Há dois anos Djavan vem fazendo shows em grandes espaços, para públicos maiores do que os dos teatros que tradicionalmente o receberam. A partir de 2026, a exemplo de seus pares (Milton, Caetano, Gil, Bethânia), chega também aos estádios e arenas. O anúncio da turnê “Djavanear 50 anos. Só sucessos” acontece junto ao lançamento de seu novo álbum, “Improviso”, que chegou nesta semana às plataformas digitais.
Leia Mais
Em 2026, o músico atinge os 77 anos de vida (em 27 de janeiro) e os 50 de carreira, iniciada em 1976, com o álbum “A voz, o violão, a música de Djavan”. Tal trabalho já contava com os agora clássicos “Flor de Lis” e “Fato consumado”. Essas canções estarão certamente na turnê, que vai percorrer todas as regiões do país, a partir de 9 de maio, no Allianz Parque, em São Paulo. Em Belo Horizonte, o show será em 18 de julho, em local ainda a ser anunciado.
“Embora (o show em arena ou estádio) seja inegavelmente diferente do que num teatro, depois que você chega ao palco, é tudo igual. Acredito que uma pessoa com menos tempo de carreira pode ter um abalo maior (diante de um público de muitos milhares de pessoas). Até começar o show, tenho certa apreensão, mas para quem tem uma carreira mais longa, a coisa passa mais rápido”, afirma ele.
Além de shows de maior porte, Djavan tem experimentado, no pós-pandemia, um público mais jovem. “A busca da geração Z pela minha música se acentuou nos últimos anos. Acho que é porque ela tem vários elementos que acabam tocando todas as gerações”, diz.
Estúdio em casa
A despeito desse interesse, a maneira de fazer música – ele compõe, arranja e produz seus próprios discos – não muda. “Improviso” nasceu em seu próprio quintal, o estúdio Em Casa, e traz 11 faixas inéditas – Djavan assina sozinho letra e música – e a gravação de “O vento” (da parceria com Ronaldo Bastos).
A canção tem origem numa encomenda de Gal Costa (1945-2022), que a gravou no álbum “Lua de mel como o diabo gosta” (1987). “Ela foi a minha maior intérprete, gravou 13 músicas minhas. Como era também uma grande amiga, queria fazer uma homenagem a ela”, comenta Djavan. Ainda que não tenha sido concebido como tal, “Improviso” é um disco que celebra o amor – feliz, infeliz, da saudade, universal.
A faixa que traz a melhor história do disco é a ainda a mais suingada do novo trabalho. Também da safra 1987, “Pra sempre” nasceu de uma encomenda de Quincy Jones (1933-2024) para ninguém menos do que Michael Jackson (1958-2009). Seria para o álbum “Bad”, lançado naquele mesmo ano.
“O Quincy me pediu uma música sem letra. Eu fiz, mas me desempolguei, achei que aquilo não iria resultar em nada. Fiquei na dúvida, meus filhos me instigando a mandar. Quando mandei, ele já estava mixando o disco, para você ver o tempo que demorei. Na época, eu estava gravando nos Estados Unidos e o Quincy promoveu um encontro meu com o Michael Jackson, no estúdio em que ele estava mixando. Foi maravilhoso. O tempo passou e agora, os meninos insistindo de novo, então resolvi fazer a letra e gravei”, conta Djavan.
Ele não mudou nada na música. A letra de “Pra sempre” faz menção à voz, à dança e à presença do astro: “Cê se foi mas não foi/Não saiu daqui/Para o bem de todos nós/Com os passos que fez/Faz o milagre que faz/E o que dirá a voz”. Ao final, Djavan fica cantando baixinho “Michael Jackson/Michael Jackson” de um jeito que não sai da cabeça.
Filhos na banda
São cinco décadas de carreira e uma média de um álbum a cada dois anos. Para “Improviso”, Djavan gravou com a banda que o acompanha nas duas últimas décadas. A base é formada por Torcuato Mariano (guitarras), Marcelo Mariano (baixo), Felipe Alves (bateria) e Paulo Calasans e Renato Fonseca (pianos e teclados). Há algumas participações, como a de Marcos Suzano na percussão de “Um affair”, canção que abre o disco. “Os meninos” de que ele fala são os filhos, o baterista João e o guitarrista Max Viana, que também participaram do álbum.
“São todos músicos com os quais tenho uma troca musical inteligível”, afirma Djavan, que segue religiosamente o mesmo processo criativo. “Na cronologia da gravação, primeiro vêm as bases (baixo, guitarra, bateria, piano ou violão, se for o caso), depois os metais e cordas, se tiver. Por último, a voz. Quando começo a compor, não faço a letra. No momento da voz é que me sento para fazer a letra. Gosto de fazer música já estando dentro do estúdio, pois a atmosfera dá uma inspirada.”
Falar de amor, como ele o faz em canções como “Pra nunca mais esquecer” – esta com um acento jazzy – e no samba “Cetim”, foi uma forma de ser universal. “Amor é um sentimento dinâmico , que comanda todas as ações do universo. Por isso, ele não se repete”, acrescenta ele, que descobriu o que queria da vida muito jovem. “Aos 13 anos, tive acesso à discoteca de um homem, o Dr. Ismar Gatto, que me mostrou todo o tipo de música do mundo. Naquele momento, descobri que queria ser um artista diverso.”
“IMPROVISO”
• Álbum de Djavan
• Luanda Records
• 12 faixas
• Disponível nas plataformas digitais
