PROTESTO EM BH

Garis pedem justiça por colega morto após confissão de empresário

Renê da Silva Nogueira Júnior confessou que matou Laudemir, causando revolta entre os colegas do gari, além do receio de que pena seja menor pela confissão

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Garis de Belo Horizonte realizaram uma manifestação na manhã desta quarta-feira (20/8) em frente à sede da Localix, empresa onde trabalhava Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, morto com um tiro na última semana. O protesto, que pedia por justiça, ocorre depois de o empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, confessar ter cometido o crime, no dia 11 deste mês.

De acordo com os colegas de profissão de Laudemir, o ato, que durou cerca de 40 minutos, foi promovido depois deles saberem que a pena de Renê pode ser reduzida em decorrência da confissão. A revolta e o desejo por justiça moveram os trabalhadores.

“A gente precisa ter justiça. Se não fosse a repercussão, com certeza o Renê já estaria solto. Por isso, a gente tem que se movimentar mesmo para que ele fique preso”, disse o gari Tales Marcelo Alves.

Carregando faixas com os dizeres “Somos garis. Não somos lixo. Nossa esperança é o TJMG e o MPPMG”, os profissionais interditam a Rua A para chamar ainda mais atenção para o caso. De acordo com o supervisor operacional da Localix, onde a vítima trabalhava, a empresa não sabia do ato.

A confissão ocorreu nessa segunda-feira (18/08) durante interrogatório na sede do Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Bairro Lagoinha, Região Noroeste de BH.

Segundo a Polícia Civil (PCMG), o empresário alegou que efetuou o disparo devido a uma discussão de trânsito e que a sua esposa, delegada da PCMG, não tinha conhecimento que ele havia se apoderado da arma particular dela, uma pistola calibre .380. Renê está preso desde o dia do crime e aguarda a finalização do inquérito policial.

Até o momento, não há provas de envolvimento da delegada no crime e a PCMG informou ao Estado de Minas que Ana Paula segue desempenhando suas funções. Um inquérito policial segue em tramitação na Corregedoria-Geral da instituição e um procedimento administrativo foi instaurado para apurar todos os elementos que envolvem uma eventual conduta praticada pela delegada. Caso seja comprovado a participação da delegada no assassinato de Laudemir, ela poderá responder criminalmente pelo crime.

Renê confessou o crime depois da divulgação das imagens de uma câmera de segurança que mostram o empresário guardando a arma usada no crime. As gravações foram feitas pelo sistema interno do estacionamento do prédio em que ele morava, no Bairro Vila da Serra, em Nova Lima, na Grande BH. O advogado criminalista Bruno Rodarte analisa que a decisão de Renê de assumir a autoria do crime pode ter sido motivada pelo acúmulo de evidências que o incriminam.

Além disso, na sexta-feira (15/8), exames de microbalística confirmaram que o projétil que matou Laudemir saiu da arma da delegada Ana Paula Balbino Nogueira, mulher de Renê, e o horário da câmera da empresa onde o suspeito trabalhava usado como álibi está errado.

“Nesse caso, pelo que nós temos informação, o que aconteceu foi o acúmulo de elementos probatórios contrários à tese que o Renê sustentou em um primeiro momento, negando a autoria. Consequentemente, a confissão acarreta na redução de uma eventual pena fixada ao final do processo”, explica Rodarte.

O especialista ainda frisa que, a partir do momento em que o indivíduo confessa, em qualquer hipótese, é imprescindível reduzir a pena.

Como ocorreu o crime?

A equipe de coleta de lixo trabalhava na Rua Modestina de Souza, no Bairro Vista Alegre, Região Oeste de BH, quando a motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, de 42 anos, percebeu que uma fila de carros se formava atrás do veículo. Para liberar a passagem, ela decidiu manobrar, permitindo que os motoristas seguissem adiante, entre eles o empresário Renê da Silva, que conduzia um carro da marca BYD.

