A Polícia Civil pedirá o indiciamento do empresário Renê da Silva Nogueira Junior, de 47 anos, principal suspeito de matar com um tiro o gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44, pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, posse irregular de arma de fogo e ameaça.

A informação é do delegado do Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa Evandro Radaelli. Em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, exibido na noite desse domingo  (17/8), Radaelli explicou que o indiciamento de Renê será pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil; posse irregular de arma de fogo, uma vez que usou uma arma que não possuía; e ameaça, praticada contra a motorista do caminhão. 

Conforme o Código Penal brasileiro, a pena para o crime de homicídio duplamente qualificado é de 12 a 30 anos. Para a posse ilegal da arma, a reclusão é de 3 a 6 anos, enquanto, por ameaça, a pena é de um a seis meses ou multa. Somadas, as penas podem passar de 30 anos de prisão.

As investigações do homicídio confirmaram que a arma utilizada no crime pertence à esposa do suspeito, a também delegada da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) Ana Paula Balbino Nogueira. O artefato é de uso particular da mulher, que está sendo investigada pela corregedoria.

A arma foi incluída no inquérito criminal, em andamento na delegacia de homicídios da PCMG. Já a arma da corporação foi anexada nos autos da investigação administrativa. Apesar do procedimento interno, o porta-voz da corporação delegado Saulo Castro afirma que não há indícios para afastamento da servidora e, por isso, ela segue em seu cargo regular.

Como foi o crime?

O gari Laudemir foi morto com um tiro na barriga na manhã de segunda-feira (11/8), em uma discussão de trânsito no bairro Vista Alegre, Região Oeste de Belo Horizonte (MG). Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Militar, ele trabalhava na coleta de lixo junto a outros garis quando a motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, de 42 anos, parou e encostou o veículo para permitir a passagem de um carro, modelo BYD, conduzido pelo empresário Renê da Silva.

De acordo com testemunhas, Renê abaixou o vidro e gritou para a condutora que, se alguém encostasse no carro dele, mataria a pessoa. Diante da ameaça, os garis, incluindo Laudemir, pediram que o motorista se acalmasse e seguiram orientando-o a continuar o trajeto. Ainda assim, ele desceu do veículo visivelmente alterado, apontou uma arma para o grupo e disparou, atingindo Laudemir.

Em seu depoimento à polícia, o também gari Evandro Marcos de Souza, de 35 anos, contou que o suspeito chegou a mirar contra a cabine do caminhão e ameaçar “dar um tiro na cara” da motorista. Ao ultrapassar o veículo, Renê teria desembarcado já com a arma em punho. Eledias confirmou a versão do colega e ainda disse à polícia que havia espaço suficiente para o carro passar sem que fosse necessário o tom agressivo.

O gari Tiago contou que a equipe de limpeza chegou a dar passagem ao empresário, que já se aproximava de forma ameaçadora. Ele disse ter tentado apaziguar a situação, pedindo que o motorista seguisse seu caminho em paz, já que os garis apenas cumpriam o trabalho. “Naquela hora, eu gritei: “Você vai dar um tiro na mulher trabalhando? Vai matar ela dentro do caminhão?”. 

O gari relatou que o suspeito teria seguido com o carro, mas logo parado o veículo, descido, sacado a arma e dito: “Vocês estão duvidando de mim?”. Depois disso, Tiago disse que gritou questionando se o homem ia atirar neles, que estavam trabalhando. Em seguida, Laudemir de Souza Fernandes foi atingido por um tiro no abdômen. 

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A vítima foi socorrida e levada ao Hospital Santa Rita, no bairro Jardim Industrial, em Contagem (MG), na Grande BH, mas morreu no local por hemorragia interna.

Na terça-feira (12/08), familiares e amigos se despediram de Laudemir durante o velório realizado em uma Igreja Quadrangular, no bairro Nova Contagem, em Contagem (MG), na Região Metropolitana da capital mineira. “Estamos em choque e com muita, muita revolta. Estamos sem chão!”, lamentou Jéssica França, de 25 anos, enteada de Laudemir. “Ele era uma pessoa muito trabalhadora, honesta, carinhosa e protetora, cuidava muito da gente", completou. Laudemir deixou também uma filha de 15 anos. Segundo a irmã, ela também está muito abalada.

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