Suspeito de matar gari dá ‘carteirada’ durante audiência, mas é desmentido
Renê da Silva Nogueira Júnior teria dito a policiais do Ceresp Gameleira que conhece o secretário de segurança pública de MG. Governo negou
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Siga noRenê da Silva Nogueira Júnior, preso suspeito de matar o gari Laudemir de Souza Fernandes em Belo Horizonte, na segunda-feira (11/8), tentou dar uma “carteirada” nos policiais penais do Centro de Remanejamento de Presos no Bairro Gameleira, na Região Oeste da capital. A informação foi confirmada pelo próprio empresário durante sua audiência de custódia na manhã de quarta-feira (13/8).
Na oportunidade, ao ser indagado por diversos agentes sobre o crime, Renê teria afirmado que conhece o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais, Rogério Greco, e que o contaria sobre a “recepção” na unidade. No entanto, a familiaridade entre os dois foi desmentida pelo próprio secretário.
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Nas gravações, feitas em todas as audiências, o suspeito é questionado por seus advogados sobre o tratamento durante o momento da prisão. Em resposta, o homem afirmou que passou por momentos de constrangimento ao ter que agachar três vezes ao sair da cela em que estava. Ele também reclamou das acomodações da unidade prisional por estar dormindo no chão e ter sido fotografado.
“Alguns agentes começaram a falar: ‘Pô, você matou o gari’, ‘Você fez isso, covarde’. Então eu falei que eles tinham que entender que existe uma investigação em curso’ e falei: ‘Eu conheço o Greco [Rogério Greco, secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública] e vou falar com ele quando sair daqui’”, relatou Renê.
Em nota publicada nas redes sociais, o chefe da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG) afirmou que não mantém “qualquer relação, contato ou familiaridade” com o investigado. Para ele, a afirmação é “mentirosa”. “A Sejusp reforça seu compromisso com a transparência e a legalidade, repudiando veemente tentativas de associar o nome de suas autoridades a situações inverídicas que possam comprometer a seriedade das instituições”.
‘Descontrole emocional’
Durante a audiência de custódia, o juiz Leonardo Vieira Rocha Damasceno argumentou que, apesar da versão dada por Renê, a “materialidade delitiva” e os “indícios de autoria” estão reunidos no registro da PMMG e pelos depoimentos das testemunhas.
Ainda segundo o magistrado, o suspeito agiu com frieza e desproporcionalidade, uma vez que, logo após a “breve discussão”, sacou a arma e a preparou para o disparo. Para ele, a ação demonstra que sua atitude não foi um ato de “impulso momentâneo” e, sim, uma decisão “consciente” e “voluntária”.
“Ao sacar sua pistola e apontá-la diretamente para a motorista, uma trabalhadora no exercício de sua função, o autuado demonstrou um total descontrole emocional e uma perigosa predisposição para o uso da violência letal como primeira resposta a contrariedades do cotidiano”, afirmou Damasceno.
Violência doméstica
Nessa quarta-feira (13/8), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) informou que, apesar de não haver antecedentes criminais em Minas Gerais, Renê possui registros em São Paulo e no Rio de Janeiro. De acordo com a decisão, a que o Estado de Minas teve acesso, o primeiro caso se trata de uma ação penal pela prática de crime de lesão corporal grave contra uma mulher.
Já no estado fluminense, o empresário responderia por lesão corporal contra uma ex-companheira, além de ameaça contra a ex-sogra. A informação foi confirmada à reportagem pelo chefe da divisão de homicídios do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da PCMG, Álvaro Huertas.
Além disso, o registro de antecedentes da Polícia Civil do Rio de Janeiro aponta que o homem também teria envolvimento em uma ocorrência de homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
Ao ser questionado sobre o histórico pelos seus advogados, o investigado afirmou que nunca foi preso e não responde a nenhum processo criminal. “Eu respondo por uma luxação do quinto metatarso da minha ex esposa. Mas já tenho uma medida cautelar contra ela, dada pelo Ministério Público de São Paulo”, disse Renê.
Como foi o crime?
O prestador de serviços da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) trabalhava, junto com outras quatro pessoas, na Rua Modestina de Souza, por volta das 8h55, quando a motorista do caminhão, uma mulher de 42 anos, parou e encostou o veículo para que uma fila de 10 carros pudesse passar. A via de mão dupla fica próxima da Avenida Tereza Cristina.
