CHOQUE ECONÔMICO

Tarifaço resultará em perda de R$ 4,7 bilhões no PIB de Minas Gerais

Com as tarifas adicionais de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os EUA está previsto ainda redução de mais de 30 mil empregos no estado

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Entram em vigor nesta quarta-feira (6/8) as tarifas adicionais de 40% sobre uma ampla gama de produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, que estavam sujeitos a tarifas de 10%, desde abril deste ano, conforme decreto assinado pelo presidente americano Donald Trump no último dia 30. Apesar da isenção concedida a 694 produtos (correspondentes a 45% do valor exportado pelo Brasil ao mercado norte-americano), as medidas terão forte impacto na economia nacional e no âmbito estadual, com a previsão de um baque de R$ 25,8 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e perda de R$ 4,7 bilhões no PIB de Minas Gerais, devendo provocar ainda a redução de mais de 30 mil empregos no estado em um prazo de até dois anos.


Os números são de estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). A partir do levantamento sobre os efeitos danosos do “tarifaço” americano, a entidade encaminhou ao governo estadual um plano emergencial, com “propostas para redução dos impactos tarifários no setor industrial mineiro”. Em resposta, o governador Romeu Zema anunciou um pacote de “medidas de proteção ao comércio exterior de Minas Gerais em razão dos riscos pelo tarifaço dos EUA”, que tem como destaque uma linha de financiamento no total de R$ 200 milhões do Banco Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e a monetização de crédito do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), no total de R$ 100 milhões por ano, para as empresas exportadoras atingidas.


O estudo da Fiemg aponta que em horizonte de cinco a 10 anos, as perdas geradas em decorrência do aumento de tarifas das exportações brasileira decretado por Donald Trump podem ultrapassar R$ 15,8 bilhões no PIB mineiro e eliminar mais de 172 mil postos de trabalho no território mineiro. “Os efeitos recaem principalmente sobre os setores de siderurgia, pecuária, fabricação de produtos da madeira e calçados”, argumenta a federação das indústrias. A entidade pontua ainda que, na agropecuária, destaca-se o impacto sobre a cadeia da carne bovina, que segue fora da lista de isenções tarifárias e representa parcela significativa da pauta exportadora nacional.


A entidade lembra que Minas Gerais é o terceiro maior estado brasileiro exportador para os Estados Unidos, com US$ 4,6 bilhões em exportações em 2024, e também será significativamente afetado. “O estado terá aproximadamente 37% de suas exportações isentas, com destaque para itens como ferro fundido, ferro-nióbio e aeronaves. No entanto, 63% da pauta mineira permanece sujeita à tarifa, atingindo produtos como café, carnes bovinas e tubos de aço”, sustenta a Fiemg.


Simulação feita pela entidade mineira estima que a imposição da tarifa pelo presidente americano pode reduzir o PIB brasileiro em R$ 25,8 bilhões a curto prazo, e até R$ 110 bilhões a longo prazo. A perda de renda das famílias poderá alcançar R$ 2,74 bilhões em até dois anos, além da redução de 146 mil postos de trabalho formais e informais no mesmo período.


Segundo o levantamento da Fiemg, o Brasil exportou aproximadamente US$ 40,4 bilhões aos EUA em 2024, o equivalente a 1,8% do PIB nacional. Metade desse valor está concentrado em combustíveis minerais, ferro e aço, e máquinas e equipamentos – setores diretamente afetados pelas novas tarifas. Os produtos brasileiros que seguem sujeitos à taxação representam cerca de 55% das exportações ao mercado americano, somando aproximadamente US$ 22 bilhões. Entre os itens mais impactados estão café, carne bovina, produtos semimanufaturados de ferro e aço e produtos manufaturados.


“A imposição dessas tarifas, ainda que parcialmente suavizada pelas isenções, foi unilateral e sem negociação com o governo brasileiro. É fundamental que o Brasil atue diplomaticamente para ampliar o número de produtos isentos, preservar sua competitividade no mercado internacional e proteger empregos e investimentos nacionais”, destaca o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe.

