Aline Midlej sobre gari morto: ‘Desprezo pela vida e desrespeito às leis’
Apresentadora lamentou a morte do gari assassinado em BH e reforçou que o empresário suspeito de cometer o crime, preso preventivamente, teve desprezo pela vida
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Siga noA jornalista Aline Midlej, apresentadora do Jornal das 10, da Globo News, lamentou o assassinato do gari Laudemir de Souza Fernandes pelo empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, que está preso preventivamente. Segundo Midlej, com a prisão, o suspeito de cometer o crime vai compreender que a lei funciona no Brasil e que é para todos, independente da profissão.
“A certeza da impunidade, seja pela condição socioeconômica, seja pelo fato de ser casado com uma delegada, parecia tão grande que ele assassinou o gari e foi para a academia fazer ginástica. E ainda expôs a mulher, que virou suspeita de negligência com a própria arma de trabalho. O nível de desprezo pela vida, desrespeito com as leis, com a ordem social”, disse a jornalista.
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A apresentadora também lamentou a morte de Laudemir e disse que a profissão do gari e dos seus colegas é “essencial na limpeza pública, tão importante quanto a de empresário". De acordo com ela, “a vida do Laudemir vale muito, como a de todos nós”.
Como foi o crime?
O gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44, foi morto com um tiro na barriga na manhã dessa segunda-feira (11/8), em uma discussão de trânsito no bairro Vista Alegre, Região Oeste de Belo Horizonte. Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Militar (PM), ele trabalhava na coleta de lixo junto a outros garis quando a motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, de 42 anos, parou e encostou o veículo para permitir a passagem de um carro, modelo BYD, conduzido pelo empresário.
De acordo com testemunhas, Renê abaixou o vidro e gritou para a condutora que, se alguém encostasse no carro dele, mataria a pessoa. Diante da ameaça, os garis, incluindo Laudemir, pediram que o motorista se acalmasse e seguiram orientando-o a continuar o trajeto. Ainda assim, ele desceu do veículo visivelmente alterado, apontou uma arma para o grupo e disparou, atingindo Laudemir.
Em seu depoimento à polícia, o também gari Evandro Marcos de Souza, de 35 anos, contou que o suspeito chegou a mirar contra a cabine do caminhão e ameaçar “dar um tiro na cara” da motorista. Ao ultrapassar o veículo, Renê teria desembarcado já com a arma em punho. Eledias confirmou a versão do colega e ainda disse à polícia que havia espaço suficiente para o carro passar sem que fosse necessário o tom agressivo.
Ao Estado de Minas, o gari Tiago Rodrigues, que presenciou o assassinato do colega, relatou que o suspeito agiu com frieza durante todo o ataque. Segundo ele, Renê não parecia estar fora de si. “Ele estava frio, sem sentimento. Não tem essa de ‘fora de si’. Assim que atirou, ele entrou no carro como se nada tivesse acontecido e foi embora”, contou.
Tiago contou que a equipe de limpeza chegou a dar passagem ao empresário, que já se aproximava de forma ameaçadora. Ele disse ter tentado apaziguar a situação, pedindo que o motorista seguisse seu caminho em paz, já que os garis apenas cumpriam o trabalho. “Naquela hora, eu gritei: “Você vai dar um tiro na mulher trabalhando? Vai matar ela dentro do caminhão?”.
O gari relatou que o suspeito teria seguido com o carro, mas logo parado o veículo, descido, sacado a arma e dito: “Vocês estão duvidando de mim?”. Depois disso, Tiago disse que gritou questionando se o homem ia atirar neles, que estavam trabalhando. Em seguida, Laudemir de Souza Fernandes foi atingido por um tiro no abdômen.
A vítima foi socorrida e levado ao Hospital Santa Rita, no bairro Jardim Industrial, em Contagem (MG), na Grande BH, mas morreu no local.
Suspeito foi preso na academia
Horas após o crime, a PM localizou e prendeu Renê no estacionamento de uma academia na Avenida Raja Gabaglia, em Belo Horizonte. Segundo a corporação, a identificação do suspeito foi possível graças a informações de uma testemunha que lembrou parte da placa do veículo, além da análise de imagens de câmeras de segurança, que revelaram os demais caracteres e confirmaram o modelo do carro.
De acordo com o boletim de ocorrência, ao ser abordado na entrada da academia, Renê negou participação no crime e afirmou que sua esposa é delegada da Polícia Civil de Minas Gerais. Disse ainda, segundo o registro, que o veículo está registrado em nome dela e que "a policial teria uma arma de fogo do mesmo calibre da que foi utilizada no homicídio".
