, mas, depois, todos os presentes seguiram com a música, conhecida pelo verso “Você pega o trem azul, o sol na cabeça”.
Antes do jogo entre Cruzeiro e Fluminense começar, na tarde deste domingo (09/11), o time celeste dedicou um minuto em silêncio para Lô - cruzeirense nato. A Raposa e o Tricolor se enfrentam pela 33ª rodada da Série A do Campeonato Brasileiro, no Mineirão, na Região Pampulha, em BH.
A imagem do músico foi projetada nos telões do estádio e um minuto de silêncio foi feito em homenagem a ele
A cantoria comoveu os presentes, envolvendo-os em lágrimas e vivas. Em seguida, o sobrinho do cantor, Rodrigo Borges, cantou “Quem sabe isso quer dizer amor” enquanto tocava violão. Em pouco tempo, toda a igreja engajou e participou da homenagem. Segundo Rodrigo, a beleza e o reconhecimento do trabalho do de Lô devem ficar marcados.
Contribuição para a MPB
A partida de Lô Borges relembrou a atemporalidade de seu legado e do grupo Clube da Esquina, no qual foi um dos fundadores, que continuam a inspirar a nova cena musical de Belo Horizonte.
O músico lançou um disco por ano entre 2019 e 2025, mas se destacou como um dos nomes mais influentes da música brasileira há décadas. O Clube da Esquina, nascido nos encontros na capital mineira no fim dos anos 1960, segue moldando a identidade de várias gerações.
O Clube da Esquina foi um coletivo de amigos que revolucionou a MPB. Formado por Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges, Toninho Horta e Beto Guedes, o resultado do movimento foi uma sonoridade única, com harmonias sofisticadas e letras poéticas reconhecidas mundialmente.
Lô foi coautor, junto a Milton Nascimento, do álbum "Clube da Esquina", lançado em 1972, um divisor de águas na música brasileira. Sua parceria com Milton começou cedo, com composições como "Para Lennon e McCartney" e "Clube da Esquina", presentes no disco Milton, de 1970.
Descrito como um "craque em harmonias e melodista habilidoso", o artista sempre esteve à frente do seu tempo. Sua música se destacou pela fusão de influências, misturando Beatles, baião, psicodelia, jazz, pop, rock progressivo e MPB.
Seu primeiro disco solo, o "Disco do Tênis", de 1972, que contém o sucesso "O Trem Azul", tornou-se um clássico cult e demonstrou sua capacidade inventiva. O álbum teve reconhecimento posterior, chegando a ser citado como influência por artistas internacionais, como Alex Turner da banda Arctic Monkeys.
Lô se manteve como um compositor produtivo ao longo da vida, gravando dezenas de discos. Durante o confinamento da pandemia, por exemplo, chegou a compor cerca de 40 músicas. Segundo o irmão, Yé Borges, ele vinha compondo compulsivamente e deixou quatro álbuns de músicas inéditas prontos – dois deles já mixados.
Músicas tocadas
- Toda essa água (Lô Borges)
- Quem sabe isso quer dizer amor (Lô Borges)
- Clube da Esquina (Milton Nascimento)
- Paisagem da Janela (Milton Nascimento)
- Vento de maio (Lô Borges)
- O Trem Azul (Lô Borges)
- Tudo o que você podia ser (Milton Nascimento)
- Clareia (Flávio Venturini)
- Nenhum mistério (Lô Borges)
- Equatorial (Lô Borges)
- Nós dois (Tadeu Franco)
- Um sonho na correnteza (Lô Borges)
- Travessia (Milton Nascimento)
- Clube da Esquina II (Flávio Venturini)
- Fé cega, faça amolada (Milton Nascimento e Beto Guedes)
- Ponta de areia (Milton Nascimento)
- Trem de doido (Lô Borges)
- A força do vento (Lô Borges)
- Caçador de mim (Milton Nascimento)
- Nada será como antes (Beto Guedes e Milton Nascimento)
- Para Lennon e McCartney (Milton Nascimento)
- Girassol da cor de seu cabelo (Lô Borges)
- Maria, Maria (Milton Nascimento)
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Serviço
A Feira do Mercado de Santa Tereza é um espaço tradicional da cidade e símbolo da cultura local, com ambiente coberto e entrada gratuita.
O que? Festival Sabores e Sons de Minas
Quando? Domingo (9/11), de 10h às 18h
Onde? Mercado Distrital do Santa Tereza — Rua São Gotardo, 273, Santa Tereza, BH
Quanto? Entrada gratuita
