Os advogados de Renê da Silva Nogueira Júnior, indiciado pela morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, em Belo Horizonte, pediu que o crime seja reconstituído. A informação foi divulgada pela própria defesa, que protocolou o requerimento na manhã desta sexta-feira (29/8) e aguarda parecer do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
O homem, natural de Nova Iguaçu (RJ), está preso desde o dia dos fatos, após ser encontrado pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) em uma academia na Avenida Raja Gabaglia.
Nesta tarde, durante coletiva de imprensa, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que Renê foi indiciado por homicídio duplamente qualificado - por motivo fútil e meio que dificultou a defesa da vítima-, ameaça à motorista do caminhão de coleta e porte ilegal de arma de fogo.
A esposa dele, a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira, também foi indiciada por porte ilegal de arma de fogo, no entendimento da lei de desarmamento, por ter cedido ou emprestado sua pistola de uso pessoal para o companheiro.
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Procurado, o representante legal do empresário, Bruno Rodrigues, do Rio de Janeiro, informou que só vai se manifestar sobre o indiciamento do cliente após a apreciação do MPMG sobre o pedido de reconstituição do crime.
Fascínio por armas
Além da comprovação do envolvimento do empresário na morte de Laudemir, as investigações indicaram que Renê possui "fascínio" por armas de fogo e o "poder" que o armamento o concedia. De acordo com o delegado Evandro Radaelli, durante análises feitas no aparelho celular do investigado foram encontradas imagens em que ele exibe diversas armas.
Em alguns vídeos, o homem aparece fazendo disparos. Ainda segundo o chefe da investigação, o artefato não é o mesmo usado no crime registrado no Bairro Vista Alegre. Além disso, o homem também demonstrava “interesse” pelo cargo ocupado pela esposa. Em uma das fotos, ele chegou a exibir o distintivo da mulher.
Como o crime aconteceu?
- Equipe de coleta de lixo trabalhava na Rua Modestina de Souza, Bairro Vista Alegre, em BH, na manhã do dia 11 de agosto.
- Motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, 42 anos, manobra para liberar passagem, após ver uma fila de carros se formar atrás dela.
- Eledias e os garis acenam para Renê da Silva, que dirigia um carro BYD, permitindo a passagem.
- O suspeito abaixa a janela e grita que, caso encostasse em seu veículo, ele iria "dar um tiro na cara" da condutora.
- Na sequência, ele segue adiante, estaciona, sai do carro armado; derruba o carregador, recolhe e engatilha pistola, segundo o registro policial.
- Ele faz um disparo que atinge Laudemir no abdômen.
- O gari é levado ao Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande BH, mas morre por hemorragia interna.
- No local, PM recolhe projétil intacto de munição calibre .380.
- Horas após o crime, a PM localiza e prende Renê no estacionamento de academia na Av. Raja Gabaglia.
- Flagrante convertido em prisão preventiva em audiência de custódia, no dia 13 de agosto, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais
- Renê está preso no Presídio de Caeté, Grande BH
Mudança de narrativa
Em um primeiro momento, Renê negou que teria cometido o crime e passado pela Rua Modestina de Souza, no Bairro Vista Alegre, Região Oeste de BH, na manhã de 11 de agosto. Ele chegou a dizer que saiu de casa, no Bairro Vila da Serra, em Nova Lima, na Região Metropolitana, direto para o trabalho em Betim, também na Grande BH. No entanto, o álibi foi derrubado pelas investigações que obtiveram imagens nítidas do carro do suspeito e dele guardando a arma de sua esposa, delegada da PCMG, em uma mochila.
Após a divulgação das gravações, na última segunda-feira (18/8), o investigado, em novo depoimento, confessou que estava no local e disparou a arma da esposa. Conforme registrado no termo de declaração da oitiva, pela PCMG, Renê afirmou que essa teria sido a primeira vez que pegou a pistola .380, de uso particular da mulher. Ainda segundo a nova versão, ele teria feito isso para se proteger por “estar indo para um local perigoso” e por não conhecer o caminho. A arma, então, seria “para proteção”.
Durante o caminho para o trabalho, Renê teria encontrado um congestionamento causado pelo caminhão de coleta de lixo. Segundo ele, a motorista deixou que os carros à sua frente passassem, mas ao chegar na sua vez fechou o trânsito. Ele, então, teria gritado “Meu carro é largo, não vai passar” e a funcionária, do ângulo em que estava, viu a arma dentro do carro e alertou os coletores: “Ele está armado!”.
Em resposta a isso, Renê contou que um gari veio em sua direção, dizendo que ameaçar uma mulher era fácil, “quero ver fazer isso com um homem”. Ele confessou que após a suposta ameaça, saiu do carro, com a arma em mãos, e apontou para o chão, momento em que o gari recuou. Conforme o relato, o suspeito levantou a arma de fogo e, ao perguntar se o gari queria “resolver na mão”, a arma disparou. Ele afirmou que não tinha intenção de matar ninguém e sim “atirar para o alto”.
Renê também alegou que não imaginava que o disparo atingiu Laudemir e imaginava poder responder judicialmente “no máximo” por porte ilegal de arma de fogo. Ele disse que só soube do assassinato ao ser abordado pela Polícia Militar de Minas Gerais, na tarde do crime.
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O que acontece agora?
- O resultado das investigações e indiciamento do suspeito serão enviados ao Ministério Público de Minas Gerais;
- Após o recebimento dos documento, o MPMG tem até dez dias para denunciar, ou não, o indiciado à Justiça;
- Além dos crimes relatados na conclusão do inquérito o MPMG pode acusar o homem por outros delitos;
- A delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira vai continuar afastada, por motivos de saúde;
- A Corregedoria da PCMG continua as investigações administrativas contra a servidora.