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Por que estas cidades mineiras têm estes nomes?

Minas tem mar, sim, e de Espanha. E o que dizer de Catas Altas da Noruega e de Cabo Verde. Pesquisadora explica a origem desses topônimos curiosos

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Vamos começar esta “viagem” por Catas Altas da Noruega, tendo como guia a professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Maria Cândida Trindade Costa de Seabra, coordenadora do Projeto Atemig – Atlas toponímico de Minas Gerais. Conforme suas pesquisas, trata-se de um nome composto, um “fóssil linguístico”, que se caracteriza como um nome antigo que ficou preservado na língua como topônimo (nome próprio de um lugar). Catas designam escavações, às vezes de grande profundidade, nas quais se faz a mineração, do alto para baixo. “Sobre sua etimologia, deriva-se do verbo ‘catar’, significando buscar, procurar. Compondo com Catas Altas, Noruega se refere ao país escandinavo, provavelmente, uma alusão a seu clima frio das montanhas.”


A palavra “noruega” é, ainda hoje, usada em várias regiões do Brasil pelo homem do campo, e seu sentido é muito bem definido por João Ribeiro, em seu livro “Curiosidades Verbais”. Eis um trecho: “Os nossos lavradores chamam ‘noruega’ o terreno que não é soalheiro e apanha pouco sol. Noruegas são baixadas, gretas úmidas que servem a poucas plantas. A palavra veio de Portugal, mas lá é desconhecida agora.”

Cabo Verde
Cabo Verde Wikimedia Commons/Reprodução


Já Cabo Verde reporta, em primeiro momento, a pessoas do arquipélago com esse nome, localizado a 620 quilômetros da costa do Senegal. “Cabo é uma península estreita, que se estende para o mar a partir do continente africano, todavia Cabo Verde é um arquipélago, constituído por 10 ilhas – não um cabo.” Esse arquipélago foi colônia de Portugal de 1460 até 1975. Descoberto por Dionísio Dias, em 1444, foi chamado por ele de “Ilhas de Cabo Verde” por se encontrar próximo ao promontório de Cabo Verde, no Senegal, assim chamado por sua abundante vegetação.


Em Minas, o que motivou o nome de um de seus municípios não foi a vegetação local nem, tampouco, a República de Cabo Verde, localizada no Oceano Atlântico ao largo da costa da África Ocidental. Tem este vocábulo, em Minas, outro significado. “Segundo lemos em Nélson de Senna, o povo dá este nome às rochas eruptivas constituídas pela “diábase negra”, a qual em grande extensão recobre o território mineiro. É o mesmo a que o povo ainda denomina pedra de bronze e pedra de judeu.” E mais, explica Maria Cândida Seabra: “A localidade mineira de Cabo Verde deve o seu nome à presença dos numerosos rochedos diabásicos conhecidos por cabo-verde, verdadeiros blocos isolados que se encontram nas encostas dos montes, por todo o vale do rio Muzambo e do seu afluente Cabo Verde, que banham esse município da região meridional de Minas”.

 

Mar de Espanha
Mar de Espanha Prefeitura de Mar de Espanha/Divulgação

 


Origem


Mar de Espanha é outro topônimo que provoca a curiosidade das pessoas. “Sua origem obscura segue aberta a debate, ainda que a hipótese mais sólida parece ser a que o relaciona à tradição local ‘de que teria surgido da exclamação de um dos primeiros povoadores, de nacionalidade espanhola, o qual, ante o espetáculo da confluência dos rios Paraibuna e Piabanha, em dia de grande cheia, teria dito: ‘Parece mar...um mar de Espanha!...’


A expressão agradou a um fazendeiro, que a aproveitou para a denominação de sua fazenda”. Posteriormente, em 1851, Mar de Espanha passou a figurar como nome do município, substituindo o antigo topônimo Cágado. “Não apenas no Brasil, mas em qualquer outro país, topônimos deslocam-se, acompanhando os povos em suas migrações, dando origem a uma expansão toponímica em lugares distantes, resultante da saudade da terra natal.”


A professora explica ainda que o nome estrangeiro, fora de seu território, costuma receber acréscimos, como sucedeu com o topônimo mencionado – Mar de Espanha. Essa transplantação toponímica ocorre, principalmente, em países novos, “de crescimento rápido e cheio de esperanças, prognosticando futuro êxito para as cidades nascentes.”


Para Maria Cândida Seabra, os três topônimos citados parecem ser suficientes para ilustrar ou comprovar quantas surpresas podem surgir quando se tenta interpretar os nomes de lugares. “O maior erro é considerar unicamente o topônimo em sua forma atual, esquecendo que a língua é dinâmica, exposta às influências sociais e ambientais”, ressalta.

Jornalistas Beto Mateus e Bernardo Mello Franco, com Clara Alvim, durante o festival literário
Jornalistas Beto Mateus e Bernardo Mello Franco, com Clara Alvim, durante o festival literário @ALNEREIS/DIVULGAÇÃO

“Foi meu pai quem apresentou...


