‘Carro não é meu’, diz suspeito de matar gari sobre veículo usado no crime
A afirmativa foi dada em audiência de custódia realizada nesta quarta-feira (13/8). Renê da Silva Nogueira Junior está preso preventivamente
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Siga noRenê da Silva Nogueira Junior, de 47 anos, suspeito de matar o gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44, alegou que o carro flagrado no local do crime não era dele. A afirmativa foi dada em audiência de custódia realizada nesta quarta-feira (13/8). “Meu carro não é um elétrico, é um híbrido”, argumentou o suspeito de cometer o crime ocorrido na manhã dessa segunda-feira (11/8) no Bairro Vista Alegre, Região Oeste da capital mineira.
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Em audiência, Renê alegou ainda que o carro registrado nas imagens, que foram mostradas a ele na abordagem policial, apresentava uma lateral cromada, detalhe que o veículo dele não teria. “Não são os mesmos carros”, disse o suspeito aos policiais, de acordo com depoimento dele.
De acordo com boletim de ocorrência da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), ao ser abordado no estacionamento de uma academia na tarde de segunda-feira, o suspeito afirmou que “não participou do episódio, e que sua esposa é delegada da Polícia Civil de Minas Gerais, que o veículo abordado estaria em nome da servidora." Ainda segundo o registro, ele teria dito também que "a policial teria uma arma de fogo do mesmo calibre da que foi utilizada no homicídio."
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O boletim de ocorrência também informou que o modelo do carro flagrado na cena do crime era um BYD Song Plus na cor cinza.
Localizado pelo carro
Ainda segundo registro policial, o suspeito de cometer o assassinato foi localizado por meio de informações de uma testemunha, que lembrou de parte da placa do carro e pela consulta de câmeras de segurança, cujas imagens capturaram outros caracteres. Além disso, a polícia militar fez levantamentos que possibilitaram identificar o condutor, reconhecido pelas testemunhas como autor do disparo.
Prisão preventiva
Renê da Silva Nogueira Júnior teve a prisão em flagrante convertida em preventiva pela Justiça, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). De acordo com a decisão judicial, a prisão preventiva do réu é necessária para garantir a ordem pública, dada a gravidade do crime é o modus operando utilizado. Isso porque, segundo a ata da audiência, o crime foi cometido "em plena luz do dia, por motivo fútil, uma aparente irritação decorrente de uma breve interrupção no trânsito".
"A desproporcionalidade e a frieza da ação, na qual o autuado, após uma breve discussão, deliberadamente sacou uma arma de fogo, a preparou para o disparo e atirou contra um trabalhador que exercia seu ofício, uma atividade pública essencial de limpeza da cidade, demonstram uma periculosidade acentuada e um total desrespeito pela vida humana. Tal conduta abala profundamente a tranquilidade social e gera um sentimento de insegurança na comunidade, indicando que a liberdade do autuado, neste momento, representa um risco real à ordem pública", informa o documento.
Outro agravante citado na audiência foi o fato de que Renê, mesmo diante de um contratempo, ao ter deixado o carregador cair, se abaixou para pegá-lo e reinserir na arma. A atitude, conforme a Justiça, demonstra que não foi um ato de impulso momentâneo, mas "uma decisão consciente e voluntária de usar a violência, com a finalidade de ceifar a vida alheia". Os depoimentos das testemunhas corroboram com o ponto citado na audiência.
Além disso, na ata da audiência, o juiz informa que o acusado responde pelo crime de lesão corporal grave no Estado de São Paulo, o que representa uma personalidade violenta. O "descontrole emocional e uma perigosa predisposição para o uso da violência letal como primeira resposta a contrariedades do cotidiano", escreveu o magistrado.
Ainda durante a audiência de custódia, a defesa do suspeito solicitou a não realização de fotografias do empresário dentro da unidade prisional e a disponibilização de um colchão para ele. Outro pedido foi que o fornecimento de atendimento médico e medicamentos a ele.
Como foi o crime?
O gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44, foi morto com um tiro na barriga na manhã dessa segunda-feira (11/8), em uma discussão de trânsito no bairro Vista Alegre, Região Oeste de Belo Horizonte. Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Militar (PM), ele trabalhava na coleta de lixo junto a outros garis quando a motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, de 42 anos, parou e encostou o veículo para permitir a passagem de um carro, modelo BYD, conduzido pelo empresário Renê da Silva.
De acordo com testemunhas, Renê abaixou o vidro e gritou para a condutora que, se alguém encostasse no carro dele, mataria a pessoa. Diante da ameaça, os garis, incluindo Laudemir, pediram que o motorista se acalmasse e seguiram orientando-o a continuar o trajeto. Ainda assim, ele desceu do veículo visivelmente alterado, apontou uma arma para o grupo e disparou, atingindo Laudemir.
A vítima foi socorrida e levada ao Hospital Santa Rita, no bairro Jardim Industrial, em Contagem, na Grande BH, mas morreu no local.
Testemunhas
Ao Estado de Minas, o gari Tiago Rodrigues, que presenciou o assassinato do colega, relatou que o suspeito agiu com frieza durante todo o ataque. Segundo ele, Renê não parecia estar fora de si. “Ele estava frio, sem sentimento. Não tem essa de ‘fora de si’. Assim que atirou, ele entrou no carro como se nada tivesse acontecido e foi embora”, contou.
Tiago contou que a equipe de limpeza chegou a dar passagem ao empresário, que já se aproximava de forma ameaçadora. Ele disse ter tentado apaziguar a situação, pedindo que o motorista seguisse seu caminho em paz, já que os garis apenas cumpriam o trabalho. “Naquela hora, eu gritei: “Você vai dar um tiro na mulher trabalhando? Vai matar ela dentro do caminhão?”.
O gari relatou que o suspeito teria seguido com o carro, mas logo parado o veículo, descido, sacado a arma e dito: “Vocês estão duvidando de mim?”. Depois disso, Tiago disse que gritou questionando se o homem ia atirar neles, que estavam trabalhando. Em seguida, Laudemir de Souza Fernandes foi atingido por um tiro no abdômen.
Em seu depoimento à polícia, o também gari Evandro Marcos de Souza, de 35 anos, contou que o suspeito chegou a mirar contra a cabine do caminhão e ameaçar “dar um tiro na cara” da motorista. Ao ultrapassar o veículo, Renê teria desembarcado já com a arma em punho. Eledias confirmou a versão do colega e ainda disse à polícia que havia espaço suficiente para o carro passar sem que fosse necessário o tom agressivo.
Quem é o suspeito de matar gari?
Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos é o principal suspeito de matar o gari Laudemir de Souza Fernandes. Ele foi desligado da empresa onde trabalhava no dia seguinte à repercussão do crime.
No perfil dele no Instagram, desativado poucas horas após a prisão, ele se descrevia, em inglês, como "cristão, esposo, pai e patriota".
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No próprio perfil profissional, se define como “líder, com boa capacidade de comunicação e motivação de equipes diretas e indiretas, com prática no acompanhamento e desenvolvimento de profissionais”. Ele ainda se apresenta como um profissional com “excelente capacidade de negociação e de construir relacionamento por meio de engajamento, resolução de problemas e comunicação eficaz”.