A estiagem prolongada, entre maio e setembro, chama atenção da população da Região Metropolitana de Belo Horizonte e da Região Central de Minas Gerais. O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) declarou situação de escassez hídrica nos municípios e, com a construção de novos minerodutos na região, o cenário pode se agravar.
O Rio Paraopeba é um dos mais afetados. A vazão, ou seja, a quantidade de água que passa por determinado ponto de um rio, caiu entre os municípios de Belo Vale e Entre Rios de Minas, na Região Central do estado. O Igam publicou uma portaria que prevê restrições à captação de água no trecho, com cortes que variam de 20% a 50%, dependendo do uso, que pode ser para o abastecimento público, indústria, irrigação ou atividades menos prioritárias.
Atividades econômicas, como a construção de tubulações usadas para transportar minério misturado com grandes volumes de água, podem piorar tal cenário de vulnerabilidade hídrica na região. Desde março, o Projeto de Lei 3402/25, de autoria da deputada estadual Carol Caram (Avante), que estabelece diretrizes para diminuir os impactos ambientais do uso de recursos hídricos em projetos dutoviários, tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Na próxima semana, em 6 de agosto, está prevista uma audiência pública para debater o projeto, na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
Leia Mais
Nove municípios vão ser afetados pelas restrições do Igam, que podem ser ampliadas, caso não haja chuva nos próximos meses. Entre as cidades, estão Conselheiro Lafaiete, Congonhas, Cristiano Otoni, Jeceaba, Ouro Branco, Ouro Preto e Queluzito.
De acordo com a reportagem do Estado de Minas, publicada no último sábado (26/7), as reduções afetam desde o abastecimento público e consumo humano, com a diminuição de 20%, até as atividades industriais e agroindustriais (30%) e os usos menos prioritários (50%). As medidas são válidas por 90 dias.
Os reservatórios do Sistema Paraopeba, que inclui as represas de Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores, garantem o fornecimento de água para cerca de 3,5 milhões de pessoas. O conjunto ainda opera dentro dos níveis seguros para o período seco, mas, os dados mais recentes do sistema alertam uma queda de 10,6% de sua capacidade total nos últimos três meses, passando de 88,4% para 77,8%. A tendência é de que os níveis continuem caindo com a falta de chuvas.
Ainda segundo a reportagem, a represa de Vargem das Flores, em Betim, chegou a 68,2% da capacidade, nível bem abaixo em relação ao início de julho (73,5%) e maio (85,6%). Já o reservatório de Serra Azul, em Juatuba, opera com 65,2% da capacidade, ante 71,1% em julho e 79,1% em maio. Em Brumadinho, o reservatório de Rio Manso está em um cenário mais tranquilo, com 84,7% do volume armazenado registrado em 25 de julho.
Proteção de mananciais
A justificativa de Caram para o PL expõe a necessidade de proteger a Região Metropolitana de BH, que já está sob estresse hídrico. Permitir o uso de grandes quantidades de água para transporte de minério pode agravar o cenário de escassez. Um exemplo é a tragédia em Brumadinho, em 2019, com o rompimento da barragem de rejeitos da mina Córrego do Feijão, que contaminou o Rio Paraopeba e impactou toda a bacia.
O texto também propõe a proibição de instalação desses projetos dutoviários nos municípios de Mateus Leme, Igarapé, Brumadinho, Belo Vale, São Joaquim de Bicas e Mário Campos, na Região Central de Minas, áreas que estão relacionadas ao Sistema Paraopeba.
Na ponte central da cidade de Belo Vale, a reportagem do Estado de Minas constatou a realidade no leito do Rio Paraopeba, no último dia 25. Demarcações feitas nos pilares mostram que a altura usual da água, que costumava alcançar quatro metros, estava abaixo de um metro.
A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) informou que os reservatórios do Sistema Paraopeba estão operando dentro dos níveis esperados para o período de estiagem. A companhia ainda garantiu que não há risco de impacto no abastecimento da Região Metropolitana de BH.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Conforme apurado pela reportagem, na última semana, outras bacias mineiras também estão em alerta, como em trechos do Rio das Velhas, principalmente na região de Várzea da Palma, próxima à foz com o São Francisco, no Norte do estado. O alerta também vale para áreas da bacia do Paraíba do Sul, na Zona da Mata Mineira.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino