Hospital João XXIII desmente áudio sobre casos de intoxicação por metanol
Áudio cita coordenador de Toxicologia do hospital para justificar recomendações para evitar intoxicação. A Fhemig e a SES-MG negam as informações veiculadas
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Moradores de Belo Horizonte (MG) vivem momentos de apreensão com áudios que circulam pelo WhatsApp sobre internações no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII por suspeita de intoxicação por metanol. Mensagens também passavam informações privilegiadas de uma suposta reunião da coordenação de Toxicologia do hospital com uma equipe da Polícia Federal sobre recomendações estritas para os próximos dias na capital mineira.
Nos últimos dias, foram registrados nos estados de São Paulo e em Pernambuco mais de 40 casos possivelmente relacionados ao problema. Uma morte em São Paulo foi confirmada como relacionada à intoxicação. Outras sete mortes ainda estão em investigação. Os sintomas são parecidos com uma longa ressaca, o que pode dificultar a identificação.
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Na tarde desta sexta-feira (3/10), o Hospital João XXIII desmentiu as informações. Não há nenhuma confirmação de internação no HPS com sintomas relacionados à intoxicação por metanol ou apreensão de rótulos de bebidas alcoólicas que teriam sido divulgadas exclusivamente para a equipe do hospital.
Procuradas pela reportagem, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) e a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) informaram que não são verdadeiras as informações do áudio atribuídas ao coordenador do serviço de Toxicologia do Hospital João XXIII.
No áudio, amplamente compartilhado nas redes, um homem que não se identifica diz que o chefe da Toxicologia do João XXIII chegou em uma sala depois de uma reunião com a Anvisa e com a Polícia Federal e pediu que avisasse às pessoas que não é para fazer uso de bebida alcoólica nos próximos dias. O áudio é intitulado como "áudio confirmado pela equipe de tóxico do João XXIII". A SES-MG e a Fhemig, porém, dizem que não são verdadeiras as informações.
Operação da Polícia Federal
“A Polícia Federal acabou de apreender mais de 12 milhões de rótulos falsos, tá? E não tem dimensão da quantidade de bebidas adulteradas que tem aí fora e inclui destilado, cerveja, tudo!”, afirma a pessoa em trecho do áudio.
A reportagem também entrou em contato com o setor de comunicação da PF para averiguar a informação. Ao Estado de Minas, foi informado que não houve operação na Região Metropolitana para apreensão de rótulos de bebida alcoólica suspeitas de terem metanol na composição.
O que se foi confirmado é que, nesta sexta, a PF, em uma ação em conjunto com o Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa) recolheu amostras de bebidas na região de Poços de Caldas (MG), no Sul do estado, em Campinas (SP), e Chapecó (SC) e Joinville (SC).
Amostras de produtos que eram produzidos e armazenados foram recolhidas e análises vão confirmar se há substâncias proibidas ou em concentrações acima do limite legal. Ainda conforme a Polícia Federal, a operação busca avaliar a rastreabilidade dos lotes e a responsabilidade pela fabricação ou manipulação. A ação, porém, ainda não confirmou a presença de metanol nos itens.
Tratamento
O áudio segue com informações sobre o tratamento. “Além disso, ele [o coordenador] também informou que o tratamento é muito restrito, tá? Ele é feito com álcool 100% e não tem. Por conta de nunca ter tido tanta demanda, não tem tratamento disponível pra quantidade de casos de intoxicação por metanol que vai aparecer por aí. Não só aqui no João XXIII, mas no Brasil inteiro, porque a produção é demorada”, afirma.
A pessoa do áudio também conta que demora 15 dias para o envio do álcool necessário, então, com isso, os próximos 15 dias serão marcados por um “surto de casos de intoxicação por metanol” e que “não é pra fazer uso [de bebida]”.
A informação sobre o tratamento é real. De acordo com o Ministério da Saúde, há dois antídotos para a cura para a intoxicação: o etanol farmacêutico e fomepizol, mas apenas o etanol farmacêutico está disponível. O antídoto é administrado de forma oral ou intravenosa, em doses monitoradas por profissionais combinadas com hemodiálises, que filtram o sangue.
O que fazer?
O áudio viralizado também alerta para que jovens tomem cuidado em bebidas em uma festa do curso de medicina que acontecerá nos prócimos dias. Em nota, a SES-MG recomendou que a população não ingira bebida alcoólica de procedência duvidosa. Para além disso, caso sejam sentidos sintomas como náusea, vômito, dor abdominal, alteração visual e sonolência procurar imediatamente ajuda médica.
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O Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Minas Gerais (CIATox/MG) segue disponível 24h para orientação técnica e assistência a possíveis casos de intoxicação. Em caso de dúvidas, é possível entrar em contato com a CIATox/MG através dos números de telefone 0800- 722-6001 e (31) 3239-9308.
Apesar das negativas, o espaço segue aberto para possíveis pronunciamentos da SES-MG, Fhemig e Polícia Federal.