Posts que repercutem uma operação de venda de minas de níquel no Brasil pela empresa britânica Anglo American à chinesa Minmetals, mesmo tendo recebido uma oferta maior da Corex Holding, sediada na Holanda. Os autores das publicações associaram a transação à relação comercial entre os governos do Brasil e da China, sem considerar que são empresas privadas que estão envolvidas na operação.
Leia Mais
A mineradora britânica Anglo American vendeu suas minas de níquel no Brasil para a chinesa Minmetals por US$ 500 milhões, apesar de a holandesa Corex Holding ter oferecido US$ 900 milhões pelas mesmas minas. A operação foi questionada pela Corex em órgãos brasileiros como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) usou como gancho a notícia da transação para acusar o “governo Lula” de estar “vendendo o Brasil para a China”, em uma publicação no X. Para isso, ele utilizou uma captura de tela de uma matéria do portal Poder360, publicada em 25 de agosto, que, inicialmente, trazia um título que reduzia a compra e venda a uma operação entre Brasil e China. Porém, o veículo alterou o título de sua matéria para “Anglo American vende minas de níquel no Brasil à China apesar de proposta maior” e a versão capturada por Flávio Bolsonaro não está mais no ar.
Victor Brandão, da equipe de Relações Governamentais da BMJ Consultores Associados, especializada em consultorias entre entidades públicas e privadas, explicou ao Comprova que a atuação do governo brasileiro do ponto de vista regulatório deve acontecer por meio do Cade, que já foi acionado e está investigando a transação. Pelo fato de que, com a compra, a China irá passar a produzir mais de 50% do níquel no Brasil, Brandão considera que, sim, o Cade precisará deliberar a respeito.
Leia Mais
O Comprova também entrou em contato com a Agência Nacional de Mineração (ANM), que respondeu de forma similar ao consultor. Segundo o órgão, vinculado ao Ministério de Minas e Energia, “eventuais negociações comerciais envolvendo ativos minerários são de responsabilidade exclusiva das empresas interessadas”. Ou seja, cabe à titular dos direitos minerários decidir a quem pretende ceder seus ativos, inclusive no que se refere a valores e condições de mercado.
ANM afirmou não regular esse tipo de negociação, mas pode analisar e aprovar, posteriormente, quando cabível, se a nova empresa cessionária atende aos requisitos legais mínimos e se cumpre as normas que regem a cessão de direitos minerários no Brasil. A agência também frisou o papel do Cade na análise de fusões e aquisições econômicas.
Também procurada, a Anglo American explicou que escolheu uma oferta de menor valor pela “qualidade geral da proposta” – incluindo garantias financeiras, capacidade técnica, histórico operacional e estrutura corporativa robusta. “A MMG é uma empresa de capital aberto, com valor de mercado de aproximadamente US$ 4,7 bilhões, reconhecida internacionalmente por operar de forma segura e responsável, com condições sólidas para investir no desenvolvimento de longo prazo dos ativos adquiridos”, defendeu a britânica, que está se desfazendo de seus ativos em níquel no Brasil.
O empresário turco Robert Yildrim, dono do conglomerado que detém a Corex, deu entrevista à Folha sobre ter perdido a concorrência. Ele disse que “esperava um tratamento justo e uma explicação”. “Foi a primeira vez que vi isso e já comprei empresas em 58 países. Nunca vi um vendedor recusar aumento de preço. Pediram carta bancária, entreguei. Não viram problema de financiamento. Ainda assim, ficamos de fora. Isso me feriu muito”, disse Yildrim, que também acionou a Comissão Europeia para investigar a transação.
Fontes consultadas
Victor Brandão, integrante da equipe de Relações Governamentais da BMJ, ANM, Anglo American e reportagens sobre o tema. Tentamos contato com o Cade, mas não houve retorno.
Por que o Comprova contextualizou este assunto
O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.