A Justiça autorizou a quebra de sigilo dos dados telefônicos do empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, suspeito de matar o gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44, em Belo Horizonte. A decisão, que atende ao pedido da Polícia Civil, foi publicada no início da noite desta quinta-feira (14/8). 

"Defiro a quebra de dados junto à empresa BYD do Brasil e à operadora Claro as informações oriundas do sistema de rastreamento referentes ao dia 11 de agosto de 2025, no período compreendido entre 07h00 e 16h00, incluindo as rotas percorridas, comandos de voz, velocidade empreendida, registros de chamada e demais telemáticos constantes no sistema", diz trecho da decisão. A juíza Ana Carolina Rauen Lopes de Souza também solicitou acesso ao WhatsApp, e-mail e demais aplicativos de mensagens do celular.

“Considerando que o acesso ao registro dos dados telemáticos se faz realmente necessário para a apuração dos delitos, visando esclarecer eventual autoria/participação e circunstâncias dos crimes, autorizo o acesso ao conteúdo do aparelho celular apreendido”, complementa a juíza.

Ainda conforme a magistrada, o objetivo é levantar as rotas percorridas por Renê no dia e nos horários próximos de quando ocorreu o homicídio.

O empresário teve a prisão em flagrante convertida em preventiva pela Justiça durante a audiência de custódia nessa quarta-feira (13/8). Laudemir de Souza Fernandes foi morto com um tiro na manhã de segunda-feira (11/8), em uma discussão de trânsito no Bairro Vista Alegre, Região Oeste de Belo Horizonte.

Como foi o crime?

O prestador de serviços da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) trabalhava, junto com outras quatro pessoas, na Rua Modestina de Souza, por volta das 8h55, quando a motorista do caminhão, uma mulher de 42 anos, parou e encostou o veículo para que uma fila de 10 carros pudesse passar. A via de mão dupla fica próxima da Avenida Tereza Cristina.

Em determinado momento, o último veículo, identificado como um carro modelo BYD da cor cinza, teria enfrentado dificuldades para passar pelo caminhão e, por isso, a motorista e um dos garis teriam indicado ao motorista que o espaço seria suficiente.

Em seu depoimento à Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), a condutora do caminhão de coleta, identificada como Eledias Aparecida Rodrigues, afirmou que, enquanto recebia as instruções dos funcionários, o motorista do BYD pegou uma arma preta, fez movimento para engatilhar a arma e, apontando para ela, disse: “Se você esbarrar no meu carro eu vou dar um tiro na sua cara, duvida?”.

Diante das ameaças feitas à colega, uma segunda testemunha afirmou que os demais trabalhadores tentaram acalmar o suspeito e pediram que ele seguisse seu caminho. Mesmo assim, segundo o boletim de ocorrência, o homem desembarcou com a arma em punho, deixando o carregador cair. Ele, então, recolocou-o, manobrou a arma e efetuou um disparo em direção à vítima.

Laudemir chegou a ser socorrido e encaminhado para o Hospital Santa Rita, no Bairro Jardim Industrial, em Contagem, onde morreu.

Imagens de câmera de segurança flagraram o momento em que o gari saiu correndo já ferido. Na gravação, é possível ver o momento que o carro, que seria do investigado, vira na rua em que o caminhão de coleta estava parado. O veículo, então, para por um segundo, segue em frente e os demais que estavam atrás passam a dar ré e sair da via.

Na sequência, dois garis saem correndo e um deles coloca a mão na região do abdômen e cai no chão. Ele é amparado por um colega, que segura sua cabeça.

O que diz o suspeito?

Em depoimento no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Renê descreveu sua versão dos fatos. Ele contou que saiu de casa às 8h05, no Vila da Serra, em Nova Lima, na Grande BH, em direção a Betim, também na região metropolitana, onde trabalhava como diretor de uma empresa.

Segundo ele, demorou cerca de 30 minutos para chegar devido ao congestionamento. Renê alegou que sempre passa por vias principais, sob orientação da esposa, uma vez que não é da Grande BH e não conhece bem as vias. Diz ele que chegou à empresa às 9h17 ou 9h27, onde permaneceu até as 13h. Ele não registrou ponto por fazer parte da diretoria. A Polícia Militar recebeu o chamado sobre o homicídio às 9h07.

Renê afirmou à Polícia Civil que não passou pelo local do crime. Uma consulta feita pela reportagem a aplicativos de GPS mostrou que uma das rotas possíveis do Vila da Serra a Betim passa pelo Bairro Vista Alegre, em um trecho entre o Anel Rodoviário e a Avenida Teresa Cristina. A esquina da Rua Modestina de Souza onde ocorreu o crime está a um quarteirão de distância de uma possível rota.

Ainda segundo a versão do suspeito, depois do expediente, ele teria ido para casa, no Condomínio Vila da Serra, em Nova Lima, também na Grande BH, passeado com seus cachorros e em seguida ido para a academia. A abordagem da polícia foi feita às 16:57, segundo o B.O.

 

O que falta ser esclarecido?

O álibi, conforme o delegado Álvaro Huerdas, chefe do DHPP, foi refutado pelas testemunhas do crime, que, durante as oitivas, afirmaram que o homem que disparou contra Laudemir se tratava de Renê. Agora, os investigadores da PCMG seguem em busca de imagens de câmera de segurança que indiquem o que teria acontecido.

Conforme informado à reportagem pela empresa em que o homem trabalhava havia duas semanas, imagens de câmeras de segurança registraram a entrada de Renê às 9h18 e sua saída às 12h30. Em nota, a empresa afirmou que as gravações foram encaminhadas para a Polícia Civil, que agora vai analisar as imagens.

Além disso, durante a audiência, Renê alegou que o carro registrado nas imagens, que foram mostradas a ele na abordagem policial, apresentava uma lateral cromada, detalhe que o veículo dele não teria. “Não são os mesmos carros”, disse o suspeito aos policiais, de acordo com depoimento dele. “Meu carro não é um elétrico, é um híbrido”, completou.

O que ocorreu com a delegada, esposa de Renê?

  • Ana Paula Balbino Nogueira, delegada da PCMG, mulher do suspeito de homicídio, continua trabalhando;
  • A delegada foi ouvida pela Corregedoria da corporação onde trabalha;
  • As armas de serviço e pessoal foram apreendidas e estão sendo analisadas nos inquéritos administrativos e criminal;
  • A PCMG afirma que, até o momento, não há informações que relacionem a delegada ao homicídio do gari.
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