O boletim relata que a arma supostamente usada no crime pertence à esposa do suspeito e foi apreendida pela PM. Mais tarde, já com Renê na delegacia, os policiais foram até a casa da delegada, que entregou o armamento, devidamente registrado, de forma espontânea.
Em coletiva de imprensa na tarde desta terça-feira (12/8), a Polícia Civil confirmou a suspeita de que a arma utilizada — uma pistola calibre .380 — pertence à esposa de Renê, que é delegada da corporação. O armamento foi enviado à perícia, que tem prazo legal de dez dias para concluir o laudo e confirmar se foi de fato usado no crime. A polícia também apura junto à Polícia Federal se o suspeito possuía porte de arma, informação que, até o momento, não foi confirmada.
A corporação destacou ainda que o fato de a arma estar registrada em nome de outra pessoa não implica automaticamente sua participação no crime. Só se configura coautoria caso haja indícios de coação ou autorização para o uso do armamento. No caso, trata-se de uma arma registrada em nome de uma delegada de polícia, autorizada a possuí-la em razão da carreira. Até o momento, não há indícios, do ponto de vista criminal, de envolvimento da delegada nesse homicídio.
Quem é o suspeito de matar o gari?
Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, trabalhava há duas semanas em uma empresa de alimentos em Betim, qie o dispensou no dia seguinte à repercussão do crime. Em seu perfil do Instagram, que foi desativado poucas horas após a prisão, ele se descrevia, em inglês, como "cristão, esposo, pai e patriota".
No próprio perfil profissional, se define como “líder, com boa capacidade de comunicação e motivação de equipes diretas e indiretas, com prática no acompanhamento e desenvolvimento de profissionais”. Ele ainda se apresenta como um profissional com “excelente capacidade de negociação e de construir relacionamento por meio de engajamento, resolução de problemas e comunicação eficaz”.
Renê tem formação em Administração e Marketing pela PUC-Rio e Universidade Estácio de Sá, além de ter cursado dois MBAs: um em Gestão de Projetos, pelo Ibmec, e outro em Bens de Varejo e Consumo, pela USP.
O empresário teve a prisão em flagrante convertida em preventiva pela Justiça, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em audiência de custódia realizada na manhã nessa quarta-feira (13/8).
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) entrou com o pedido de sigilo para o Auto de Prisão em Flagrante (APF), mas o juiz Leonardo Damasceno, da Central de Audiência de Custódia (CEAC/BH), não acolheu a solicitação pois a publicação dos atos processuais é a regra, assegurada pela Constituição Federal. Conforme o art. 5°, inciso LX, a lei só poderia restringir tal publicidade se a defesa da intimidade ou o interesse social o exigissem.
Segundo o magistrado, a defesa do suspeito solicitou o relaxamento da prisão alegando não haver indícios que justificasse a prisão preventiva, como o acusado ser réu primário, ter bons antecedentes e residência fixa, mas o juiz não acatou o pedido.
O que a ata da audiência de custódia?
De acordo com a decisão judicial, a prisão preventiva do réu é necessária para garantir a ordem pública, dada a gravidade do crime é o modus operando utilizado. Isso porque, segundo a ata da audiência, o crime foi cometido "em plena luz do dia, por motivo fútil, uma aparente irritação decorrente de uma breve interrupção no trânsito"
"A desproporcionalidade e a frieza da ação, na qual o autuado, após uma breve discussão, deliberadamente sacou uma arma de fogo, a preparou para o disparo e atirou contra um trabalhador que exercia seu ofício, uma atividade pública essencial de limpeza da cidade, demonstram uma periculosidade acentuada e um total desrespeito pela vida humana. Tal conduta abala profundamente a tranquilidade social e gera um sentimento de insegurança na comunidade, indicando que a liberdade do autuado, neste momento, representa um risco real à ordem pública", destaca o documento.
Outro agravante citado na audiência foi o fato de que Renê, mesmo diante de um contratempo, ao ter deixado o carregador cair, se abaixou para pegá-lo e reinserir na arma. A atitude, conforme a Justiça, demonstra que não foi um ato de impulso momentâneo, mas "uma decisão consciente e voluntária de usar a violência, com a finalidade de ceifar a vida alheia". Os depoimentos das testemunhas corroboram com o ponto citado na audiência.
Além disso, na ata da audiência, o juiz informa que o acusado responde pelo crime de lesão corporal grave no Estado de São Paulo, o que representa uma personalidade violenta. O "descontrole emocional e uma perigosa predisposição para o uso da violência letal como primeira resposta a contrariedades do cotidiano", escreve o magistrado.
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Ainda durante a audiência de custódia, a defesa do suspeito solicitou a não realização de fotografias do empresário dentro da unidade prisional e que fosse disponibilizado um colchão para ele. Outro pedido foi que seja fornecido atendimento médico e medicamentos ao empresário.