De acordo com depoimentos, a motorista e os garis acenaram para Renê, dizendo  “vem, vem, pode vim (sic)”, em sinal de que havia espaço para ele passar. Nesse momento, o suspeito teria abaixado a janela e gritado para a condutora que se alguém encostasse em seu veículo ele iria matar a pessoa. Ele então pegou uma arma, apontou para Eledias e ameaçou "dar um tiro na cara" dela. 

O gari Tiago Rodrigues se colocou entre os dois, tentando intervir: “Você vai dar um tiro na mulher trabalhando? Vai matar ela dentro do caminhão?”, questionou. Renê seguiu com o carro sem encostar no caminhão e parou alguns metros à frente. Saiu do veículo armado, mas deixou o carregador cair. Após recolhê-lo, engatilhando novamente a pistola, efetuou um disparo, que atingiu Laudemir no abdômen.

O tiro acertou o lado direito das costelas e saiu pelo esquerdo. Laudemir foi levado ao Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande BH, mas morreu momentos depois por hemorragia interna. No local do crime, foi recolhido um projétil intacto de munição calibre .380.

Naquele dia, Laudemir substituía um colega afastado por lesão. Ele normalmente trabalhava na rota que atende o Bairro Serra, na Região Centro-Sul da capital. A motorista, em depoimento judicial ao qual o Estado de Minas teve acesso, contou que ele atuava há dez anos na empresa e que havia acabado de conquistar a guarda da filha. Disse ainda que Laudemir estava ansioso para terminar o turno e chegar em casa antes das 18h, horário em que o Conselho Tutelar faria uma visita de vistoria à nova moradia da menina.

Renê é investigado pelos crimes de ameaça e homicídio qualificado, com agravantes de motivo fútil e de uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. Segundo a polícia, três testemunhas o reconheceram. 

O que dizem as investigações até o momento?

A arma utilizada no homicídio, uma pistola calibre .380, pertence à delegada da Polícia Civil Ana Paula Balbino Nogueira, esposa de Renê, e foi apreendida na residência da servidora no mesmo dia do crime. Os exames periciais, divulgados na sexta-feira (15/8) pela corporação, apontaram a compatibilidade entre a arma de Ana Paula e as munições usadas no assassinato de Laudemir.

Na noite de segunda, após a prisão de Renê, a servidora, que chefia a Delegacia de Combate à Violência Doméstica em Nova Lima, na Grande BH, afirmou à Polícia Civil que o marido não tinha acesso às suas armas e que não tinha informações sobre o crime. A corporação instaurou procedimento administrativo disciplinar correcional para apurar eventuais responsabilidades.

Apesar do procedimento interno, o delegado Saulo Castro afirmou, em coletiva de imprensa, que não há indícios para afastamento da servidora e, por isso, ela segue em seu cargo regular. “Estamos em fase inicial da investigação, que também foi instaurado um procedimento administrativo disciplinar correcional e que, eventualmente, sendo demonstrado qualquer tipo de responsabilidade, a servidora será devidamente penalizada em âmbito correcional”, disse.

Na ocasião, a corporação acrescentou ainda que o fato de a arma estar no nome da servidora do governo de Minas Gerais “não necessariamente” a coloca como coautora ou partícipe da ocorrência. A participação só será indicada caso fique constatado que a mulher entregou o armamento para o marido.

Um dos pontos centrais da investigação é o horário de chegada de Renê à Fictor Alimentos LTDA, em Betim, na Grande BH, onde ele trabalha. Câmeras de segurança  da empresa inicialmente indicaram que ele teria chegado às 9h18, mas a perícia da Polícia Civil afirma que o registro correto seria 9h38, pouco mais de meia hora após um circuito de segurança na rua capturar o momento em que o gari foi baleado no Bairro Vista Alegre, às 9h07. 

Na quinta-feira (14/8), a Justiça autorizou a quebra de sigilo dos dados telefônicos e telemáticos de Renê, oficiados à empresa BYD do Brasil, montadora do carro do suspeito visto no local do crime, e a operadora Claro. O objetivo é levantar as rotas percorridas por Renê no dia e nos horários próximos do momento do homicídio.

Como o suspeito foi preso?

Horas após o crime, a Polícia Militar localizou e prendeu Renê no estacionamento de uma academia na Avenida Raja Gabaglia, em Belo Horizonte. Segundo a corporação, a identificação do suspeito foi possível graças à análise de imagens de câmeras de segurança, que revelaram parte da placa do veículo e possibilitaram identificar o modelo do carro. 

Renê teve a prisão em flagrante convertida em preventiva pela Justiça, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), em audiência de custódia realizada na quarta-feira (13/8). O advogado do caso, Leonardo Salles, não se pronunciou. Ele está detido no Presídio de Caeté, na Grande BH.

De acordo com a decisão judicial, a prisão preventiva do réu é necessária para garantir a ordem pública, dada a gravidade do crime é o modus operandi utilizado. Isso porque, segundo a ata da audiência, o crime foi cometido "em plena luz do dia, por motivo fútil, uma aparente irritação decorrente de uma breve interrupção no trânsito".

O que diz o suspeito?

Em depoimento no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no dia da prisão, Renê negou que esteve no local do crime e disse que costuma utilizar apenas vias principais, conforme orientação de sua esposa, já que ele não é natural de Minas Gerais e desconhece bem a cidade.

Renê também disse não reconhecer o nome da avenida mencionada pelas autoridades. Segundo ele, foi abordado de forma cordial por policiais que informaram que ele estava sendo averiguado por uma ocorrência na “Avenida Teresa não sei o que”, sem saber o nome. O suspeito ainda contestou a identificação do veículo nas imagens e afirmou que o carro do vídeo era elétrico e tinha insulfilm escuro em todos os vidros, enquanto o veículo que dirige é híbrido e possui insulfilm apenas nas laterais e na traseira.

Ainda segundo a versão do suspeito, depois do expediente, encerrado por volta de 13h, ele teria ido para a casa, no Bairro Vila da Serra, em Nova Lima, na Grande BH, passeado com seus cachorros e, em seguida, ido para a academia. A abordagem da polícia foi feita às 16:57, segundo o B.O. 

Durante o depoimento prestado logo após sua prisão em flagrante, Renê afirmou que ligou para a esposa naquela manhã, por volta das 8h40, informando que o trânsito estava ruim. Segundo ele, a próxima ligação teria ocorrido às 14h, quando avisou que tinha saído para passear com os cachorros. Por fim, Renê disse ter entrado em contato novamente com a esposa assim que foi abordado pela PM.

Renê é investigado pelos crimes de ameaça e homicídio qualificado, com agravantes de motivo fútil e de uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. Segundo a polícia, três testemunhas o reconheceram.

Quem é o suspeito?

Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, atuava como vice-presidente de uma empresa de alimentos, mas foi desligado no dia seguinte à repercussão do crime. Ele é casado com a delegada da Polícia Civil Ana Paula Balbino Nogueira. Em seu perfil do Instagram, que foi desativado poucas horas após a prisão, ele se descrevia, em inglês, como "cristão, esposo, pai e patriota".

Durante a audiência de custódia, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) informou que, apesar de não haver antecedentes criminais no estado, Renê possui registros em São Paulo e no Rio de Janeiro. A ata da audiência, a qual o Estado de Minas teve acesso, mostra que o primeiro caso se trata de uma ação penal pela prática de crime de lesão corporal grave contra uma mulher.

Já no estado fluminense, o empresário responde por lesão corporal contra uma ex-companheira, além de ameaça contra a ex-sogra. A informação foi confirmada à reportagem pelo chefe da divisão de homicídios do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da PCMG, Álvaro Huertas. Além disso, o registro de antecedentes da Polícia Civil do Rio de Janeiro, aponta que o homem também teria envolvimento em uma ocorrência de homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

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Ao ser questionado sobre o histórico pelos seus advogados, o investigado afirmou que nunca foi preso e não responde a nenhum processo criminal. “Eu respondo por uma luxação do quinto metatarso da minha ex esposa. Mas já tenho uma medida cautelar contra ela, dada pelo Ministério Público de São Paulo”, disse Renê. A reportagem do EM entrou em contato com o MPSP em busca de informações sobre esse processo, mas recebeu como resposta que o caso está em segredo de Justiça.

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