Imóveis de luxo em Belo Horizonte e condomínios em Nova Lima (MG), na Grande BH, e em Alagoas foram alvos de buscas da polícia federal em cumprimento aos mandados de prisão e de busca e apreensão contra uma organização que corrompia órgãos públicos e devastava o meio ambiente em Minas Gerais.

Ao todo foram expedidos 22 mandados de prisão, 15 pessoas foram presas e duas estão foragidas. Os policiais também cumprem 79 mandados de busca e apreensão. Até os andares dos órgãos ambientais da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) na Cidade Administrativa, em BH, foram alvo de devassa.

Carros, imóveis, valores em contas bancárias e dinheiro em espécie foram apreendidos ou bloqueados totalizando R$ 1,5 bilhão (valor do lucro estimado da organização desde 2019) na Operação Rejeito, desencadeada nesta quarta-feira (17/09).

A operação da Polícia Federal (PF), contou com a Controladoria-Geral da União (CGU), o Ministério Público Federal e foi autorizada por um colegiado de três juízes federais. Essa organização foi denunciada pela reportagem do Estado de Minas em abril de 2025. 

"A partir de agora, as pessoas detidas por mandados de prisão preventiva ficam à disposição do colegiado judicial, que avaliará a manutenção da prisão. As demais medidas restritivas às empresas e ao patrimônio também serão decididas pela justiça", afirma o diretor de Amazônia e Meio Ambiente da PF, em Brasília, Humberto Freire de Barros.

O diretor da PF afirma que ao encerrar essa fase da operação se inicia o momento de processamento do que foi apreendido e descoberto. "A maturação agora é a próxima fase da operação, com a análise de tudo o que é coletado e de tudo que é levantado nesse momento de desencadeamento. Não tem como precisar, porque há um tempo de maturação próprio de cada investigação", destacou o policial.

As prisões ocorridas em condomínios de Nova Lima buscaram a parte mineira dos empresários que operavam a organização, de acordo com a PF.

Os associados pela JHMinas Participações e depois pelas mineradoras Gute Sicht e Minerar, o ex-deputado João Alberto Paixão Lages e o empresário Helder Adriano Freitas, tiveram suas casas e escritórios como alvos da busca e apreensão e estão presos.

O cabeça da organização era o sócio-administrador e representante legal da mineradora Fleurs Global, Alan Cavalcante do Nascimento, preso em sua luxuosa casa em um condomínio de luxo em Maceió, onde nasceu e reside.

As empresas dele em BH e na Grande BH também foram alvos de busca e apreensão na operação.

Segundo declararam o diretor da PF e o superintendente em Minas Gerais, Richard Murad de Macedo, as propinas eram normalmente pagas em dinheiro ou em depósitos bancários a funcionários públicos e pessoas em cargos de confiança das administrações federais, estaduais e municipais envolvidas.


Como circulavam o dinheiro e propinas?


Utilizavam uma cadeia de mais de 60 empresas para ocultar a origem dos recursos que podiam ser pagos mensalmente ou por projetos específicos, segundo apurado pelos policiais. 

"A empresa tinha uma estrutura montada com várias camadas de intermediários para fazer que o fluxo financeiro chegasse ao destinatário final, muitas vezes que fosse objeto de pagamento de propinas, através de uma camada sucessiva de empresas, onde se tentava dificultar a rastreabilidade do recurso", disse Murad. 


"A estrutura criminosa contava com chefes, intermediários (lobistas) e, lamentavelmente, a participação de agentes públicos em várias esferas de governo e órgãos", destacou o diretor da PF. 


"Os agentes públicos usavam suas funções para aprovar projetos que, em condições normais, não seriam autorizados. A mineração ocorria em áreas de preservação, algumas já tombadas ou em processo de tombamento, podendo gerar catástrofes futuras", concluiu o delegado Humberto Freire. 

"O crime ambiental já é a terceira atividade criminosa mais rentável do planeta, segundo um relatório da Rede Mundial de Lavagem de Dinheiro divulgado recentemente. Este tipo de crime, movimentando 182 bilhões de dólares anualmente, não é cometido por amadores", destacou o diretor da PF.


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"A organização criminosa almejava lucros na casa dos bilhões de reais. A estimativa é de que, consolidadas as explorações com autorizações obtidas por corrupção, os ganhos pudessem chegar a mais de R$ 18 bilhões em exploração ilegal", indicou o superintendente da PF em Minas. 

Raio-X da Operação Rejeito

  • Alvos principais: empresários Alan Cavalcante do Nascimento (considerado o chefe), João Alberto Paixão Lages e Helder Adriano Freitas, além de servidores públicos de órgãos ambientais
  • Como agiam: o grupo corrompia agentes públicos para obter licenças de mineração em áreas de preservação ambiental. Utilizava uma rede com mais de 60 empresas para lavar o dinheiro e pagar as propinas, geralmente em espécie.
  • Balanço da operação: 15 pessoas presas e 2 foragidas, de um total de 22 mandados de prisão. Foram cumpridos também 79 mandados de busca e apreensão em Minas Gerais e Alagoas
  • Valores envolvidos: a PF bloqueou R$ 1,5 bilhão em bens da organização, valor estimado do lucro obtido desde 2019. O potencial de ganho com os projetos ilegais poderia ultrapassar R$ 18 bilhões
  • Crimes investigados: organização criminosa, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e crimes ambientais.
  • Locais de atuação: as buscas ocorreram em imóveis de luxo em Belo Horizonte, condomínios em Nova Lima e Maceió (AL), além da própria sede da Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais

Fontes: PF e TRF6

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