A frase, em tom de confidência, é da professora Clara Alvim, de 88 anos, filha do belo-horizontino Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898-1969). Pioneiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e presidente da autarquia federal por mais de três décadas, Rodrigo era “loucamente estudioso, com percepção de artes plásticas e literatura”, disse Clara durante o Festival Literário Internacional de Paracatu, em sessão com a participação dos jornalistas Beto Mateus e Bernardo Mello Franco. “Meu pai tinha a capacidade de indicar pessoas para cargos importantes. Foi assim com Lúcio Costa (arquiteto e urbanista), que ele muito cedo indicou para diretor da Escola de Belas Artes.” Assim, foi ele quem apresentou o arquiteto modernista Oscar Niemeyer a Juscelino Kubitschek, parceria que rendeu “patrimônios mundiais” como a Pampulha, em BH, e Brasília (DF). Rodrigo foi o patrono da edição 2025 do Fliparacatu.


...Oscar Niemayer a Juscelino”


Durante a conversa na Academia de Letras do Noroeste de Minas, Clara Alvim contou intimidades que poucos sabem. O poeta Manuel Bandeira, apelidado “Manula”, jantava em casa de sua família, uma vez por semana, a convite de Rodrigo. “Era muito chegado a meu pai”. Também no Rio de Janeiro, Rodrigo dava carona até o trabalho a outro poeta, Carlos Drummond de Andrade. “Gilberto Freire, quando vinha de Pernambuco, jantava lá em casa.” Em tom informal, Clara se lembrou da infância. Sobre Mário da Andrade, autor do célebre “Macunaíma”, a professora se recordava dele nos últimos anos de vida, quando foi morar no Rio, vindo de São Paulo. “Mas estava muito deprimido, se afastou dos amigos. Ele manteve correspondência diária com Manuel Bandeira”. Por fim, disse o seguinte: “No escritório da minha casa, a estante do meu pai era coberta de livrinhos de ‘Velórios’ (único livro publicado de autoria de Rodrigo)”. Mas por quê? “Ele dizia que não era bom, e mandou recolher”.

 

 Imagem de São Miguel Arcanjo
Imagem de São Miguel Arcanjo MPMG/DIVULGAÇÃO


Parede da memória


Desde 8 de janeiro de 2008, a imagem de São Miguel Arcanjo está desaparecida da Matriz Nossa Senhora da Imaculada Conceição, de Matias Cardoso, no Norte do estado. Do século 17, tem 85,5 centímetros de altura e 57cm de largura. Tombado pelo Iphan em 1954, o templo é considerado um dos mais antigos de Minas. O culto a São Miguel Arcanjo está presente na Igreja Católica desde os primórdios, assim a ele são dirigidas novenas e orações dos cristãos sempre pedindo proteção contra o mal e orientação na direção no caminho de Deus. Quem tiver informações sobre a peça sacra pode acessar a plataforma Sondar, do Ministério Público de Minas Gerais, na qual se encontra um acervo disponível com cerca de 2,5 mil bens culturais mineiros, a exemplo de documentos e peças de arte sacra.

 

"Faces do Quilombo de Pinhões", do artista André Ghário
"Faces do Quilombo de Pinhões", do artista André Ghário SANTUÁRIO SANTA LUZIA/DIVULGAÇÃO


Faces do Quilombo


Até dia 28, poderá ser vista na Igreja do Rosário, em Santa Luzia, a exposição “Faces do Quilombo de Pinhões”, do artista André Ghário. Na mostra, são retratados cinco moradores dessa histórica comunidade por meio da pintura a óleo: a rainha perpétua do congado, Maria Geralda; a rainha do congado, Alaíse; o mestre do congado, Sidnei; dona Lilia (Maria Euleuteria) e Cida (Aparecida). “As obras unem rostos em primeiro plano, como estilo realista que expressa presença pictórica, história e presenças individuais”, diz o artista. De terça a domingo, das 9h às 11h e das 13h às 17h.


Semana JK


De amanhã (8) a 12 de setembro, será realizada em Diamantina a Semana JK, uma das mais tradicionais celebrações da cidade, totalmente dedicada ao filho ilustre da terra, Juscelino Kubitschek de Oliveira, que foi prefeito de BH, governador de Minas e presidente da República. Shows musicais, palestras, apresentações culturais, cortejos e a famosa Vesperata, desta vez especial, estão na programação. À frente, a Prefeitura de Diamantina em parceria com a Casa de Juscelino. Informações: [email protected] e pelos telefones (038) 3531-9532 e 99981-1501.


Jornal Minas Gerais 1

Mais de 10 anos de edições do “Jornal Minas Gerais” estão disponíveis para acesso, após ampliação pelo governo estadual do acervo digital com as publicações de 1999 a 2009. A iniciativa tem o objetivo de facilitar a consulta de atos oficiais e notícias do governo nesse período. O acervo já contava com edições de 1892 a 1943 e de 2010 até os dias atuais. Com as novas edições, serão mais 182 mil páginas de material histórico preservados e à disposição dos mineiros. O conteúdo pode ser acessado em dois blocos: um com o histórico desde a primeira publicação até o ano de 1943, além do ano de 2010. O segundo reúne todas as edições veiculadas a partir do ano de 2011. Para visualizar as publicações, é necessário acessar o Jornal Minas Gerais, informar a data desejada e clicar em “Ir”.

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