Morte de gari: entrada de novo advogado surpreende antigo defensor
O mineiro Dracon Luiz Cavalcante Lima teve o nome retirado do processo e substituído por um advogado do Rio de Janeiro. Os dois seriam representantes de Renê
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Siga noEm meio à investigação de homicídio, Renê da Silva Nogueira Júnior, suspeito de matar o gari Laudemir de Souza Fernandes, se vê incluído em um mal entendido entre dois advogados. A confusão começou nesta segunda-feira (25/8) depois que o antigo defensor do empresário, o mineiro Dracon Luiz Cavalcante Lima, percebeu que seu nome foi retirado do processo e deu lugar a um segundo advogado, do Rio de Janeiro. De acordo com o Fórum Lafayette, o novo procurador, Bruno Silva Rodrigues, foi nomeado no sábado (23/8).
Ao Estado de Minas, Dracon contou que se reuniu com o empresário nesta tarde, no Presídio de Caeté, Região Metropolitana de BH. Durante o encontro, o antigo cliente explicou ao criminalista que pediu ao colega fluminense para trabalhar em parceria com ele, o que não foi respeitado.
Ainda segundo o mineiro, essa semana ele deverá se reunir com o novo representante legal de Renê para decidir se vai continuar no caso.
“Não era para ele [o novo advogado] me tirar e sim para trabalharmos juntos. Agora eu vou conversar com o advogado e decidir se vou continuar ou não, porque aqui não é Rio de Janeiro, aqui é Belo Horizonte, Minas Gerais. Não prometo nada além de trabalho e o que está dentro da lei”, disse Dracon.
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O criminalista mineiro é conhecido no cenário jurídico da capital por atuar em casos de grande repercussão, incluindo o do fisiculturista Allan Guimarães Pontelo, assassinado em uma boate, em setembro de 2017, e a defesa de uma mulher condenada por matar a síndica do prédio onde morava, em 25 de dezembro de 2017.
Na sexta-feira (22/8), após ser divulgado à reportagem como novo defensor do investigado de matar Laudemir, o advogado se limitou a dizer que não vai procurar inocentar seu cliente. Na oportunidade, o criminalista afirmou que iria buscar uma pena justa para o que teria sido cometido pelo, então, cliente. “Achei importante mostrar quem ele realmente é. Além disso, Renê reconheceu o erro e assumiu sua responsabilidade”, disse.
Outro ponto que não seria usado pela defesa é o diagnóstico de transtorno bipolar, exposto pelo empresário durante a oitiva à Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) em que confessou ter feito o disparo de arma de fogo que atingiu e matou o gari.
No depoimento, Renê afirmou que faz tratamento para o transtorno e que no dia do crime não tomou seu medicamento.
Após a divulgação do novo representante legal, em nota, o escritório de Bruno Silva Rodrigues, afirmou que só vai se pronunciar após a conclusão do inquérito, por meio da PCMG, e da denúncia à Justiça pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
Como foi o crime
O prestador de serviços da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) trabalhava, junto com outras quatro pessoas, na Rua Modestina de Souza, por volta das 8h55, quando a motorista do caminhão, uma mulher de 42 anos, parou e encostou o veículo para que uma fila de dez carros pudessem passar.
A via de mão dupla, segundo relato de testemunhas, fica próximo da Avenida Tereza Cristina. Em determinado momento, o último veículo, identificou um carro, da marca BYD e da cor cinza, teria enfrentado dificuldades para passar pelo caminhão e, por isso, a motorista e um dos garis teriam indicado ao motorista que o espaço seria suficiente.
Em seu depoimento à Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), a condutora do caminhão de coleta, identificada como Eledias Aparecida Rodrigues, afirmou que enquanto recebia as instruções dos funcionários, o motorista do BYD pegou uma arma preta, fez movimento para engatilhar a arma e apontando para ela disse: “Se você esbarrar no meu carro eu vou dar um tiro na sua cara, duvida?”.
Diante das ameaças feitas à colega, uma segunda testemunha afirmou que os demais trabalhadores tentaram acalmar o suspeito e pediram que ele seguisse seu caminho. Mesmo assim, segundo o boletim de ocorrência, o homem desembarcou com a arma em punho, deixando o carregador cair.
Ele então o recolocou, manobrou a arma e efetuou um disparo em direção à vítima. Laudemir chegou a ser socorrido e encaminhado para o Hospital Santa Rita, no Bairro Jardim Industrial, em Contagem, mas faleceu.
Imagens de câmera de segurança flagraram o momento em que o gari saiu correndo já ferido. Na gravação é possível ver o momento que o carro que seria do investigado, vira na rua em que o caminhão de coleta estava parado.
O veículo então para por um segundo, segue em frente e os demais que estavam atrás passam a dar ré e sair da via. Na sequência, dois garis saem correndo e um deles coloca a mão na região do abdômen e cai no chão. Ele é amparado por um colega que segura sua cabeça.
Qual é a versão de Renê?
No depoimento, Renê admitiu que saiu do local do crime imaginando que seria penalizado apenas por porte ilegal de arma, pois não imaginou que o tiro que efetuou havia acertado alguém, uma vez que viu todos os coletores correndo depois de atirar. Em sua versão dos fatos, ele tentava passar em uma via onde estava o caminhão de lixo, mas não conseguiu atravessar por ter o carro largo.
Segundo o empresário, ele pegou a arma por estar “receoso” de ir trabalhar por uma rota desconhecida e, somado a isso, tinha esquecido de tomar a medicação para bipolaridade. Ele, porém, não soube especificar o nome do remédio, apenas afirmando que serve para estabilização do humor. Em suas palavras, servia para “equilibrar a cabeça”.
Quem é o suspeito?
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Renê da Silva Nogueira Júnior, 47 anos.
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Ex-vice-presidente de empresa de alimentos; desligado após repercussão.
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Casado com a delegada Ana Paula Balbino Nogueira (PCMG).
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Se descrevia como “cristão, esposo, pai e patriota”.
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Tem outros registros policiais em São Paulo (lesão corporal grave contra uma mulher) e Rio de Janeiro (lesão corporal contra ex-companheira, ameaça contra ex-sogra e envolvimento em homicídio culposo)
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Nega ter antecedentes criminais; diz que só responde a processo por luxação no pé da ex-esposa.