CONSTRUINDO MEMÓRIAS

Tradicional Café Nice reabre as portas de olho no futuro

Projeto de renovação da cafeteria no Centro de Belo Horizonte mostra que é possível modernizar sem perder a essência

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O Café Nice, localizado na Praça Sete, no Centro de Belo Horizonte, acompanha a história da capital há 85 anos e nesta terça-feira (23/9) inicia um novo capítulo para seguir fazendo parte do futuro dos belo-horizontinos. O lema “Desde 1939 fazendo amizades” permeou o evento de reinauguração do estabelecimento hoje. 

“Estou muito emocionado. Se você tivesse vindo aqui há quatro meses, teria encontrado uma casa muito diferente, caída. E hoje ela está nova, manteve as características da casa mas renovou”, disse Renato Moura Caldeira, proprietário do Café Nice, emocionado enquanto olhava para ao redor. 

Fundado por Heitor Resende em 1939 em uma das principais vias de BH, a Avenida Afonso Pena, os irmãos Renato e Tadeu Moura Caldeira herdaram o negócio há 55 anos. O local foi parada obrigatória para muitos belo-horizontinos ao longo das épocas. Também recebeu autoridades como Juscelino Kubitschek, Lula, Dilma Rousseff, Tancredo Neves e Michel Temer, dentre tantos outros, cujas fotos estão espalhadas pelas paredes. 

Entretanto, o tempo passou e o Centro de BH sofreu um “esvaziamento”, diminuindo o número de clientes do Nice. Em 2020, com a Pandemia de Covid-19, o problema se agravou, fazendo com que os irmãos considerassem fechar o café.

“Passei por diversos desafios e planos econômicos. Na década de 1990 cada ano tinha um plano econômico diferente. Mas a pandemia foi o desafio mais pesado de todos, mas graças a Deus a gente resistiu e hoje é o início de uma nova temporada”, afirma Renato.  

Alessandra Marcia Vieira da Costa e seu pai, Leal Costa, são clientes de longa data e compareceram à inauguração. Leal trabalhou muitos anos próximo à Avenida Paraná e o Café era parada obrigatória no dia a dia. Mesmo aposentado, continua frequentando o estabelecimento, agora acompanhado da filha.

Projeto de renovação do Café Nice contou com patrocínio da CDL/BH e da Gerdau e apoio da Gabriel Azevedo e Banco Mercantil
Reinauguração do Café Nice lotou o local nesta terça-feira (23/09) Jair Amaral/EM/D.A Press

Eles contam que, quando chegam no estabelecimento, os funcionários já começam a preparar um misto quente e um café para cada. Segundo eles, é o melhor café servido em BH. As mudanças foram aprovadas pela dupla: “Evoluir faz bem. Agora está tudo novo, bonito, e o Tadeu é muito gente boa”, diz Leal. 

Amor e café

Mais do que fazer parte da história de Belo Horizonte, o Café Nice também faz parte das histórias das pessoas que passaram por ali. A bibliotecária Milce Maria Diniz, de 65 anos, frequenta o lugar desde adolescente, principalmente para tentar encontrar algum famoso.  

“Aqui era o encontro da nata de Belo Horizonte. Podia-se encontrar escritores, políticos, cantores como Flávio Venturini, Milton Nascimento, que vinham aqui só para bater um papo. Então, às vezes a gente estava passando e via essas pessoas. Essa era a forma mais direta de encontrar quem a gente queria”, lembra Diniz.

Projeto de renovação do Café Nice contou com patrocínio da CDL/BH e da Gerdau e apoio da Gabriel Azevedo e Banco Mercantil
Milce Maria Diniz, de 65 anos, e Alarico Rezende, de 72 anos, estão juntos desde 2019. O Café Nice foi o local do primeiro encontro Jair Amaral/EM/D.A Press

Ela conheceu o atual marido, Alarico Rezende, de 72 anos, pela internet há nove anos, e só se encontraram pessoalmente em 2019. Quando ele chegou na rodoviária, ela fez questão de levá-lo ao Café Nice. “Eu vim tomar um café com pão de queijo em Belo Horizonte e fiquei. Eu me considero um paulista mineiro”, conta o cantor e compositor com um sorriso no rosto. 

Amante de café, o casal afirma que não existe melhor cafeteria do que o Nice. Não apenas pela qualidade dos produtos, mas pelo atendimento diferenciado. “O Tadeu conversa com a gente, conta a história da família dele e de Belo Horizonte. Então quem visitar BH pela primeira vez vai ter uma ideia da beleza da cidade. Eu amo esta cidade, nenhum outro lugar abraça a gente dessa forma. Estes lugares que fazem parte da nossa cultura trazem esse calor humano, esse abraço para quem está chegando”, declara a bibliotecária.

