A Polícia Civil afirma não ter dúvidas de que o empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, é o autor da morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, ocorrida na segunda-feira (11/8). Renê está preso preventivamente.
Em entrevista ao programa Fantástico, da rede Globo, exibido na noite desse domingo (17/8), o delegado Evandro Radaelli, do Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), reforçou que os investigadores têm “indícios contundentes e irrefutáveis” sobre a autoria do crime.
A Polícia Civil vai solicitar o indiciamento de Renê pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, posse irregular de arma de fogo e ameaça. Pela legislação brasileira, a soma das penas pode ultrapassar 30 anos de prisão.
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O que a investigação já esclareceu?
A arma utilizada no crime pertence à delegada Ana Paula Balbino Nogueira, esposa do empresário, segundo confirmou a Polícia Civil de Minas Gerais. Exames periciais indicaram compatibilidade entre a pistola calibre .380, de uso particular da delegada, e as munições encontradas no local do crime. Ana Paula afirma não ter conhecimento de que o marido utilizou sua arma.
Renê nega a autoria do assassinato e, durante a audiência de custódia realizada na última semana, o empresário afirmou que faz uso de remédios controlados. O juiz que conduzia a audiência converteu a prisão em flagrante do suspeito em prisão preventiva e destacou que Renê já responde por violência doméstica contra a ex-esposa, evidenciando “uma personalidade violenta”. A defesa informou que só se manifestará após ter acesso aos documentos da investigação.
O histórico criminal do empresário registra outros crimes. Em 2011, foi indiciado por homicídio culposo em um acidente de trânsito no Rio de Janeiro, que resultou na morte de uma mulher de 50 anos. Ele ainda é suspeito de envolvimento em crimes de lesão corporal, extorsão e perseguição.
Como foi o crime?
O gari Laudemir foi morto com um tiro na barriga na manhã de segunda-feira (11/8), em uma discussão de trânsito no bairro Vista Alegre, Região Oeste de Belo Horizonte (MG). Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Militar, ele trabalhava na coleta de lixo junto a outros garis quando a motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, de 42 anos, parou e encostou o veículo para permitir a passagem de um carro, modelo BYD, conduzido pelo empresário Renê da Silva.
De acordo com testemunhas, Renê abaixou o vidro e gritou para a condutora que, se alguém encostasse no carro dele, mataria a pessoa. Diante da ameaça, os garis, incluindo Laudemir, pediram que o motorista se acalmasse e seguiram orientando-o a continuar o trajeto. Ainda assim, ele desceu do veículo visivelmente alterado, apontou uma arma para o grupo e disparou, atingindo Laudemir.
Em seu depoimento à polícia, o também gari Evandro Marcos de Souza, de 35 anos, contou que o suspeito chegou a mirar contra a cabine do caminhão e ameaçar “dar um tiro na cara” da motorista. Ao ultrapassar o veículo, Renê teria desembarcado já com a arma em punho. Eledias confirmou a versão do colega e ainda disse à polícia que havia espaço suficiente para o carro passar sem que fosse necessário o tom agressivo.
O gari Tiago contou que a equipe de limpeza chegou a dar passagem ao empresário, que já se aproximava de forma ameaçadora. Ele disse ter tentado apaziguar a situação, pedindo que o motorista seguisse seu caminho em paz, já que os garis apenas cumpriam o trabalho. “Naquela hora, eu gritei: “Você vai dar um tiro na mulher trabalhando? Vai matar ela dentro do caminhão?”.
O gari relatou que o suspeito teria seguido com o carro, mas logo parado o veículo, descido, sacado a arma e dito: “Vocês estão duvidando de mim?”. Depois disso, Tiago disse que gritou questionando se o homem ia atirar neles, que estavam trabalhando. Em seguida, Laudemir de Souza Fernandes foi atingido por um tiro no abdômen.
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A vítima foi socorrida e levada ao Hospital Santa Rita, no bairro Jardim Industrial, em Contagem (MG), na Grande BH, mas morreu no local por hemorragia interna.
Na terça-feira (12/08), familiares e amigos se despediram de Laudemir durante o velório realizado em uma Igreja Quadrangular, no bairro Nova Contagem, em Contagem (MG), na Região Metropolitana da capital mineira. “Estamos em choque e com muita, muita revolta. Estamos sem chão!”, lamentou Jéssica França, de 25 anos, enteada de Laudemir. “Ele era uma pessoa muito trabalhadora, honesta, carinhosa e protetora, cuidava muito da gente", completou. Laudemir deixou também uma filha de 15 anos. Segundo a irmã, ela também está muito abalada.