Renê da Silva Nogueira Júnior, que confessou ter matado o gari Laudemir de Souza Fernandes, no início de agosto, foi intimado pela Justiça a definir quem será seu representante legal no inquérito policial. A decisão, publicada nesta quarta-feira (27/8), cita que a juntada de petições de dois advogados causou “tumulto processual”. No sábado (23/8), o investigado nomeou Bruno Silva Rodrigues seu novo defensor.

Em sua decisão, a juíza Ana Carolina Rauen Lopes de Souza, do Tribunal do Júri da comarca de Belo Horizonte, deu prazo de dois dias para que as informações sejam repassadas ao Ministério Público de Minas Gerais. 

Na segunda-feira (25/8), Renê, enquanto é investigado pelos crimes de homicídio qualificado e ameaça, se viu incluído em um mal entendido entre dois advogados. A confusão começou depois que o antigo defensor, o mineiro Dracon Luiz Cavalcante Lima, percebeu que seu nome foi retirado do processo e deu lugar a um segundo advogado, do Rio de Janeiro. 

Ao Estado de Minas, Dracon contou que se reuniu com o empresário no mesmo dia, no Presídio de Caeté, na Região Metropolitana de BH. Durante o encontro, o antigo cliente explicou ao criminalista que pediu ao colega fluminense para trabalhar em parceria com ele, o que não foi respeitado. Ainda segundo o mineiro, essa semana ele deverá se reunir com o novo representante legal de Renê para decidir se vai continuar no caso. 

“Não era para ele me tirar e sim para trabalharmos juntos. Agora eu vou conversar com o advogado e decidir se vou continuar ou não, porque aqui não é Rio de Janeiro, aqui é Belo Horizonte, Minas Gerais. Não prometo nada além de trabalho e o que está dentro da lei”, disse Dracon. 

Após a divulgação do novo representante legal, em nota, o escritório de Bruno Silva Rodrigues, afirmou que só vai se pronunciar após a conclusão do inquérito, por meio da PCMG, e da denúncia à Justiça pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). 

Como o crime aconteceu?

  • Equipe de coleta de lixo trabalhava na Rua Modestina de Souza, Bairro Vista Alegre, em BH, na manhã do dia 11 de agosto.
  • Motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, 42 anos, manobra para liberar passagem, após ver uma fila de carros se formar atrás dela.
  • Eledias e os garis acenam para Renê da Silva, que dirigia um carro BYD, permitindo a passagem.
  • O suspeito abaixa a janela e grita que, caso encostasse em seu veículo, ele iria "dar um tiro na cara" da condutora.
  • Na sequência, ele segue adiante, estaciona, sai do carro armado; derruba o carregador, recolhe e engatilha pistola, segundo o registro policial.
  • Ele faz um disparo que atinge Laudemir no abdômen.
  • O gari é levado ao Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande BH, mas morre por hemorragia interna.
  • No local, PM recolhe projétil intacto de munição calibre .380.
  • Horas após o crime, a PM localiza e prende Renê no estacionamento de academia na Av. Raja Gabaglia.
  • Flagrante convertido em prisão preventiva em audiência de custódia, no dia 13 de agosto, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais
  • Renê está preso no Presídio de Caeté, Grande BH

Confissão

Em um primeiro momento, Renê negou que teria cometido o crime e passado pela Rua Modestina de Souza, no Bairro Vista Alegre, Região Oeste de BH, na manhã de 11 de agosto. Ele chegou a dizer que saiu de casa, no Bairro Vila da Serra, em Nova Lima, na região metropolitana, direto para o trabalho em Betim, também na Grande BH. No entanto, o álibi foi derrubado pelas investigações que obtiveram imagens nítidas do carro do suspeito e dele guardando a arma de sua esposa, delegada da PCMG, em uma mochila. 

Após a divulgação das gravações, na última segunda-feira (18/8), o investigado, em novo depoimento, confessou que estava no local e disparou a arma da esposa. Conforme registrado no termo de declaração da oitiva, pela PCMG, Renê afirmou que essa teria sido a primeira vez que pegou a pistola .380, de uso particular da mulher. Ainda segundo a nova versão, ele teria feito isso para se proteger por “estar indo para um local perigoso” e por não conhecer o caminho. A arma, então, seria “para proteção”.

Durante o caminho para o trabalho, Renê teria encontrado um congestionamento causado pelo caminhão de coleta de lixo. Segundo ele, a motorista deixou que os carros à sua frente passassem, mas ao chegar na sua vez fechou o trânsito. Ele, então, teria gritado “Meu carro é largo, não vai passar” e a funcionária, do ângulo em que estava, viu a arma dentro do carro e alertou os coletores: “Ele está armado!”.

Em resposta a isso, Renê contou que um gari veio em sua direção, dizendo que ameaçar uma mulher era fácil, “quero ver fazer isso com um homem”. Ele confessou que após a suposta ameaça, saiu do carro, com a arma em mãos, e apontou para o chão, momento em que o gari recuou. Conforme o relato, o suspeito levantou a arma de fogo e, ao perguntar se o gari queria “resolver na mão”, a arma disparou. Ele afirmou que não tinha intenção de matar ninguém e sim “atirar para o alto”. 

Renê também alegou que não imaginava que o disparo atingiu Laudemir e imaginava poder responder judicialmente “no máximo” por porte ilegal de arma de fogo. Ele disse que só soube do assassinato ao ser abordado pela Polícia Militar de Minas Gerais, na tarde do crime.

Quem é o suspeito?

  • Renê da Silva Nogueira Júnior, 47 anos.

  • Ex-vice-presidente de empresa de alimentos; desligado após repercussão.

  • Casado com a delegada Ana Paula Balbino Nogueira (PCMG).

  • Se descrevia como “cristão, esposo, pai e patriota”.

  • Tem outros registros policiais em São Paulo (lesão corporal grave contra uma mulher) e Rio de Janeiro (lesão corporal contra ex-companheira, ameaça contra ex-sogra e envolvimento em homicídio culposo)

  • Nega ter antecedentes criminais; diz que só responde a processo por luxação no pé da ex-esposa.

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