Alarico espera que a revitalização do Nice inspire outros estabelecimentos importantes para a capital e vire um movimento de revitalização do centro em si: “A cultura e a memória não podem morrer”. 

Rede de apoio

A reforma faz parte de um projeto de reconfiguração do negócio que surgiu em um encontro entre os irmãos Caldeira e o ex-presidente da Câmara Municipal Gabriel Azevedo (MDB). O designer gráfico Rafael Quick completou o time com sua experiência em resgatar espaços “esquecidos” na cidade, como o Café Jetiboca, no Mercado Novo, a Casa Alvorada, no Santa Efigênia, e o Forno da Saudade, no Carlos Prates.

Em 15 de abril deste ano o Café Nice lançou a campanha “Abrace o Nice”, convidando a população para ajudar a salvar o ponto histórico, que incluía a venda de produtos como camisas, xícaras e um financiamento coletivo. O objetivo era arrecadar R$ 280 mil, sendo R$ 30 mil por meio do financiamento coletivo. 

Uma semana depois, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) anunciou o apoio e patrocínio oficial ao projeto e no dia 3 de setembro a Gerdau, empresa brasileira produtora de aço, abraçou a causa. Em seguida, o Banco Mercantil e Gabriel Azevedo entraram como apoiadores.

“O Café Nice se tornou não só um estabelecimento do Renato e do Tadeu, mas da cidade de Belo Horizonte, de todos nós, das pessoas que gostam de coisas boas e tradicionais da nossa cidade”, disse Marcelo de Souza e Silva, presidente da CDL/BH, durante a reinauguração. “Lembrando que a revitalização preservou toda a beleza do Café nica, mas trouxe modernidade”, completa. 

Durante a cerimônia, Gustavo Werneck da Cunha, CEO da Gerdau, lembrou dos das vezes que foi ao Nice com o pai e reafirmou a importância de preservar a história local. “A gente não se sente como patrocinador, mas como privilegiado por estar aqui hoje e fazer parte dessa história. Estar aqui hoje é lembrar toda a história que vivi aqui com meu pai”, afirma.

Sem perder o estilo

Rafael Quick, da Oficina Paraíso, explica que o fio condutor do projeto foi a própria história do Café Nice, convidando a população a reconhecer a importância do lugar e renovando os clientes, principalmente os mais jovens. A aposta também é no turismo, transformando o local de ponto de passagem para destino. 

“Eu espero que as pessoas venham e prestigiem. Não adianta depois que ver uma porta fechada falar: ‘não podia ter fechado’. Tem que frequentar, trazer o vizinho, o turista. Isso é muito importante”, diz o designer.

Douglas Issa, coordenador do projeto ao lado de Quick, explica que foram feitas reformas estruturais na laje, onde havia problemas de infiltração; pintura interna; instalação de nova marcenaria; banquetas; iluminação e elétrica. Além disso, foi feita a manutenção em equipamentos como refrigeradores, fornos e a compra de utensílios, como masseira elétrica e refresqueiras.

O projeto manteve as cores marrom, bege e azul claro que já faziam parte da identidade visual, utilizou a madeira para renovar a fachada e o padrão dos azulejos para criar embalagens e estampas para sacolas, cafés, xícaras e bonés. O painel de fotos foi mantido e expandido, com fotos de celebridades que se deliciaram com um bom café mineiro. 

“O Nice, antes de ser um balcão, era uma casa de chá muito elegante e era toda de madeira, com uma tabacaria que ia até o teto com uma prateleira de madeira e nós a trouxemos de volta, a gente refez o cardápio com a mesma letra que já era usada. A reinauguração é muito simbólica para nós, fico esperançoso que hoje seja uma virada e chave e o início de uma jornada de prosperidade”, avalia Quick.

Um novo programa 

O Café Nice também vai se tornar parte de um projeto da CDL para aproximar o lojista da Câmara dos Dirigentes. A ideia, que ainda está sendo desenvolvida, propõe a gravação de um programa semanal no qual Marcelo de Souza e Silva, presidente da CDL/BH, recebe um lojista para entender quais são as melhores práticas e o que pode mudar em cada estabelecimento, não só na revitalização física mas também no modelo de gestão. 

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“É importante mostrar que é possível unir os esforços para que a gente possa revitalizar todo o Centro de Belo Horizonte e marcar esse fortalecimento e pertencimento desses estabelecimentos que são ícones da cidade”, diz Silva.“Será um momento informal mas com objetivo enorme de encontrar soluções para trazer a requalificação de todo o centro de Belo Horizonte e fortalecer o comércio”, completa.

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