Em determinado momento, o último veículo, identificado como um carro modelo BYD da cor cinza, teria enfrentado dificuldades para passar pelo caminhão e, por isso, a motorista e um dos garis teriam indicado ao motorista que o espaço seria suficiente.
Em seu depoimento à Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), a condutora do caminhão de coleta, identificada como Eledias Aparecida Rodrigues, afirmou que, enquanto recebia as instruções dos funcionários, o motorista do BYD pegou uma arma preta, fez movimento para engatilhar a arma e apontando para ela disse: “Se você esbarrar no meu carro eu vou dar um tiro na sua cara, duvida?”.
Diante das ameaças feitas à colega, uma segunda testemunha afirmou que os demais trabalhadores tentaram acalmar o suspeito e pediram que ele seguisse seu caminho. Mesmo assim, segundo o boletim de ocorrência, o homem desembarcou com a arma em punho, deixando o carregador cair. Ele, então, recolocou-o, manobrou a arma e efetuou um disparo em direção à vítima.
Laudemir chegou a ser socorrido e encaminhado para o Hospital Santa Rita, no Bairro Jardim Industrial, em Contagem, onde faleceu.
Imagens de câmera de segurança flagraram o momento em que o gari saiu correndo já ferido. Na gravação, é possível ver o momento que o carro, que seria do investigado, vira na rua em que o caminhão de coleta estava parado. O veículo, então, para por um segundo, segue em frente e os demais que estavam atrás passam a dar ré e sair da via.
Na sequência, dois garis saem correndo e um deles coloca a mão na região do abdômen e cai no chão. Ele é amparado por um colega, que segura sua cabeça.
O que diz o suspeito?
Em depoimento no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Renê descreveu sua versão dos fatos. Ele contou que saiu de casa às 8h05, no Vila da Serra, em Nova Lima (MG), em direção a Betim (MG), onde trabalhava como diretor de uma empresa.
Segundo ele, demorou cerca de 30 minutos para chegar devido ao congestionamento e que sempre passa por vias principais, sob orientação da esposa, uma vez que não é da Grande BH e não conhece bem as vias. Diz ele que chegou à empresa às 9h17 ou 9h27, onde permaneceu até às 13h. Ele não registrou ponto por fazer parte da diretoria. A Polícia Militar recebeu o chamado sobre o homicídio às 9h07.
Renê afirmou à Polícia Civil que não passou pelo local do crime. Uma consulta feita pela reportagem a aplicativos de GPS mostrou que uma das rotas possíveis do Vila da Serra a Betim passa pelo Bairro Vista Alegre, em um trecho entre o Anel Rodoviário e a Avenida Teresa Cristina. A esquina da Rua Modestina de Souza onde ocorreu o crime está a um quarteirão de distância de uma possível rota.
Ainda segundo a versão do suspeito, depois do expediente, ele teria ido para casa, no Condomínio Vila da Serra, em Nova Lima, também na Grande BH, passeado com seus cachorros e em seguida ido para a academia. A abordagem da polícia foi feita às 16:57, segundo o B.O.
O que falta ser esclarecido?
O álibi, conforme o delegado Álvaro Huerdas, chefe do DHPP, foi refutado pelas testemunhas do crime, que, durante as oitivas, afirmaram que o homem que disparou contra Laudemir se tratava de Renê. Agora, os investigadores da PCMG seguem em busca de imagens de câmera de segurança que indiquem o que teria acontecido.
Conforme informado à reportagem pela empresa em que o homem trabalhava havia duas semanas, imagens de câmeras de segurança registraram a entrada de Renê às 9h18 e sua saída às 12h30. Em nota, a empresa afirmou que as gravações foram encaminhadas para a Polícia Civil, que agora vai analisar as imagens.
Além disso, durante a audiência, Renê alegou que o carro registrado nas imagens, que foram mostradas a ele na abordagem policial, apresentava uma lateral cromada, detalhe que o veículo dele não teria. “Não são os mesmos carros”, disse o suspeito aos policiais, de acordo com depoimento dele. “Meu carro não é um elétrico, é um híbrido”, completou.
O que ocorreu com a esposa do suspeito?
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Ana Paula Balbino Nogueira, delegada da PCMG, mulher do suspeito de homicídio, continua trabalhando;
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A delegada foi ouvida pela Corregedoria da corporação onde trabalha;
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As armas de serviço e pessoal foram apreendidas e estão sendo analisadas nos inquéritos administrativos e criminal;
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A PCMG afirma que, até o momento, não há informações que relacionem a delegada ao homicídio do gari.