A cada dia 13, o Santuário Arquidiocesano de Santa Luzia, no Centro Histórico do município de mesmo nome, na Grande BH, abre as portas para a Missa da Luz. Com o templo barroco iluminado apenas pelas velas nas mãos dos fiéis, o celebrante abençoa os presentes com o Santíssimo e também com a relíquia da padroeira da visão e protetora da tricentenária cidade. Um espetáculo de fé que emociona os devotos e atrai centenas de pessoas, como ocorreu na última quarta-feira. Importante lembrar que se trata de um dia votivo – a grande festa em homenagem à “Virgem de Siracusa” é realizada em 13 de dezembro.

Segundo o pároco e reitor do santuário, padre Felipe Lemos de Queirós, o templo guarda relíquia de primeiro grau, ou seja, fragmento do osso de Santa Luzia. Na capela-mor do santuário, há um relicário, restaurado recentemente, contendo o “ex ossibus” ou pedaço do osso da mártir nascida em Siracusa, na Itália, no ano 304. O relicário fica na mesa do altar, visível através de um vidro, ao lado de uma imagem da padroeira que, jovem, foi decapitada e teve a garganta cortada. A representação de Santa Luzia, em tamanho natural, recria o espaço com os restos mortais preservados, desde o século 13, na Igreja San Geremia, em Veneza.

Não se sabe exatamente como e quando a relíquia chegou a Santa Luzia. Era um pedaço maior até que, em 2018, com autorização eclesiástica, foi dividido: parte do osso ficou na mesa do altar, outra foi para o relicário que se vê na recém-criada capela dedicada à protetora da visão, no corredor esquerdo ao lado da nave. Como proteção, há um baldaquino (cobertura) de metal. Padre Felipe explica que a relíquia sai às ruas na procissão de 13 de dezembro.

LUZ DA FÉ

De joelhos, ao lado da relíquia, o empresário Daniel Orzil, de 27 anos, residente na cidade, gostou de saber mais sobre a história de Santa Luzia e a importância de se ter, no santuário, o fragmento do osso da padroeira e protetora da visão. “Venho aqui desde criança, sou devoto, tenho muita fé”, contou o jovem que usava uma camisa do jubileu da santa.

Católica fervorosa, Andréa Malta Evangelista de Souza Lima, técnica de laboratório aposentada, está certa de que uma relíquia, a exemplo da existente no santuário, fortalece a lembrança de alguém que passou pela Terra, deixou um legado e, principalmente, fez a declaração de fé em Deus. “Sempre que possível, vou à Missa da Luz, e nunca deixo de participar das festividades de 13 de dezembro. Em todas as ocasiões, quando o padre eleva o ostensório com o Santíssimo Sacramento durante a missa, sinto como se o Senhor estivesse perto de mim. É muito forte”, diz Andréa, casada, duas filhas e avó de Beatriz, de 4 anos.

SIGNIFICADO

“Lembrando que as relíquias têm três graus diferentes, padre Felipe observa: “As pessoas devem entender que não são amuletos nem objetos de adoração, mas uma lembrança de quem viveu a fé em Deus. Dessa forma, temos aqui uma parte do corpo de Santa Luzia”, afirma padre Felipe. Para ser genuína, a relíquia deve ter o selo do Vaticano.

A de primeiro grau se refere ao corpo de uma pessoa ou fragmento – um osso ou mecha de cabelo. Já a relíquia de segundo grau inclui vestimentas, objetos pessoais, algo que tenha pertencido ao mártir ou santo. A de terceiro grau, por sua vez, se relaciona, por exemplo, a um tecido que tenha tocado o corpo do beato ou santo.

HISTÓRIA SANTA

Nascida em Siracusa, na Itália, no ano de 304, Santa Luzia pertencia a uma família rica, da qual recebeu formação cristã, a ponto de ter feito um voto de viver a virgindade perpétua. Porém, com a morte do pai, Luzia soube que sua mãe queria vê-la casada com um jovem de distinta família. O rapaz era pagão.


Ao pedir um período para analisar o casamento e tendo a mãe gravemente enferma, Santa Luzia propôs à mãe que fossem em romaria ao túmulo da mártir Santa Águeda, e que a cura da grave doença seria a confirmação do “não” para o casamento. Reza a tradição que, milagrosamente, foi o que ocorreu com a chegada das peregrinas e, assim, Santa Luzia voltou para Siracusa com a certeza da vontade de Deus quanto à virgindade e quanto aos sofrimentos pelos quais passaria, a exemplo de Santa Águeda.

 

Santa Luzia vendeu tudo o que tinha, deu aos pobres, e logo foi acusada pelo jovem que a queria como esposa. Não querendo oferecer sacrifício aos falsos deuses nem quebrar seu voto, ela teve que enfrentar as autoridades perseguidoras. Conta-se que, antes de sua morte, arrancaram-lhe os olhos. Assim, Santa Luzia é reconhecida pela vida que levou por Jesus até as últimas consequências.