PLANO EMERGENCIAL

No plano emergencial encaminhado, com as “propostas para redução dos impactos tarifários no setor industrial mineiro”, a Fiemg solicitou ao governo do estado as seguintes medidas:
- Lançar programa especial de negociação de débitos de ICMS com condições facilitadas, mesmo em casos de execução judicial ou parcelamento anterior rompido;

- Suspender por 180 dias os prazos de condicionantes ambientais, relatórios e pagamentos de taxas e DAEs (Declaraçõoes Ambientais de Empreendimento) ligados à área ambiental;


- Autorizar parcelamento sem juros de contas da Cemig e Gasmig em até 12x;


- Permitir “take measured” (a liberação para ação prática) nos contratos de gás e energia. Aceitar pagamento com créditos de ICMS;

- Instituir um fundo estadual que viabilize o custeio parcial ou total de despesas relativas à participação de empresas mineiras em missões internacionais, com prioridade para aquelas organizadas ou reconhecidas pelo governo de Minas Gerais.

Frutas como a manga também estão na mira do tarifaço do governo norte-americano, que entra em vigor hoje
Frutas como a manga também estão na mira do tarifaço do governo norte-americano, que entra em vigor hoje Maria Tereza Correia/EM/D.A Press

AÇÕES DO GOVERNO DE MINAS


O governo de Minas Gerais, procurado pela reportagem, anunciou que, “mantendo o diálogo com quem produz no estado”, adotou uma série de medidas em resposta aos possíveis impactos pelo tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros anunciado pelos Estados Unidos. Destacou que no último dia 30, o governador Romeu Zema esteve reunido com mais de 150 empresários, incluindo lideranças comerciais que devem ser impactadas pelo aumento das tarifas.


O encontro aconteceu na sede da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), mediado pelo presidente da instituição, Flávio Roscoe, e contou com a participação dos secretários de Desenvolvimento Econômico, Mila Corrêa da Costa, e da Fazenda, Luiz Cláudio Gomes, juntamente com os presidentes do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Gabriel Viégas Neto, e da Cemig, Reynaldo Passanezi Filho.


O governador Romeu Zema anunciou como primeira medida adotada, diante de “cenário incerto dos próximos meses”, a monetização do crédito de ICMS acumulado pelas empresas. O total de créditos será de R$ 100 milhões por ano. O acesso será simplificado de forma a agilizar o socorro aos exportadores afetados pelo tarifaço dos EUA’, informa o governo estadual.


A segunda medida informada pelo Executivo estadual para o atendimento emergencial aos exportadores atingidos pelo aumento das tarifas do governo Trump é a criação de uma linha de crédito do BDMG, no total de R$ 200 milhões, com juros reduzidos, pagamento em até 60 meses e carência de 12 meses.
“Conversei com os empresários e coloquei o governo de Minas à disposição, e vamos fazer de tudo para que a situação seja amenizada. Infelizmente, não temos poder para resolver essa situação, mas estamos à disposição para diminuir os impactos”, disse Romeu Zema ao explicar que cabe à União a interlocução permanente com os EUA e demais países.


O governo de Minas informou que também atua em outras frentes para tentar minimizar os impactos da ação, como a abertura de novos mercados, diversificando os destinos, ação que já tem sido feita pela atual gestão ao longo dos anos.


“ Além disso, o contínuo diálogo com os setores produtivos, para avaliar se serão necessários novos suportes, além do fornecimento de dados aos negociadores brasileiros para demonstrar os impactos para a economia estadunidense – no caso do café e do açúcar, por exemplo, o importador americano deve ter dificuldade de suprir a demanda caso, de fato, opte pelas taxações aos fornecedores brasileiros”, divulgou o governo mineiro.

IMPACTO NO AGRO

As tarifas adicionais de 40% sobre os produtores brasileiros exportados para os Estados Unidos, que entram em vigor hoje, vão trazer uma série de efeitos negativos para o agronegócio nacional, com grande reflexo no segmento agrícola mineiro, especialmente na produção de café e de carne, e na fruticultura, com reflexos também na atividade de mineração (por conta do impacto nas florestas plantadas de eucaliptos). O cenário negativo é avaliado pela Gerência de Agronegócio da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais – Sistema Faemg/Senar.