Três graus de lembranças
de Padre Eustáquio

Já em Belo Horizonte, há relíquias de primeiro, segundo e terceiro graus do Beato Padre Eustáquio (1890-1943), religioso holandês, em processo de canonização, que chegou ao Brasil há 100 anos e deixou marcas do seu trabalho pastoral e social no interior de Minas e na capital, onde está sepultado. No Santuário Arquidiocesano da Saúde e da Paz, mais conhecido como Igreja Padre Eustáquio, na Região Noroeste de BH, pode ser visto um relicário em forma de cruz contendo um pedaço do osso (relíquia de primeiro grau).

Os visitantes podem também ver relíquias de segundo grau, a exemplo de hábito, escapulário e mozeta (pano usado sobre o ombro), além de cálice, patena e outros objetos de uso pessoal do beato. As de terceiro grau estão representadas por objetos que estiveram perto dos ossos exumados, em 2005, do padre nascido Hubbertus van Lieshout, em Aarle-Rixtel, no Sul da Holanda, e sepultado em Belo Horizonte em 1943. Nesse caso, os fiéis podem solicitar à Causa de Canonização cartões contendo um pedaço do pano que tocou os ossos do bem-aventurado.

O próximo dia 30, um sábado, poderá ser boa oportunidade para visitar o memorial e o museu existentes no Santuário Arquidiocesano da Saúde da Paz, no Bairro Padre Eustáquio. Essa é a tradicional data dedicada ao beato, com festividades, sendo que, desta vez, são lembrados os 100 anos da chegada dele ao Brasil.

Uma novidade está na realização, de 1º a 4 de setembro, na sequência da festa, do 1º Simpósio Internacional, que reunirá o universo acadêmico e a ampla legião de devotos. O encontro se inspira no lema “Saúde e Paz”, de Padre Eustáquio, destaca o idealizador do projeto, padre Vinicius Maciel, da Congregação dos Sagrados Corações, vice-postulador da Causa de Canonização do Beato Padre Eustáquio.

Ele explica que o objetivo é debater o legado do religioso em perspectivas mais amplas. “Pensamos em trazer um ambiente multidisciplinar e colocar ‘Saúde e Paz’ no centro das discussões, buscando articular fé, espiritualidade, ciência e compromisso social no contexto contemporâneo”. Informações no site padreeustaquio.com.br/simpósio, pelo telefone (31) 3166-8575 ou enviando email para centenario@padreeustaquio.com.br.

BEATOS MINEIROS

Há mais três beatos mineiros em processo de canonização. E as relíquias deles podem ser vistas pelos fiéis. São eles Nhá Chica, Padre Victor e a Mártir Isabel Cristina (1962-1982), cuja cerimônia de beatificação em sua terra natal, Barbacena, na Região Central do estado, ocorreu em 10 de dezembro de 2022. As homenagens a Isabel Cristina Mrad Campos começam no próximo dia 23 com a novena na Paróquia Nossa Senhora da Piedade, que tem capela e memorial dedicados à mineira assassinada aos 20 anos em Juiz de Fora, na Zona da Mata.

Vice-postulador da Causa e diretor do Memorial Beata Isabel Cristina, o diácono Antônio Rodrigues do Prado conta que se encontram expostas várias roupas que pertenceram à jovem cujo desejo era estudar medicina e se especializar em pediatria.

NHÁ CHICA

Exatamente há um ano, a relíquia da Beata Nhá Chica (1808-1895) visitou Belo Horizonte, pela primeira vez, sendo acolhida pelos fiéis no Santuário Arquidiocesano da Saúde e da Paz. De primeiro grau, a relíquia peregrina (um pedaço do osso da bem-aventurada), nas mãos do então reitor do santuário, padre Edson Pereira Oliveira, veio do Santuário Nossa Senhora da Conceição da Beata Nhá-Chica, localizado em Baependi, no Sul de Minas. Francisca de Paula de Jesus nasceu em Santo Antônio do Rio das Mortes, distrito de São João del-Rei, no Campo das Vertentes. 


O santuário de Baependi guarda ossos de Nhá Chica, que teve o corpo exumado em 1998, e, como relíquia de segundo grau, a imagem de Nossa Senhora da Conceição, um terço e um guarda-chuva que pertenceram à beata. A relíquia de terceiro grau é um cartão com um pedaço de pano, o qual esteve em contato com os restos mortais. 

Também no Sul de Minas, Três Pontas recebe milhares de devotos do beato Francisco de Paula Victor, o Padre Victor (1827-1905) – a cerimônia de beatificação ocorreu em 2015, após duas décadas de espera pela imensa legião de admiradores do candidato a santo. Em 23 de setembro, serão lembrados os 110 anos da morte de Padre Victor, tendo à frente da programação a Diocese de Campanha, a Associação Padre Victor e a Paróquia Nossa Senhora da Ajuda.

No memorial dedicado ao padre Victor, há, em exposição, paramentos usados pelo sacerdote, livros, fotos de procissões, objetos pessoais, uma escultura em tamanho natural e documentos. Já na Matriz de Nossa Senhora da Ajuda, a visitação ao túmulo do sacerdote é intensa.  

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia 

compartilhe