Entre os impactos negativos para o agro mineiro decorrentes do tarifaço, a equip Faemg/Senar aponta: perda de fatia de mercado nos EUA para os produtos café e proteína animal, produtos chaves do agronegócio mineiro; queda de margens aos produtores e exportadores; risco de desestímulo à produção interna; excesso de oferta interna, com preços comprimidos e fluxo de caixa comprometido; e “efeitos no PIB, nos empregos, nas receitas governamentais, no desenvolvimento regional, conforme estimado por estudo do BDMG”.


A gerência de agronegócio da Faemg chama atenção para os impactos do tarifaço nas exportações de café, que tem Minas Gerais como maior produtor nacional. Os técnicos lembram que estimativas da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) indicam redução de até 25% no valor exportado para os Estados Unidos, com impacto também nos contratos de cafés especiais – categoria na qual Minas Gerais se destaca.


“Os EUA são o principal importador do café brasileiro, respondendo por cerca de 16,7% das exportações em 2024, equivalendo a quase US$ 2 bilhões. E o Brasil, como maior fornecedor para aquele país, entende-se que é quase insubstituível no curto prazo, ainda mais em se considerando a indisponibilidade de produto de outras origens”, observa a equipe técnica do Sistema Faemg/Senar.


“Pontualmente em Minas Gerais, os impactos são diretos para produtores de cafés especiais e solúveis, com forte ligação ao mercado dos Estados Unidos”, pontua a gerência de Agronegócio da Faemg. “Entendemos que apesar do choque, há resiliência: o consumidor americano dificilmente abandonará o café nacional e mineiro por completo, mas a cadeia sofre com margens espremidas e queda de demanda”, acrescenta.


A Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), sediada no município homônimo, no Sul de Minas, é maior cooperativa de café do Brasil, sendo também uma das maiores exportadoras do produto do país. No entanto, procurada, a Cooxupé, por meio de sua assessoria, alegou que "não estão comentando" sobre a questão do aumento das tarifas imposto pelo governo americano.

Impacto na carne mineira

Os Estados Unidos são o segundo maior mercado para a carne bovina brasileira, com cerca de US$ 1,3 bilhão exportado no primeiro semestre de 2025. A aplicação da tarifa adicional pelo governo americano eleva as alíquotas em até 76% comparadas as atuais tarifas atuais, de 26,4%. Com isso, as exportações de carne brasileira poderão ter uma perda de US$ 1,3 bilhão em 2025, podendo ultrapassar US$ 3 bilhões nos anos seguintes, caso a medida persista, projeta a Associação Brasileira de Frigoríficos Abrafrigo.


Os efeitos do tarifaço americano também serão expressivos para a carne bovina em Minas Gerais. O estado concentra o segundo maior rebanho bovino do país. “Poderá haver um impacto na economia mineira em decorrência da sobretaxa imposta pelos Estados Unidos sobre os produtos cárneos exportados”, afirma o presidente da Associação de Frigoríficos de Minas Gerais, Espírito Santo e Distrito Federal (Afrig), Sílvio Silveira.


“Embora em Minas Gerais os frigoríficos exportadores para o mercado americano já tenham diminuído ou eliminado seus negócios com compradores americanos quando houve a taxação de 10% e redirecionado suas exportações para outros países, há o risco de um grande aumento na oferta interna de produtos, o que levará à redução da rentabilidade tanto para frigoríficos quanto para pecuaristas”, complementa Silveira.


“A descapitalização setor frigorífico – que já vem sofrendo perdas financeiras significativas nos últimos anos – pode inviabilizar projetos de empresas que necessitam investir e modernizar a sua produção e até mesmo comprometer sua capacidade operacional, o que levará ao fechamento dessas indústrias”, alerta o presidente Afrig.


Silveira lembra que entre as “medidas urgentes” para superar a taxação americana estão o “direcionamento da produção para outros mercados, “o que não é tarefa simples”, “a oferta de capital de giro a juros exequíveis para os empresários manterem as unidades em funcionamento” e a “eliminação de taxas cobradas pelo estado e municípios que incidem sobre a produção de produtos cárneos fiscalizadas por esses entes federados”.

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